Idosa tem alta e morre depois de ser derrubada da maca, em casa, por motorista da ambulância


Por Flávia Barros Publicado 01/03/2022 Atualizado 17/02/2024

Esta reportagem foi atualizada com a resposta enviada pela prefeitura de Paranaguá

Uma mãe dedicada e avó amorosa, de saúde robusta, com lucidez e memória de impressionar até os mais jovens. Assim descreve a aposentada Ana Machado, ao falar de sua mãe de 93 anos, a Dona Rosália Martins Machado, casada há 70 anos com seu companheiro de vida. Em 23 de fevereiro, Rosália teve alta da Unidade de Pronto Atendimento de Paranaguá (UPA), onde estava internada desde o dia 18 quando procurou atendimento com queixas de dores no peito e inchaço nas pernas.

Filha registrou Boletim de Ocorrência após a morte da mãe e cobra justiça

Segundo a família, na UPA foi diagnosticada com infecção urinária, da qual a idosa recebeu tratamento e ficou em observação, até ser liberada para finalizar os cuidados em casa, que envolviam medicação e curativos nas pernas. Até aí, tudo bem, caso a Portaria 2.214/2017, do Ministério da Saúde não estivesse sendo descumprida.

A idosa foi levada para casa em uma ambulância do município, apenas com o motorista, quando a determinação do SUS é que as viaturas desse tipo devem ser tripuladas por dois profissionais, sendo um o condutor e o outro, um técnico ou auxiliar de enfermagem.

Como ela ainda estava tratando do inchaço da perna e com dificuldades de andar, os funcionários da UPA solicitaram uma ambulância para trazê-la em casa. A ambulância veio apenas com o motorista. Chegando em casa, sem esperar eu encostar o sofá para facilitar o transporte da maca até o quarto, o motorista soltou as fivelas que prendiam ela à maca, o que resultou na queda dela. Minha mãe bateu a cabeça na quina de uma mesa e no chão, sofrendo fratura na parte traseira, no lado direito e na parte esquerda frontal da cabeça. Na hora do fato, nem raciocinei, pois acredito que o correto seria o motorista colocá-la novamente na ambulância e levá-la para fazer uma tomografia, mas ele simplesmente a colocou na cama e foi embora, sem prestar socorro”, contou ao JB Litoral Ana Machado, filha de Rosália.

QUEDA, OMISSÃO E MORTE


A filha também conta que, na hora, não teve noção da gravidade da situação. “Como ela sofreu pela falta da família na UPA e estava consciente, conversando normalmente, tratei o ferimento em casa, colocando compressas para desinchar o hematoma que formou com a pancada na cabeça, pois a minha inexperiência também não me fez avaliar a gravidade do fato”, disse a filha, que é servidora aposentada da prefeitura de Paranaguá.

No final do dia seguinte, portanto, dia 24 de fevereiro, Dona Rosália começou a ter alterações no comportamento. “Ela começou a falar de coisas desconexas e ter atitudes estranhas. Pela manhã fui até o posto próximo à minha casa, relatei o fato e imediatamente chamaram o SAMU. A levaram para o Hospital Regional do Litoral, lá fizeram exames e tomografia. Foi constado um sangramento na parte direita e na parte traseira da cabeça, ela já estava com a parte esquerda do corpo paralisada, segundo o médico, devido à lesão do tombo. Ela ficou sendo observada pelo neurologista, mas infelizmente faleceu nesse domingo”.

Para a família não há dúvida, Dona Rosália morreu devido à queda e à omissão. “Infelizmente ela foi vítima da economia de profissionais no transporte de uma pessoa debilitada, no despreparo e pressa do motorista e na omissão de socorro mesmo. Se ele tivesse socorrido a minha mãe, chamado outra ambulância ou me orientado a chamar, ela poderia estar viva. Estamos todos inconsoláveis, pois ela havia voltado para a casa lúcida, feliz e quase recuperada da infecção”, desabafou a única filha da Dona Rosália.

CASO DE POLÍCIA


Indignada com a morte da mãe, a aposentada procurou a polícia e registrou um Boletim de Ocorrência, ao qual o JB Litoral teve acesso. Nele, Ana relata o que ocorreu e que no hospital foi identificado o trauma em crânio, ocasionado pela queda da maca.   

Minha mãe não tinha diabetes e nem pressão alta, uma boa saúde e ótima memória, de uso contínuo só tomava medicamento para tireoide. O hospital não me disponibilizou o laudo da morte e nem a certidão de óbito, mas a médica me disse que a lesão na cabeça levou à morte”, finalizou Ana, que vai buscar a justiça. “Foi a vida da minha mãe, vamos procurar justiça para que isso não aconteça com outras pessoas”, garantiu.

RESPOSTA

O JB Litoral procurou a prefeitura de Paranaguá para saber o que está sendo feito em relação à denúncia da família e, por meio da secretária de Saúde (SEMSA), eles enviaram a resposta.

Confira o nota na íntegra:

A Secretaria Municipal de Saúde informa que uma idosa de 93 anos foi atendida na UPA no dia 20 e permaneceu na unidade de Pronto Atendimento até quarta-feira, 23. Após a alta médica com orientações aos familiares quanto aos cuidados e retorno, caso necessário, a ambulância levou a idosa acompanhada pela filha até sua residência.

Na sexta-feira, 25, dois dias após a consulta, a família acionou o Samu para novo atendimento à paciente que foi internada no Hospital Regional do Litoral e veio a falecer posteriormente.

Uma página em redes sociais tem plantado informações inverídicas sobre o ocorrido. A Secretaria Municipal de Saúde ressalta que divulgar informações falsas é crime passível de responsabilidades legais.

A pasta salienta ainda que as pessoas devem sempre buscar a informação em mídias oficiais e evitar compartilhar fake News. O compartilhamento também pode ser enquadrado como crime de divulgação falsa. 

Em respeito a paciente e sua família, não serão divulgados  laudo médico e clínico sobre o estado de saúde da paciente verificados antes do óbito, seu nome ou outras informações pessoais.

A Secretaria Municipal de Saúde lamenta o falecimento da paciente e se solidariza com sua família.