Lendas que marcaram o folclore Parnanguara


Por Luiza Rampelotti Publicado 21/08/2020 às 17h28 Atualizado 15/02/2024 às 14h47

Em homenagem ao Dia do Folclore, 22 de agosto, o JB Litoral vai relembrar as lendas de Paranaguá que marcam a história da cidade.

O Pé Redondo e o Baile do Fandango


Em meados dos anos 60, durante uma sexta-feira ensolarada, num dia de quaresma, chegou um forasteiro a Paranaguá, um homem muito bonito e misterioso, que chamava a atenção por onde passava, veio a trabalho e buscando muito diversão.

Ele parou em uma lanchonete e pediu um “café pretinho, sem leite e sem açúcar”, e quis saber se, na cidade, havia algum baile de fandango naquela noite. O atendente respondeu prontamente que não, pois era dia santo. Ao receber o café, notou que veio com leite e açúcar, mas não quis trocar, deixando na xícara apenas o leite e o açúcar.

Inconformado porque não haveria baile naquele dia, resolveu alugar um clube e fazer sua própria festa. “O baile foi realizado no Clube Estevão, onde hoje é o Nogaroto, na Avenida Roque Vernalha. Era um dia santo e o clube estava cheio, o homem bailou com todas as mulheres do salão, e se apaixonaram por ele. Porém, uma delas notou que seu pé era redondo igual ao pé de um bode e alertou a todos. Neste momento, houve um estouro e a casa começou a afundar, arrastando todos os infelizes festeiros infiéis ao inferno. O homem era o próprio diabo!”, conta a Historiadora do Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá (IHGP), Sônia do Russio Machado.

Esta é uma das histórias que fazem parte do folclore de Paranaguá e são passadas de geração para geração. Essas as lendas vão sendo transformadas pouco a pouco sempre por quem conta o conto, mas sem perder uma de suas principais características, a fantasia. Atualmente, moradores do bairro Costeira afirmam que o Pé Redondo ainda pode ser visto em algumas noites do ano pela região.

Conto da Caveirinha

No século XVII, em Paranaguá, um escravo muito tagarela vinha da Fonte Velha trazendo um balde d’água sobre a cabeça. Atravessando o “Campo Grande”, lugar onde está o Hotel Camboa, avistou um esqueleto humano encostado numa velha fiqueira. Assustado, porém muito curioso, o escravo falador por brincadeira disse ao esqueleto:

– Caveirinha, quem te matou?

– Foi a “língua”, ouviu o esqueleto responder.

O escravo apertou o passo e seguiu seu caminho, não por medo, mas para chegar mais cedo na casa do seu senhor, pois queria estava doidinho para soltar a língua, como sempre fazia, mentindo descaradamente. Primeiro, contou aos companheiros de cativeiro, afirmando que havia falado com uma caveira. Alguns começaram a rir, outros nem deram atenção ao assunto, pois já conheciam a fama do escravo tagarela. Porém, um deles contou ao senhor da fazendo a história que ouviu.

O patrão, já cansado de ouvir tantas mentiras deste escravo, mandou chamar o linguarudo e perguntou sobre o assunto. Prontamente, o prisioneiro confirmou e jurou até mesmo por Deus que tudo era verdade. Inconformado, o amo levou o escravo até o Campo Grande e lá fez uma promessa: “Se o esqueleto ainda estiver lá e não responder à sua pergunta, eu mandarei amarrá-lo ao tronco da figueira, junto ao esqueleto, para receber 100 chicotadas, a fim de nunca mais mentir”.

E para lá seguiram todos, o patrão, os empregados e os escravos, inclusive o falador. E de fato, encontraram a caveira encostada na velha figueira, mas ela não respondeu a nenhuma das perguntas do escravo linguarudo, que não aguentou o castigo do senhor da fazenda e morreu.

Depois que todos foram embora, deixando o homem sozinho amarrado ao tronco da árvore, ouviu-se uma voz, a da caveirinha:

– Eu não te disse que quem me matou foi a língua?!

A Lenda das Rosas Loucas

O Santuário de Nossa Senhora do Rosário do Rocio, localizado em Paranaguá, atrai inúmeros fiéis durante todo o ano e são muitas as histórias dos devotos que acreditam terem visto a imagem da Virgem em diversos lugares.

Conta a lenda que as margens da baía de Paranaguá, no bairro Rocio, viviam humildes pescadores que tiravam do mar o seu sustento. Certa vez, no mês de novembro, em uma das calmarias de verão, eles lidavam com suas redes, já lançadas ao mar por várias vezes, sem mesmo pegar um único peixe. Eles acreditavam que Deus os havia esquecido, bem como a seus filhinhos que, em casa, estavam com muita fome.

Mesmo desanimados, resolveram lançar a rede pela última vez sobre o mar onde a lua reluzia seus raios prateados. Alguns minutos passaram, e os pescadores ouvindo apenas o marulhar constante das pequeninas ondas, mas quando puxaram a rede, sentindo-a leve, e perceberam que não haviam pescado nada. Porém, ela trazia algo pequeno que, entre as malhas, não se podia reconhecer, mas que, aberta a rede na canoa, se depararam com uma pequena imagem, a qual denominaram de Virgem do Rosário do Rocio.

Atônitos e com uma sensação inexplicável, colocaram a imagem no fundo da canoa e novamente lançaram a rede ao mar, este mesmo mar que lhes tinha sido tão ingrato. Mas desta vez, a rede vinha transbordada de peixes. A Virgem havia feito seu primeiro milagre. Os pescadores trouxeram a imagem para a terra, a fim de venerá-la.

No lugar onde hoje se encontra a igreja, morava, no século 17, em 1648, um pescador africano, conhecido por Pai Berê, que, ao saber do extraordinário e precioso achado, prontificou-se a fazer uma igrejinha de sapé, junto a seu casebre. Dias depois, Nossa Senhora do Rocio passou a morar na sua primeira habitação: um humilde templo de pau-a-pique, feito pelas calosas mãos de Pai Berê.

A Historiadora Sônia do Russio Machado conta que, após este feito, os nobres de Paranaguá, que já contavam com uma Catedral, enciumados, decidiram trazer a imagem para o templo localizado no centro, que era grande e bonito, diferente do simples, feito no Rocio. “O povo queria que a imagem ficasse na Catedral, e trouxeram. Quando chegava de madrugada, eles viam uma luz, como uma estrela cadente, que saía desta igreja e batia em um roseiral, no Rocio. No dia seguinte, a Santa estava caída embaixo desta roseira. E esta ida e vinda de Nossa Senhora do Rocio aconteceu por um tempo, até que eles entenderam que a imagem queria ficar lá no Bairro do Rocio e, então, no local desta roseira, foi erguido o Santuário de Nossa Senhora do Rocio. E assim surgiu a lenda das Rosas Loucas”, conta Sônia.