Luiz Fernando: o foco muito claro colocou Paranaguá como referência para o país


Por Katia Brembatti Publicado 17/03/2022 às 07h22 Atualizado 17/02/2024 às 04h00

No mês em que o porto de Paranaguá comemora 87 anos, Luiz Fernando Garcia da Silva completa três anos e três meses no comando da empresa pública Portos do Paraná. Significa que o atual diretor-presidente faz parte de menos de 4% do tempo de existência do porto, mas esse período foi suficiente para deixar marcas indeléveis. Conhecido no setor, em função de experiências anteriores em Santos e Brasília, e também com uma passagem anterior por Paranaguá, ele usou a capacidade técnica para viabilizar vários projetos que elevaram a relevância nacional do porto paranaense. Em entrevista ao JB Litoral, ele apresenta os números e as ações que colocam Paranaguá em posição de celebrar, com festa, mais um aniversário.

Confira os principais pontos da conversa:

JB Litoral – Normalmente, o aniversariante divide o bolo com os convidados. Como o porto de Paranaguá está compartilhando com a comunidade os bons resultados que tem conquistado?


Luiz Fernando – Tem muita gente que reclama, mas a verdade é que o porto compartilha o bolo na forma de empregos, de renda gerada. Enfim, a condição que o município possui, direta ou indiretamente, tem muita ligação com o porto. A parte de contribuição é a de fomentar cada vez mais investimentos aqui em Paranaguá e Antonina, e investimentos nas ações portuárias, diminuindo ou atenuando esse conflito porto-cidade que existe, e isso não negamos. Mas ações são tomadas diariamente, pensando não só no aumento da produtividade de operação, mas também numa diminuição desse conflito, que nunca vai deixar de existir. O que temos que fazer é equacionar os principais gargalos e todo mundo irá entender que somos um bom vizinho. Trazemos ônus, mas trazemos bônus.

JB Litoral – Poderia dar exemplos dessa melhoria?


Luiz Fernando – Havia muita reclamação da sujeira que o porto deixava e isso diminuiu bastante. As pessoas começaram a fazer comparações, como por exemplo: “na entrada na rodovia está pior do que no porto”. Enfim, o porto implantou programas dentro dos nossos limites – aos quais gostaríamos de avançar muito mais –, porém, temos uma poligonal definida que limita essas áreas de atuação e, dentro disso, realizamos esse tipo de ação, para que possamos fazer determinados investimentos. É muito triste, inclusive, ver comentários supondo que o porto só pensa em si, que só quer aumentar a sua produtividade e operação, esquecendo da cidade. É muito pelo contrário: se não aumentamos a condição logística, também não aumentamos a produção e não aumentamos a efetividade. As empresas que, hoje, estão instaladas aqui e que acreditam em Paranaguá e Antonina, depositando milhões de reais de investimentos, salários e impostos, podem chegar num momento e desistir da cidade, indo para outros lugares, como Santa Catarina.

JB Litoral – Há quem pense que o dinheiro gerado pelo porto não fica na cidade. Como e onde é aplicado?


Luiz Fernando – Nós faturamos anualmente algo entre R$ 400 milhões e R$ 500 milhões. Todo o dinheiro arrecadado fica no porto, e isso é uma condição normativa e legislativa. Esse dinheiro só pode ser investido em ações que tenham ligação com a operação portuária. Não há margem de dúvidas ou interpretações quanto a isso. O Estado não pode ter acesso a esse dinheiro, não podemos fazer transferências. É justamente esse instrumento que não nos permite ter um avanço eventual ou a necessidade de aplicação do dinheiro de recursos do porto em outras regiões do estado, por mais benéficas ou importantes que sejam. Nós temos essa poligonal, essa linha imaginária que divide os nossos limites de ação entre o que pode e o que não pode. São questões interessantes e que a população cada vez mais entende, mas sempre é bom ressaltar e deixar claro os nossos limites e as nossas atribuições.

JB Litoral – Mas de que forma esse dinheiro se espalha pela região?


Luiz Fernando – Podemos falar, por exemplo, do comércio, dos restaurantes que alimentam os caminhoneiros. Podemos falar, também, sobre os fornecedores de alimentos, de água, de combustível, ou prestadores de serviços para as embarcações. São empresas daqui, em sua maioria, embora seja um livre mercado. Porém, as empresas locais têm condições de se estabelecer sem prestar serviços que não necessariamente tenham a ver com a operação portuária. Não estão carregando soja, mas estão trabalhando com algo em decorrência da atividade portuária. Então, os efeitos em cascata são a consequência e a relação indireta que o porto proporciona, gerando impostos e cargos de trabalho, sendo um efeito multiplicador da economia positiva. Cerca de 65% da população empregada do município, direta ou indiretamente, tem relação com a atividade portuária. E 50% ou 55% da arrecadação municipal de ISS também. Não é que o porto esteja pagando a população, há empresas decorrentes da existência do porto. E esse dinheiro arrecadado pela prefeitura é destinado para a população; em educação, saúde, asfalto e tudo mais.

JB Litoral – Isso transforma o perfil da cidade significativamente. Poderia dar mais exemplos?


Luiz Fernando – Certamente sem um porto aqui, haveria uma vida normal, mas talvez não com o peso que ele proporciona. Deve-se considerar que não há um êxodo de trabalho, coisa que ocorre em cidades onde não se tem porto. Na costa brasileira, é muito comum que as pessoas deixem a cidade para trabalhar em outro município. Mas não podemos pensar num porto sem investimento em dragagem ou em qualidade ambiental, o que é uma falácia; estudos de uma década atrás confirmam que dragamos somente 2% da nossa baía, além dos não-malefícios ao meio-ambiente. Temos, também, ônus dos caminhões, sobre os quais nos responsabilizamos de manter uma convivência, sendo ela pacífica e racional, e isso nunca deixará de existir. Por isso, distribuímos, por exemplo, os caminhões que são encaminhados aos terminais. Temos uma visão muito além da nossa reponsabilidade direta e indireta, afinal, isso impacta no fluxo das pessoas. E é por essa razão que investimos R$ 12 milhões num viaduto e R$ 14 milhões na Avenida Bento Rocha, no intuito de melhorar não somente o trânsito, mas uma racionalização da fluidez como um todo. Sem o viaduto, havia apenas uma rotatória, onde ocorriam inúmeros acidentes na entrada e na saída do município. Além disso, temos que pensar na Av. Ayrton Senna, na BR 277 até aqui. Nós temos, ainda, muita interferência em nível que não precisa existir. Por isso, o porto contratou um projeto executivo onde se prevê as grandes trincheiras, eliminando algumas dessas interrupções.