Lenda de ossadas de fiéis, embaixo do altar na Igreja Matriz de Guaratuba, é real, turistas podem ver de perto


Por Diogo Monteiro Publicado 28/04/2021 às 18h04 Atualizado 16/02/2024 às 00h48
igreja bicentenaria

Por Marinna Protasiewytch

Para quem chega em Guaratuba pelo ferry boat, logo se depara com a Igreja Matriz da cidade. De edificação simples, com influências portuguesas, o local demonstra ter sido construído há centenas de anos. Segundo o documento de tombamento, registrado pela Secretaria de Cultura do Estado do Paraná, o processo para transformá-la em patrimônio cultural teve início em 1972, mas a igrejinha foi construída em meados do século XVIII, antes mesmo da fundação do município.

Para os turistas, e também moradores, uma história que rondou sempre a construção agora vem à tona como sendo um fato e não mais uma lenda. A prática era comum até o século XIX, quando católicos enterravam seus fiéis dentro das igrejas. “Antigamente nossa cidade não tinha cemitério, e o interior da igreja então fazia esse papel. As pessoas eram sepultadas no interior da nossa igrejinha, e, conta a história, que as com maior poder aquisitivo sepultavam seus mortos mais próximos do altar, as de menor poder aquisitivo mais no miolo e os próprios escravos pra fora dela, com o decorrer do tempo até os anos 80”, contou Maria do Rocio Bevervanso, secretária de Cultura e Turismo de Guaratuba.

Para preservar essa parte da história, o padre Francisco Santos Lima, ordenou a retirada das ossadas, fazendo a reunião desses restos mortais e colocando-os dentro de um caixão em 2014. “Elas foram recolhidas e, após uma celebração, padre Francisco teve a preocupação de guardá-las num próprio ataúde. Ele teve o cuidado de fazer um cerimonial fúnebre com relação a essas ossadas encontradas, e elas estão até hoje guardadas sob o altar-mor”, revelou a secretária que também é historiadora.

Para conferir o relato, o JB Litoral esteve na igreja Matriz e pode observar a tábua solta, bem em frente ao altar onde as celebrações da missa são realizadas, atualmente pelo padre Álvaro Cavazzani. Embaixo do assoalho é possível ver os escritos, o pequeno caixão e as madeiras originais da fundação do lugar.

Padre Álvaro Cavazzani pároco da igreja Matriz de Guaratuba

De quem seriam as ossadas?

Conforme a tradição cristã, o sepultamento dentro das igrejas era realizado por toda a comunidade. Mas no caso de Guaratuba, existe a especulação de que o “único casal, um dos fundadores, da família Miranda Coutinho, solicitou que quando eles viessem a óbito, tanto ele, quanto a esposa, os seus restos mortais fossem então sepultados nesse local”, revelou Rocio.

A crença era de que quanto mais perto a pessoa fosse enterrada do altar, mais próxima aos santos ela estaria, consequentemente, mais próxima do céu também. Em meados dos anos 90, um cemitério foi fundado e a prática deixou de ser realizada. Até porque, muitos anos depois, se teve a confirmação de que era considerado um ato que poderia afetar a saúde da população.

Ossadas encontradas, em 2014, foram recolocadas em um ataúde abaixo do altar-mor

A igreja Matriz pede ajuda

Apesar de ser parte histórica da cidade, o patrimônio, que é preservado pelos missionários redentoristas, demonstra certas fragilidades. A construção bicentenária possui problemas no teto e nas próprias paredes. Padre Álvaro pede ajuda da comunidade para que o espaço, rico em tanta história, não sofra ainda mais com a ação do tempo, principalmente em se tratando de um local exposto à maresia e os efeitos das chuvas constantes.

“Guaratuba é um dos lugares mais belos desse país. Só por Deus mesmo existe uma beleza tão grande. Mas, principalmente neste tempo de pandemia, nós estamos vivendo uma grande dificuldade na nossa paróquia, que é bicentenária. Temos um projeto de restauração da igreja, de R$134 mil, mas não temos encontrado apoio suficiente para fazer isso acontecer. A comunidade igreja, não tem recursos para isso”, lamentou o redentorista.