Luiz Fernando: porto tem muito para comemorar em 2021 e as expectativas para o ano que vem são ainda melhores


Por Katia Brembatti Publicado 01/01/2022 às 11h27 Atualizado 16/02/2024 às 22h53

Enquanto muitos setores amargam perdas, os portos paranaenses celebram ter passado pelos quase dois anos de pandemia registrando números ainda mais positivos que os experimentados em períodos anteriores – e com a perspectiva de mais recordes em 2022. Em entrevista ao JB Litoral, o diretor-presidente da Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia, avalia que uma série de fatores permitiu uma mudança de patamar, sem precedentes. Além do anúncio de obras estruturantes, “que muita gente acreditava que nunca seriam feitas”, comenta o diretor, a movimentação em várias áreas superou as estimativas. Os números só não foram ainda melhores por causa da chuva, que parou a operação por um tempo considerável, e pela quebra na safra de milho. Ele detalha cada um dos pontos que fizeram a diferença no balanço do ano. Confira:

Um porto multicargas

Paranaguá e Antonina tiveram o primeiro ano da pandemia para se preparar em relação ao agravamento que ocorreu em 2021 e, assim, lidar com uma série de consequências. Entre os efeitos estiveram mudanças no fluxo e no tipo de cargas. Mas, mesmo com muitos lugares no Brasil e no mundo registrando uma série de problemas, os portos paranaenses enfrentaram e superaram desafios. Para Luiz Fernando Garcia, o balanço do ano é positivo em vários aspectos.

Ele destaca uma mudança de paradigma: Paranaguá virou, definitivamente, uma unidade multicargas. Historicamente reconhecido pelo grande volume de movimentação de grãos, poderia ter sido muito mais afetado. “Tivemos uma queda abrupta na safra do milho. Praticamente zeraram as exportações e também houve baixas expressivas de soja. Mas batemos a marca histórica do ano passado, que foi de 57,3 milhões de toneladas. Isso só foi possível porque movimentamos muitos tipos de cargas”, pondera. O diretor lembra que, no passado recente, não era assim. “Como nosso carro-chefe são os produtos do agronegócio, quando ocorriam perdas havia um impacto direto. Em anos anteriores, uma quebra da safra significava um ano não tão bom para o porto”, explica. Ele destaca que os portos se consolidaram como multicargas. E enfatiza o recorde batido com mais de 1 milhão de TEUs movimentados no ano, “enquanto o mundo reclama da falta de contêineres”. Os produtos do agronegócio ainda são expressivos, mas a diversificação abriu possibilidades e deixou a estrutura menos dependente da safra e das sazonalidades.

Obras de grande impacto e também adequações internas marcaram o ano. Foto: Claudio Neves/Portos do Paraná

Moegão já tem licença de instalação e data de licitação

Parecia lenda, mas agora já tem até data para sair do papel. Está marcada para 8 de março a licitação para o início das obras do Moegão, novo sistema de moegas e correias para o Cais Leste. Atualmente, cada terminal tem seu próprio sistema de descarga de vagões, mas isso complica o trânsito na região portuária e representa mais tempo de operação. A intenção é construir um grande espaço de recebimento de cargas, capaz de aumentar a capacidade com menos transtornos.

O projeto foi doado pela Rumo – que tem interesse no aumento da movimentação ferroviária no local – e a obra será custeada pela Portos do Paraná. A partir da escolha da empresa para a realização da obra, orçada em R$ 449 milhões, a estimativa é de que o centralizador esteja funcionando daqui a três anos.

Porto diversificou cargas e não é mais dependente apenas da produção de grãos. Foto: Rodrigo Félix leal/SEIL

Luiz Fernando comenta que o empreendimento já tem licença de instalação pelo Ibama e que será a primeira vez que a Portos do Paraná captará dinheiro no mercado para colocar um projeto de pé. Um edital já foi publicado, apresentando a intenção e os parâmetros para o empréstimo de R$ 515 milhões, com uma margem de segurança, em relação ao orçamento inicial para a construção. Segundo ele, o Moegão, que já foi chamado de um projeto “delirante”, deve ser a maior obra do estado.

Obras realizadas, em execução e previstas

Entre os feitos do ano, o diretor-presidente destaca a derrocagem, com as implosões das Pedras Palanganas. Ele menciona que foram duas décadas de espera e negociação e que o resultado superou as expectativas. Segundo Luiz Fernando Garcia, a fase de detonações já acabou e resta apenas o trabalho de remoção do material. Com o procedimento, o porto de Paranaguá deve ganhar navegabilidade e um metro e meio a mais de calado.

A Portos do Paraná investiu R$ 162 milhões, em 2021, em obras e projetos. No valor, estão inclusas a continuidade da dragagem de manutenção e a demolição do chamado silinho, que deve abrir um espaço logístico. Foram entregues, em 2021, dois trapiches na Ilha do Mel, como medidas compensatórias, e outros estão em construção: dois na Ilha dos Valadares, em Paranaguá (um no mar de fora e outro próximo à passarela), dois em Antonina (na Ponta da Pita e no Portinho), além do trapiche do Rocio, que já está em reforma.

Na lista de obras futuras está o novo corredor de exportação. O diretor conta que a licença está em processo de autorização no Ibama e que está sendo discutida a modelagem financeira para a viabilização do projeto. Também essa é a fase em que se encontra a proposta de concessão do canal de Paranaguá. A Empresa de Planejamento e Logística (EPL), estatal federal, está realizando um estudo e deve entregar a versão preliminar em janeiro.

Para 2022, estão previstos outros empreendimentos da Portos do Paraná, como a demolição dos armazéns AZ10, 12,12A ,13 e 13A; a contratação de trapiches das comunidades de Piaçaguera, Vila Maciel, Amparo, Eufrasina, Europinha e Teixeira; a execução do dolfin do Píer de Inflamáveis; além do estudo de viabilidade técnica de elevação dos dutos de inflamáveis; entre outras benfeitorias.

Mudanças na operação de fertilizantes

O Brasil bateu recordes de importação de fertilizantes e Paranaguá é a principal porta de entrada do produto no país. A movimentação foi 1 milhão de toneladas superior à de 2020, que tinha registrado 10 milhões de toneladas. Assim, a situação impactou diretamente o setor portuário local, principalmente na área de armazenagem. Quase sem frete de retorno, por causa da quebra na safra de milho, que costuma ser o granel mais volumoso no segundo semestre, os operadores tiveram de lidar com as dificuldades de estocagem.

Outro fator, que complicou a operação, foi a “falta” do berço 208, um dos três preferenciais para a descarga de fertilizantes. É que a unidade estava em obras e ficou sem uso por mais de seis meses. Segundo Luiz Fernando Garcia, houve um atraso nos trabalhos de cerca de 20 dias, mas a previsão é que seja concluído em janeiro. Ele contou, ainda, que foram feitos ajustes nas ordens de serviço e que, em breve, deve ser notada melhoria por causa de um contrato de passagem, assinado em dezembro, com a Fertipar e o Rocha Terminais, que vão fazer a mecanização dos berços 208 e 211, que não tinha esteira.

Quando foi necessário usar berços alternativos, isso representou custos mais altos para os operadores. Os berços específicos para fertilizantes funcionam com grabs – uma espécie de concha para carregar e descarregar o produto nos porões dos navios e caminhões – que possuem capacidade de cerca de 25 toneladas.. Já os demais, dependem de guindaste de bordo, com 10 a 12 toneladas de capacidade e mais equipes para fazer o trabalho e conseguir atingir a meta da “prancha”, índice de produtividade monitorado pelo porto. Devido ao tempo de espera, alguns navios nem atracaram e outros foram desviados para o porto de São Francisco do Sul.

Entre os desafios do ano, esteve, também, a chuva. Depois da estiagem em 2020, o período foi de muitas paradas na operação em função da umidade. “Estamos acostumados a trabalhar com mais de 100 dias com chuva por ano. O problema foi a concentração”, comenta. O diretor conta que, em outubro, por exemplo, foram 16 dias parados, afetando fortemente a movimentação portuária. Os principais entraves ficaram mesmo na área de fertilizantes, impactada pela chuva, pela alta demanda, pelas obras no berço 208 e pela competição por espaço com o milho importado. Assim, dependendo do tipo de produto, o tempo de espera de navio para atracação ficou em um mês.

Cinco leilões “engatilhados” para o começo do ano

Já para o começo de 2022, a Portos do Paraná espera abrir editais para o arrendamento das áreas PAR32 e PAR50 – ambos têm aval do Tribunal de Contas da União (TCU) e o segundo depende de liberação pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE). Em breve, a intenção também é realizar as audiências públicas referentes ao PAR9, ao PAR14 e ao PAR15. Segundo o diretor-presidente, a expectativa é de que os leilões sejam feitos no primeiro semestre. Para a segunda metade do ano, o planejamento inclui a concessão do PAR3, de fertilizantes, que foi recentemente qualificado como prioridade nacional.