Mães denunciam falta de fonoaudiólogos para tratamento de seus filhos em Morretes


Por Cleverson Teixeira Publicado 25/06/2020 Atualizado 15/02/2024
Fonoaudióloga da prefeitura está afastada desde fevereiro

Os moradores de Morretes, principalmente pais com filhos portadores de necessidades especiais, dependentes da assistência médica do Sistema Único de Saúde (SUS), enfrentam dificuldades para obter tratamento especializado para seus familiares.

Desde o afastamento da única profissional de fonoaudiologia que atendia a prefeitura municipal, os usuários não conseguem dar continuidade às consultas e tratamento, já que a maioria não tem condições de arcar com os custos na rede privada.

Com pouco mais de 16 mil habitantes, a cidade conta com a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), que é mantenedora da Escola Professora Maria Helena Küster Cherobim. De acordo com os responsáveis pelos alunos, a instituição, que atende cerca de 70 discentes, também não tem fonoaudiólogo e a única saída era o atendimento pela prefeitura. “Não tem profissional. Eu tenho um filho autista que não fecha a boca para tomar líquido. Ele vai fazer quatro anos e não consegue sugar pelo canudo”, disse uma mãe, a qual preferiu não se identificar.

Ela conta que a criança tem paralisia cerebral e, desde que foram suspensos os serviços do fonoaudiólogo, em fevereiro deste ano, pela rede pública municipal, não tem tratado o seu filho da maneira que necessita. Procuradas pelas mães, as autoridades alegam que não conseguem fazer a contratação de novos profissionais da área.

Outra mãe, que, também por medo de retaliação, não quis ter o seu nome divulgado, afirma que precisou bancar o tratamento da sua filha na rede médica privada. Segundo ela, além de não ter um acompanhamento pelo município, que é obrigatório em sua opinião, teve que recorrer à cidade de Antonina, onde conseguiu um plano médico privado de custo baixo, para que o caso da criança, de quatro anos, regredisse. “A minha filha tem Síndrome de Down e ela fazia o acompanhamento pela prefeitura. Para eu não atrasar a minha filha, nós começamos a custear do bolso. A gente continuou esse tratamento para que ela não permanecesse nesse estágio, que é de não falar, de não comer”, desabafou.

Ela relatou, ainda, que continua na luta, porque, mesmo tendo uma realidade diferente, existem outros pais que não têm como realizar esses tratamentos, que não seja o SUS. A mulher reivindica, também, fonoaudiólogos na saúde e na educação. “Você chega para falar com a Secretaria de Saúde e nunca consegue uma resposta concreta. Só escutamos que não tem, não dá para fazer, não dá para bancar. Eu sempre vivo falando para os outros pais, que a gente tem que se reunir, pegar um dia, ir na prefeitura, mas a maioria mora muito longe”, completou.

HC recomenda sessões de fonoaudiologia

O caso da menina portadora de Down é acompanhado, também, pelo Hospital de Clínicas (HC) de Curitiba. Sua mãe disse que há uma grande cobrança por parte da unidade de saúde na questão do desenvolvimento da fala da paciente. Os médicos da instituição recomendaram sessões de exercícios vocais de, pelo menos, três vezes por semana, com duração de 50 minutos cada. Isso contribuiu ainda mais para que a prefeitura fosse procurada diversas vezes.

Antes de ir ao município vizinho procurar recurso, a responsável pela criança participou de dois encontros com a prefeitura, mas não obteve sucesso. “Tive essa primeira reunião, mas não deu em nada. Tive a segunda, mas a secretária de saúde veio com desculpas, de que a minha filha abandonou o tratamento. Eu falei que ela não largou, apenas se ausentou devido a uma pneumonia muito grave, que exigiu um tempo de recuperação”, alegou.

Prefeitura não se manifesta

O JB Litoral procurou a prefeitura e pediu esclarecimentos a respeito da resolução do problema, da previsão no retorno da profissional afastada e da situação da APAE, mas, até o fechamento desta edição, não obteve retorno.

Número de fonoaudiólogos em todo o litoral

De acordo com os Portais da Transparência dos sete municípios do litoral do Paraná, a região tem 17 fonoaudiólogos, sendo um afastado e o outro exonerado. Desses, somente 15 estão dando expediente nos órgãos públicos. Apenas Antonina e Guaraqueçaba não registram profissionais no quadro de funcionários. Com isso, as cidades que desempenham trabalhos nesta área são: Paranaguá (8); Pontal do Paraná (4); Guaratuba (1) e Matinhos (2).