Governo do Estado contrata estudo para retomada das obras no Centro da Juventude


Por Luiza Rampelotti Publicado 13/07/2020 Atualizado 15/02/2024

Desde 2009, quando foi firmado o convênio de R$ 2,63 milhões, entre a prefeitura de Paranaguá e o governo do Estado, para construir um Centro da Juventude na cidade, o espaço de quase sete mil metros quadrados, ao lado do Colégio Estadual Carmen Costa Adriano, no bairro do Bertioga, está sem uso e, desde 2011, completamente abandonado. Porém, neste ano, o governador Ratinho Junior (PSD) determinou a retomada das obras no local.

Para resgatar a obra do Centro da Juventude, a Secretaria de Estado da Justiça, Família e Trabalho (SEJUF) realizou o procedimento licitatório nº 08/2020, em abril, para a contratação de empresa que elabore um laudo técnico, com o objetivo de inspeção e diagnóstico dos elementos estruturais necessários e suficientes para a conclusão da obra. Ou seja, o objetivo é avaliar se a edificação pode ser retomada do ponto em que parou.

A homologação do contrato com a Dal Forno & Martins Engenharia Ltda, empresa vencedora, aconteceu na sexta-feira (03) e, a partir de agora, a análise deve ser concluída em até 120 dias (04 meses) corridos. O valor total pago à empresa é de R$ 117.323,40, e deve contemplar a inspeção dos elementos estruturais, painéis de vedação, execução de ensaios técnicos, análise e compatibilização entre os projetos e sua real execução, bem como elaboração de demais elementos técnicos (possível projeto estrutural complementar de recuperação, reforço e/ou correção, etc.) necessários para o término da obra.

De acordo com a SEJUF, a empresa deverá elaborar um orçamento estimativo de todos os serviços necessários para que o Centro da Juventude possa ser finalizado e entregue, finalmente, em funcionamento. “Inclusive eventuais recuperações/reforços, demolições/substituição de elementos e aqueles ainda pendentes de execução”, diz.

Entenda o caso

O Centro da Juventude foi proposto, inicialmente, pelo ex-governador Beto Richa (PSDB), tendo como objetivo oferecer atividades educacionais, culturais e de lazer em municípios com alto percentual de homicídios entre a população de 15 a 19 anos, com registros de apreensões de adolescentes com drogas e internações em Centros de Socioeducação, além de renda per capita entre R$ 600 e R$ 1.400.

O espaço foi projetado para atender até mil adolescentes entre 12 e 18 anos de idade e, em Paranaguá, deveria disponibilizar, também, cursos profissionalizantes, para que jovens em situações de exposição ao risco e vulnerabilidade social realizassem ações que favorecessem sua formação pessoal, profissional e política.

A estrutura contempla laboratórios de informática, biblioteca, auditório, salas multiuso, bloco para atividades esportivas, praça, teatro de arena, pista de skate e ginásio poliesportivo, além de piscina. No entanto, as obras que abrigariam toda essa construção estão abandonadas há mais de nove anos, desde junho de 2011.

Em 2010, os funcionários da empresa Cima Engenharia deram início à primeira fase dos trabalhos. Em junho de 2011 houve a paralisação, com dois mil metros quadrados de área construída, após a prefeitura solicitar a rescisão do contrato com a empreiteira.

O recurso para a construção era proveniente da Secretaria de Estado da Família e Desenvolvimento Social (SEDS) e foi repassado à prefeitura, que seria responsável por pagar a empresa vencedora da licitação. Porém, houve um impasse entre o Executivo de Paranaguá e a empreiteira, que recebeu cerca de R$ 580 mil por concluir apenas 24% da obra.

Estado tem dois anos para finalizar a obra

De acordo com a prefeitura, atualmente, o espaço pertence ao Estado, uma vez que o Município realizou a cessão real de uso do local, permitindo, assim, que o governo estadual conclua a obra. Entretanto, caso a obra não seja finalizada em quatro anos (contados a partir de 2018), o terreno retorna para Paranaguá.

Os moradores da vizinhança, na Vila dos Comerciários, se queixam da “herança maldita” que o espaço abandonado deixou para a região. Muitos deles já chegaram a pedir, inclusive, que a estrutura fosse demolida para evitar que o local continue sendo utilizado como centro de prostituição e ponto para tráfico e uso de drogas, além de mocó para criminosos que praticam constantes roubos na região, segundo eles.

Raquel Santana Martins, diretora do Colégio Carmem Costa, que fica ao lado da edificação, e conta com mais de 1.200 alunos matriculados – em casa, no momento, devido à suspensão das aulas em razão da pandemia do novo coronavírus – relata vários incidentes que aconteceram por conta da construção abandonada.

Ela diz que, além do local ser um centro de prostituição, uso de drogas e bebidas, alunos da escola já chegaram a se ferir após tentar subir na estrutura. “Um aluno tentou subir, mas caiu de pé e quebrou a perna, teve que ficar seis meses em casa. Os alunos têm o hábito de escalar a estrutura, mas essa criança que se machucou é muito ingênua, nunca deu problemas. Ele subiu por curiosidade mesmo”, conta.

A diretora comenta que outro problema diz respeito aos alunos que gazeavam aulas para ficar no espaço baldio. “Diversas vezes já pegamos alunos de sexto ano usando o local para ter relações sexuais. A polícia já trouxe nossas crianças, usando drogas ali, para dentro da escola. Não é nem apenas à noite, mas à luz do dia temos problemas por conta dessa situação. Uma menina do oitavo ano estava indo embora, 16h, quando puxaram ela para dentro da construção, que tem várias repartições. A sorte dela foi que a criançada começou a gritar e corremos para ver, mas o homem já havia fugido. Além de roubos constantes e, em 2018, uma aluna sofreu um sequestro relâmpago atrás do local”, declara.