Lideranças femininas destacam o que têm para comemorar neste 08 de Março


Por Redação JB Litoral Publicado 08/03/2019 Atualizado 15/02/2024

Apesar de muitas pessoas considerarem o 08 de Março apenas uma data comemorativa, de homenagem às mulheres, o dia, diferentemente de outras datas festivas criadas pelo comércio, têm profundas raízes históricas. Surgiu no contexto das lutas de mulheres que trabalhavam em fábricas nos Estados Unidos e Europa, por melhores condições de vida e de trabalho.

Oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975, o chamado Dia Internacional da Mulher é celebrado desde o início do século 20, na maioria dos países. Com o avanço do debate sobre o feminismo e violência contra a mulher, a data é cada vez mais lembrada como um dia para reivindicar igualdade de gênero, com protestos ao redor do mundo.

Mesmo sendo maioria da população, as mulheres ainda sofrem com a falta de representatividade em vários espaços, embora existam aquelas, uma minoria, que ocupem ambientes políticos e de poder. Entretanto, ainda há muito o que avançar para que haja, realmente, igualdade entre os gêneros, especialmente dentro da sociedade, do mercado de trabalho e da política.

Além disto, a violência contra a mulher ainda é um pesadelo que assombra grande parte do gênero, uma vez que, nos últimos 12 meses, 1,6 milhão de brasileiras foram espancadas ou sofreram tentativa de estrangulamento, enquanto 22 milhões (37,1%) passaram por algum tipo de assédio. Entre estes casos, 42% ocorreram no ambiente doméstico e, após sofrer a violência, mais da metade (52%) não denunciou o agressor e nem procurou ajuda. Os dados são de um levantamento do Datafolha, realizado em fevereiro deste ano.

Apenas nos três primeiros meses de 2019, mais de 200 mulheres foram vítimas de feminicídio (assassinato de mulheres em contextos discriminatórios), segundo o pesquisador Jefferson Nascimento, doutor em Direito Internacional pela USP, com base no noticiário nacional.

O JB Litoral conversou com mulheres representantes de importantes segmentos sociais, para saber o que elas têm para comemorar nesta importante data. Confira as respostas:

Delegada do NUCRIA, Maria Nysa Moreira Nanni – Foto: Prefeitura de Paranaguá

Na verdade, a comemoração é reforço de luta por direitos. Em termos de conquistas de direitos, nenhuma delas é perene sem luta, sem confronto com os interesses de destruição da previdência pública, da aposentadoria, da autonomia da mulher sobre sua vida e seu corpo. Há muito pelo que lutar. Hoje não é exatamente um dia de comemoração.

Deputada Federal, Christiane Yared

Desde o início do século 20, com os inúmeros protestos de mulheres por melhores condições de trabalho, é notório o avanço que conquistamos quando o assunto são nossos direitos. Porém, cem anos depois, ainda temos que lidar com algumas discrepâncias como, por exemplo, mulheres ganhando menos que homens exercendo a mesma função. Nossa luta por direitos é uma questão de respeito e reconhecimento. É absurdo, mas uma realidade que nossas vidas sejam ainda tidas, por alguns, como inferiores. No Brasil, acontecem 822 a 1.370 estupros por dia. Em 2017, 177 mulheres foram espancadas por hora. Isso sem falar que, em 2016, ocorreu um estupro coletivo a cada duas horas e meia no país. Até quando nós teremos que lidar com isso, com essa fragilidade em nossas vidas? Por isso, precisamos sim de leis mais severas contra o feminicídio. Por isso, não podemos nos calar diante de tanto sofrimento e absurdo. Ser mulher é ter forças para lutar mesmo diante de tanto amargor.

Filantropa, Luciana Picanço

Esse dia existe apenas para relembrar nossas conquistas sociais, políticas e culturais conquistadas ao longo dos anos. Provamos, diariamente, que somos capazes. Por isso, o maior presente que podemos ganhar, não só hoje, e sim todos os dias, é o respeito. Que a gente possa ser cada vez mais nós mesmas, livres de qualquer preconceito e limitações! Devemos ser amadas e respeitadas todos os dias, pois representamos a referência do feminismo, cujas qualidades e conquistas são grandes demais para serem homenageadas apenas hoje!

Ativista do Movimento Negro do Litoral, Lucélia Salgado

O que temos a comemorar é a conquista de poder estar nos bancos de escolas e universidades e, por meio dos nossos estudos e conhecimento, poder nos tornarmos independentes, produtivas, nos destacarmos profissionalmente através do nosso próprio talento.

Chefe de Assessoria de Comunicação da APPA, Núria Bianco

A liberdade de poder comprar jornal, ler, ouvir rádio e ver TV. Se informar e – com base nas informações que ela mesmo reúne – criar um entendimento próprio do mundo. Sem isso, as mulheres só podiam conhecer o que lhes era imposto. O conhecimento é a maior força da mulher moderna.

Liderança comunitária, Josiane Isaías

Não temos muito a comemorar, pois nossos direitos não são respeitados. O poder público não desenvolve políticas públicas voltadas à mulher, precisamos evoluir muito ainda. Em Paranaguá, fizemos um levantamento de junho de 2017 a dezembro de 2018 e, neste período, nove mulheres foram vítimas de feminicídio. A luta é diária, matamos dois leões por dia para que nossos direitos sejam respeitados.

 

 

 

Liderança religiosa, Madre Inez de Souza Carvalho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Neste dia tão especial da mulher, teria tantas coisas para comemorar, mas o principal é a vida, esse ser mulher, que é a única que pode gerar uma vida no ventre. Comemoramos a dignidade, a força, a beleza da mulher, enfim, a mulher é um ser muito importante, sem ela existiria um buraco na humanidade. Ela completa o que há de mais belo na vida de um ser humano. Mulher é algo sagrado!

Empresária de comunicação, Jéssica Ketyscia Fernandes 

Acredito que justamente em nossa área, sinto que não temos muito que comemorar. Afinal somos quem informa tudo o que vem ocorrendo contra a mulher nos últimos anos. Mesmo com o preconceito em todos os setores, empresarial, social e pessoal, percebo claramente que isso não nos impede de crescer, de buscar sempre o melhor, quer em nossa empresa, área de atuação ou mesmo bandeiras que defendemos. Para a mulher o difícil serve de motivação e o impossível se torna meta a ser conquistada, custe o que custar. Dizem que somos emoção, pode ser, mas a razoabilidade caminha de lado a lado e sem deixar de encarar os desafios de forma tendenciosa e parcial. Só assim saberemos que o resultado é justo e produtivo.