Por Marinna Protasiewytch
Imagine você ter o privilégio de passar parte da sua infância se banhando nas águas limpas do Rio Itiberê. Curtir a prainha e o cais do centro histórico de Paranaguá em sua naturalidade, com pouca poluição e uma vista invejável da linda Ilha dos Valadares. Essa, é uma história real, que aconteceu há muitos anos e ajuda a contar a transformação de um dos principais pontos turísticos parnanguaras até hoje.
“Quando eu era menino, aprendi a nadar nessa prainha do estaleiro, onde era o antigo porto de Paranaguá. A piazada da região se reunia e brincava ali, era um ponto de lazer para a criançada, próximo ao antigo porto da cidade, que era ali perto da matriz. Depois, a prefeitura começou as obras de aterramento, aumentando a terra firme por sobre a água e dando esse espaço que hoje temos a praça”, contou José Maria Faria de Freitas, mais conhecido como Zé Maria, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá (IHGP) e um dos guardiões da história da cidade por meio de registros e fotografias.
Considerada um grande feito para a cidade, a praça que, inicialmente, tinha o nome de 29 de julho, foi renomeada pelo ex-prefeito Edison de Oliveira Kersten, em 2016, em homenagem ao prefeito que a inaugurou, Mario Roque, falecido dia 1º de julho de 2013, com seis meses do seu terceiro mandato, gestão onde Kersten, como vice-prefeito, assumiu a cidade após seu falecimento.
“Eu acho esse espaço a coisa mais maravilhosa que temos, mas eu só sinto que ainda não completaram. Imagino uma avenida contornando o rio da beira do Aeroparque até a rua da praia, fazendo daquela via um acesso ao politurístico, seria legal, mas hoje, com o crescimento da cidade, parece difícil de acontecer”, pontou Zé Maria.

O JB Litoral teve acesso, com exclusividade, aos planos para o espaço agora, em 2021. O local deverá entrar, novamente, no calendário de obras de Paranaguá. Reeleito, Marcelo Elias Roque, filho do ex-prefeito e homenageado, dará início a mais uma etapa de melhoria da área.
Segundo Ricardo Feitosa Antunes, secretário Municipal de Planejamento e Gestão, um primeiro projeto de recuperação e benfeitoria foi enviada para a conferência dos órgãos competentes. “A proposta é melhorar o local para o uso da população em geral e para os eventos que ocorrem periodicamente por lá. O projeto encontra-se em desenvolvimento, em fase de aprovação nos órgãos de patrimônio histórico estadual e federal”, destacou Ricardo Feitosa Antunes, e por isso ainda não há previsão de início das obras.
Reforma da Praça Mário Roque
Por ter uma importância imensurável para o turismo de Paranaguá, sendo local de encontro de motociclistas, festas com artistas nacionais e internacionais, a praça passará por mudanças que deverão facilitar e atender as demandas do local. “A revitalização consiste em reconstrução do palco Tutóia para utilização em eventos de porte pequeno e médio, recuperação da faixa de circulação de veículos, das redes de drenagem e da iluminação, implantação de calçadas, ciclovia e paisagismo. Implantação de mobiliário urbanos e espaços de convivência e permanência”, detalhou o secretário Municipal de Planejamento e Gestão, que ainda não pode passar mais detalhes sobre o investimento e um esboço de como deverá ficar a praça, já que o projeto está em fase inicial de aprovação.
No entanto, o que se pode esperar é que o charme da tradicional rua de paralelepípedos deve continuar por ali. “Não serão removidos os paralelepípedos da área de eventos da praça, e não será utilizado pavimento asfáltico”, enfatizou Ricardo Feitosa Antunes. Com uma vista diferenciada, a proposta não deverá contemplar nada que prejudique a amplitude da visão de quem visita o local, sendo preservado o espaço aberto criado.
Além disso, com a crescente demanda por shows e grandes eventos na região, com a mobilização de milhares de pessoas, a estrutura de energia deverá ser mudada, para que não se sobrecarregue e evite problemas elétricos. “Está previsto adequação de toda a rede elétrica para atendimento dos eventos que ocorrem no local”, finalizou o secretário.

Surgimento da praça
Inaugurada em 29 de julho de 1998, entre as comemorações dos 350 anos de Paranaguá, a praça histórica da cidade nem sempre foi do tamanho que é hoje e passou por décadas de mudanças até chegar a se tornar um ponto turístico, com vias para carros e grande espaço para eventos.
“Ali era uma área de descarga dos colonos, com um cais, estacionamento para carroça, antes do aterro. Mas ao longo dos anos 70 e 80, foi implantado um aterro e a área aumentou, ficando um local extenso e aberto durante muito tempo. Então, depois que o Costinha [ex-prefeito de Paranaguá] aterrou, os prefeitos subsequentes deram continuidade à utilização do espaço. Mas ninguém fez com o local o que o ex-prefeito Mario Roque fez. Ele transformou a praça, urbanizou ela e tornou um grande centro de eventos”, descreveu Zé Maria.
Segundo a Secretaria de Cultura de Paranaguá, a praça está localizada “na área mais importante do setor histórico de Paranaguá, o projeto de urbanização deste aterro considerou o importante papel desse local na história da cidade. Valorizando as perspectivas do Casario e seu entorno, sem obstáculos visuais, tendo como ponto focal o Colégio dos Jesuítas”. Todo urbanizado, o Aterro do Rio Itiberê foi iniciado na gestão do prefeito Constantino João Kotzias, conhecido como Costinha, depois dele começaram as edificações naquele local com o prefeito José Vicente Elias construindo o Mercado de Peixe “Brasilio Abud”. O prefeito Waldir Salmon ergueu a Rodoviária Municipal e o Ginásio de Esportes. E Carlos Alberto Tortato deu início às obras da repaginação da praça e o prefeito Mário Roque finalizou e inaugurou o local de eventos do Centro Histórico, na sua primeira gestão como prefeito da cidade.

Como tudo começou
Em entrevista exclusiva ao JB Litoral, o ex-prefeito de Paranaguá e um dos gestores públicos envolvidos no processo de transformação da praça, Carlos Antônio Tortato, contou como teve início a idealização do local. “Ali era um lugar bastante insalubre, e sempre houve a ideia de dar uma humanizada. Nós, então, contratamos o arquiteto Abrão Assad, [conhecido como uma espécie de Niemayer das Araucárias, por ser pai de obras como o Jardim Botânico e a Rua XV de Curitiba], e ele desenvolveu o projeto de urbanização do aterro do mercado. Antes de mim, o Vicente Elias já havia feito uma barragem de contenção, depois da rua onde está o palco. E nós começamos, com as dragas da prefeitura, a puxar areia para aterrar em definitivo todo o piso da praça”, explicou Tortato.
“A nossa contribuição foi essa. A gente entendeu que era um local importante, muito significativo para a cidade, que merecia um projeto de envergadura, para aproveitar bem o espaço. É evidente que a praça está dentro de um contexto maior da recuperação e da valorização do patrimônio histórico da cidade. A nossa maior sorte foi que o Roque deu toda a continuidade a isso. Ele assumiu e manteve com o mesmo propósito de recuperar o centro histórico”, salientou o ex-prefeito.