Gestão eficiente tira Paranaguá da lista de portos a serem privatizados, diz diretor da Antaq


Por Redação Publicado 17/03/2022 Atualizado 17/02/2024

O que é feito em Paranaguá tem sido modelo para o setor logístico do restante do Brasil. Quem afirma isso não é alguém da cidade, que quer “levantar a bola” do que está acontecendo por aqui, mas, sim, Eduardo Nery, diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), órgão federal responsável por regular e monitorar as atividades portuárias no país.

Em entrevista especial ao JB Litoral, pelos 87 anos do porto, ele destaca a importância de Paranaguá na estrutura nacional, fala sobre os números que impactam na balança comercial e comenta sobre a chance – cada vez mais remota e distante – de Paranaguá entrar no radar de privatizações. Enquanto vizinhos ao sul e ao norte, no caso, Itajaí e Santos, estão em processo para serem concedidos à iniciativa privada, a gestão ágil e eficiente do porto paranaense estaria afastando, cada vez mais, a possibilidade de desestatização. Confira os principais pontos da entrevista:

JB Litoral – Paranaguá foi o primeiro porto do Brasil a conseguir a autonomia administrativa. Qual a importância dessa conquista?


Eduardo Nery – Primeiro, quero dizer que é um prazer falar com o JB Litoral, especialmente para tratar de uma celebração, nessa edição comemorativa. Sobre a autonomia administrativa, é um feito muito significativo do Porto de Paranaguá ter sido o primeiro porto organizado a receber essa delegação de competência para realizar determinados atos de gestão que, até então, estavam concentrados no Ministério da Infraestrutura. Isso mostra que se profissionalizou, que vem aprimorando suas bases de governança. Com isso, está autorizado a realizar procedimentos licitatórios e a tornar operacionais áreas que estavam ociosas ou não contavam com instrumentos jurídicos que dessem a segurança necessária. É um reconhecimento quanto à boa gestão que o povo de Paranaguá vem desempenhando a partir de profissionais com níveis técnicos adequados.

JB Litoral – Como foi possível chegar a esse nível?


Eduardo Nery É importante reconhecer a qualidade do quadro do Porto de Paranaguá, iniciando pela figura do seu presidente, Luiz Fernando Garcia, que é um técnico reconhecido no setor e que tem desempenhado muito bem o seu trabalho, juntamente com a sua equipe, também dotada de profissionais de alto nível. Essa gestão traz resultados que se traduzem também nos números expressivos apresentados, ano a ano, na sua movimentação.

JB Litoral – Por muito tempo, Paranaguá foi reconhecido como um dos maiores portos de grãos do país. Mas, ao longo dos últimos anos, as cargas estão sendo diversificadas. Qual o impacto disso na cadeia logística?


Eduardo Nery – A gestão vem tentando atrair novos negócios. E com isso, apesar da tradição em movimentar granéis sólidos vegetais, nos anos mais recentes, o porto se diversificou. Também já era uma referência em granéis sólidos minerais, como fertilizantes, mas se destacou ainda mais nessa área. Sobre a movimentação de carga conteinerizada, os volumes são cada vez mais expressivos, principalmente a partir de investimentos privados significativos pelo TCP. Para terminais de granéis líquidos, há uma grande licitação prevista, o PAR50, que irá trazer mais investimentos, mais de R$ 300 milhões de investimentos para tornar Paranaguá uma importante alternativa, principalmente para suprir demandas não atendidas pelo porto de Santos. A atração de novas cargas foi feita por Paranaguá com muito sucesso nos últimos anos.

JB Litoral – O recente balanço das movimentações portuárias do Brasil mostra aumento em quase todas as áreas, com a exceção, por exemplo, da exportação de milho. De que forma Paranaguá contribuiu para esses números positivos?


Eduardo Nery – Paranaguá está apresentando dados muito significativos em relação à movimentação de carga e esse rendimento tem sido capturado pelo relatório de desempenho portuário da Antaq. Em relação aos últimos anos, alguns dados merecem ser comentados. Paranaguá é reconhecida pela movimentação de soja, mas vale lembrar o tamanho do aumento. Entre 2010 e 2021, houve um crescimento de quase 160% em toneladas transportadas. Na movimentação de contêineres, se tornou o segundo maior porto público, com crescimento de 140% nos últimos onze anos. Da mesma forma, fertilizantes, que já é uma potência, teve alta de 272% no volume movimentado de 2010 para cá. A cabotagem também cresceu muito – só em contêineres por 422% a mais. São alguns dados representativos que mostram quanto o porto de Paranaguá, que sempre foi um dos mais importantes do Brasil, tem se mantido e se tornado mais produtivo e eficiente – e, assim, cada vez mais importante para cadeia logística nacional.

“Paranaguá é uma das peças mais importantes na engrenagem da movimentação de cargas no Brasil”

Eduardo Nery, diretor-geral da Antaq

JB Litoral – Vários portos, como Santos e Itajaí, estão em fase de discussão para que sejam privatizados. Como está Paranaguá neste cenário?


Eduardo Nery – O Tribunal de Contas da União e avaliações internas mostram que processos ligados a alguns portos são demorados e complicam a operação. Isso nos levou a uma busca por eficiência. Mas, fazendo a ligação com a sua primeira pergunta, Paranaguá está no caminho oposto disso, pois se destaca como uma referência positiva em termos de gestão, de atuação profissional, conseguindo promover a ocupação de áreas antes não exploradas ou então exploradas por meios de contratos precários e, com isso, tornando o porto cada vez mais eficiente, atraindo investimentos e tornando o porto compatível com o nível de desempenho que se espera de um ativo dessa importância para a cadeia logística brasileira. Então, certamente, é por essas razões que Paranaguá, atualmente, não se encontra na relação de portos a serem concedidos. Não há nenhum movimento, nenhum estudo em andamento, voltado à concessão do porto de Paranaguá.