Luiz Fernando: “podemos buscar cargas que hoje estão em outros portos”


Por Redação JB Litoral Publicado 16/03/2021 Atualizado 15/02/2024
Luizinho, Luis, luiz fernando

Por Katia Brembatti

Quando Luiz Fernando Garcia da Silva tomou posse, em janeiro de 2019, como diretor-presidente da empresa pública Portos do Paraná, vindo do cargo de comando da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), ele não estava chegando pela primeira vez a Paranaguá. Trazia consigo a experiência de já ter trabalhado no porto da cidade de 2009 a 2015.

Além disso, também tinha, na bagagem, a atuação como assessor especial do então Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil, e como secretário nacional de políticas portuárias no governo federal, com conhecimento e contatos para fazer as interlocuções necessárias em Brasília. Isso tudo, somado à formação em Economia e a especialização em gestão de empresas, propiciou as condições para que comandasse o porto durante os momentos de dificuldades – por causa da pandemia – e reestruturação, visando levar Paranaguá a novos patamares.

E também estivesse à frente da empresa pública para comemorar prêmios inéditos e recordes de movimentação. Com isso, o Conselho de Administração do Porto, em outubro de 2020, aprovou a recondução de Luiz Fernando ao cargo. Nesta entrevista, o diretor-presidente comenta sobre as melhorias que foram feitas e as que ainda precisam ser executadas, além de destacar a aproximação com a comunidade, enfatizando o complexo portuário como indutor de desenvolvimento regional.

O porto está de aniversário, em sua avaliação, quais os principais motivos para comemorar?

Acho que é o reconhecimento da qualidade do porto. O que acontecia há 15 ou 20 anos era o produtor paranaense como refém dos portos do Paraná. Se suas cargas não saíssem por aqui, não haveria outra opção. Isso deixou de existir. As cargas migram, encontram seus caminhos. Os anos se passaram e nós fomos aprendendo. Não foi da nossa gestão nem tão pouco da anterior. Aqueles que administraram o porto e a logística entenderam que deveriam racionalizar seu espaço para que conseguíssemos atingir uma movimentação expressiva. Fomos tirando as ineficiências. Então, acho que o principal motivo para comemorar é que as mudanças feitas e as que ainda vão acontecer deram a possibilidade de o porto ser reconhecido hoje como um dos melhores do país.

São 2 anos e alguns meses no comando, do que você mais se orgulha nesse período?

De manter a competitividade do porto. Não é uma questão pessoal, a gestão toda conseguiu mudar ou manter e melhorar aquilo o que pegamos. Os diretores e corpo funcional entenderam a necessidade de cada dia mais trabalharmos para que o porto continuasse sendo referência. E isso nos orgulha. Talvez o prêmio que recebemos no final do ano passado, como melhor autoridade portuária do país, concorrendo com todos os portos, tenha sido o ápice dessa nossa missão.

Depois de falar sobre os pontos fortes, é preciso olhar para os fracos. O que precisa melhorar?

É preciso, nesse caso, entrar na parte de infraestrutura. O porto, ao longo dos anos, foi retirando suas ineficiências, organizando a chegada dos caminhões, incluindo novos sistemas tecnológicos para que tirássemos da nossa infraestrutura existente o melhor e o máximo. Mas esse máximo foi chegando ao seu limite. Por isso que começamos a estruturar outros grandes projetos de infraestrutura, que mudam a cara do porto e darão a condição de recebermos os 80 milhões de toneladas de carga previstos nos instrumentos de planejamento, feitos pelo governo federal para daqui 15 a 20 anos. Para isso, temos que melhorar nossa infra, na questão ferroviária, na expedição da carga, temos que ter outras soluções de expansão, algumas foram planejadas e estão em licenciamento. Então, o nosso dever agora é entregar, ou ao menos iniciar, essas obras de infraestrutura mais pesada para melhorar o porto.

A partir de projeções futuras, considerando o plano-mestre, qual a expectativa de crescimento?

Um crescimento normal, de 5% a 10%, é o que temos condição de absorver com essa mesma infraestrutura. Mas é preciso fazer mais. Por isso, bato na tecla do Corredor de Exportação, porque dos 57 de milhões que movimentamos, 20 milhões veio só desse complexo. Temos um corredor desenvolvido na década de 70, com algum retrofit recebido na década de 90 e é essa infra que nos suporta. Grande parte do agronegócio passa por ali.  Começamos a desenvolver o Corredor Oeste, a maior obra portuária dos últimos 10 anos, ao custo de R$ 200 milhões, e queremos replicar esse modelo no Leste.

Há um crescimento vegetativo da produção por hectare, mas temos condições de buscar outras cargas que transitam por outros portos. Vou dar um exemplo: o instrumento do planejamento do porto de Santos, aprovado no ano passado, diz que 2 milhões e meio de toneladas de fertilizantes, que operam em Paranaguá, podem ser transferidas para Santos. Novas medidas e melhorias estão sendo executadas ou em planejamento para que não percamos esses 2 milhões e meio de toneladas que Santos enxerga como uma possibilidade.

Nós também podemos olhar para outros portos. Em São Francisco do Sul, 70% das mercadorias do agronegócio a granel têm como origem o Paraná. Podemos pensar em formas de atrair essas cargas para cá. O mesmo vale para o segmento de líquidos, dominado por Santos. Mas com a licitação do PAR50, que está em final de consulta pública, passaremos a ter uma condição melhor de concorrer com Santos.

“O porto de Paranaguá é curto. São quatro quilômetros e meio de cais e um pouco mais de 1 milhão de quilômetros quadrado, e, como tantos outros do Brasil, foi sendo espremido pela cidade. Mas está buscando atingir seus limites de expansão com esse pequeno pedaço de terra. Então, o porto movimentou 57 milhões de toneladas em 2020. Numa proporção simples pelo metro linear de cais, nenhum porto consegue o que nós fazemos.”

O que representou a ser o primeiro porto do Brasil a conseguir a autonomia de gestão? E o que foi possível fazer a partir dessa conquista?

Nós recebemos essa delegação de competência em agosto de 2019 e, desde então, passamos a conduzir diretamente nossos processos licitatórios e as gestões dos contratos. Isso primeiro foi um aprendizado, porque não é fácil. Tivemos uma licitação tocada diretamente, que foi o PAR12, em dezembro do ano passado, a primeira licitação depois de quase 20 anos que o porto fez em uma área operacional e agora passamos por duas audiências públicas importantes também, o PAR32 e o PAR50, que estão nos possibilitando ter um aprendizado muito grande na construção desses processos.

Mas ganhamos também a tranquilidade e a ciência de que a pressa passa a ser somente nossa. Porque antes tínhamos que disputar espaço no Governo Federal, com o Brasil inteiro, e sabemos da limitação de quantidade de pessoas. Então, o governo federal tem uma priorização no país, escolhendo uma área em detrimento de outra não significa dimensionamento de importância, mas sim da capacidade do pessoal para absorver a quantidade de trabalho necessária para cada licitação. Com essa conquista, tocamos os nossos processos diretamente dentro dos prazos e nas prioridades impostas pelo governo do estado, pelo governador Ratinho Junior.

2020 foi um ano desafiador para todo mundo. Como foi possível que o porto não parasse, mesmo diante de tudo o que aconteceu no Brasil?

Foi possível, a partir de uma cadeia de apoios fundamentais. No começo da pandemia, era muito difícil falar disso. Todo mundo perguntava: “poxa, mas o porto não vai parar?” O que sempre falamos foi que a parada do porto seria uma consequência de uma paralisação da cadeia. Se as fazendas não estivessem expedindo mais, se os navios não estivessem chegando mais, aí sim, naturalmente, nós pararíamos, mas nós não seríamos a causa. Houve um trabalho gigantesco da equipe, da comunidade portuária, não foi só do porto, não foi só da autoridade portuária, todos entenderam da importância de manter essa atividade segura e operacional.

Foi decidido que nós continuaríamos as operações, trazendo a segurança para o trabalhador. Uma série de medidas foram adotadas e estruturadas que perduram até hoje. Também teve uma safra recorde, com condição climática extremamente favorável para o porto. A estiagem que castigou o Paraná nos beneficiou. Não parou de produzir, tanto que teve uma crescente em fevereiro, março, abril e maio, quebrando recordes mensais, que não eram batidos havia anos.

Foto/Claudio Neves/Appa

Outro reflexo indireto e não esperado foi que, com menor mobilidade urbana, a cadência dos caminhões e dos vagões foi mais acentuada. O governador baixou um decreto garantindo como serviço essencial o transporte e as oficinas, os restaurantes de beira de estrada e tudo isso, em conjunto, possibilitou com que a carga transitasse e fosse escoada em um momento diferente, mas com a qualidade e produtividade de sempre.

“Se o ano ajudar, e a safra indica que vai ajudar, chegaremos a 60 milhões de toneladas em 2021, de uma forma organizada e produtiva, com qualidade no tratamento da carga.”

Como o porto se encaixa na posição de indutor de desenvolvimento regional?

Começamos a demonstrar para a população o quanto o porto representa. Muitas vezes, os moradores olham para os problemas, como a buzina, o trem que tranca a rua, a sujeira, as doenças. Mas começamos a demonstrar os nossos programas ambientais. Somos um porto fortemente reconhecido também pela qualidade ambiental, tanto é que a ONU nos convidou para que representássemos o setor portuário mundial, não só o Brasil, na COP25, evento de mudanças climáticas.

Esse convite veio muito decorrente dos nossos programas. Começamos a demonstrar, de forma mais clara, o quanto somos reconhecidos e trabalhamos, sim, para um ambiente sustentável. Também demonstramos a importância da atividade portuária para o município, pois 60% da arrecadação do município, do ISS que ele arrecada, tem relação direta com a atividade portuária. Não que a empresa pública pague, mas vem das empresas portuárias, das empresas transportadoras e tudo mais.

A nossa atividade é essencial para o município: 40% da mão de obra direta e indireta do município tem relação com a atividade portuária. Fomos mostrando que alavancamos o desenvolvimento regional, não de uma forma mais direta, como a Itaipu, pois temos limitações legais, mas a população foi entendendo, o Poder Público municipal entendeu e, por isso, queremos que cada vez mais o porto esteja fortalecido, porque ele é forte, é um município forte, são empregos fortes, uma arrecadação forte.

Qual a mensagem que fica sobre o porto neste momento comemorativo?

Porto, município e estado fortes são preponderantes e devem trabalhar em conjunto. Temos a habilidade do governador Ratinho Junior, de conseguir compatibilizar as forças para todos trabalharem para o mesmo sentido. Um dos pontos de fortalecimento, além das obras, é do espaço também para a atividade privada chegar, então por isso que faremos a licitação de mais cinco áreas.

Uma nós fizemos no ano passado, temos duas em audiência pública e mais três que vão entrar, para terminais já existentes, mas todos com contrato precário. Significa que há autorização para estar operando a área, para que não fique inativada, porém não pode fazer investimento. Precisamos resolver isso. Também foi emblemática a situação do terminal de veículos, um dos setores mais afetados pela pandemia.

O investimento mostra que ele é diferenciado. Porque são negócios de longo prazo. Tudo isso dá a condição de o porto ser alavancador, então essas licitações próximas também, como uma área de líquido, uma área de carga geral e três de granel nos darão mais uma vez uma resposta positiva do mercado.