Mar calmo não faz boas marinheiras: escolhas e renúncias marcam a trajetória da 1ª Diretora Executiva do OGMO Paranaguá


Por Luiza Rampelotti Publicado 09/03/2022 Atualizado 17/02/2024

As mulheres já nascem predestinadas a vencer desafios, especialmente em um país como o Brasil, onde uma mulher é vítima de feminicídio a cada seis horas e meia, conforme o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Mas, ainda são poucas as que se destacam – seja devido ao machismo estrutural ou então a falta de oportunidades.

Da guerreira francesa Joana D’arc, que conquistou tantas vitórias e foi canonizada, até a cearense Maria da Penha, que deu início à luta contra o feminicídio e violência contra a mulher no Brasil, são poucos os registros históricos mundiais de mulheres que se evidenciaram numa sociedade patriarcal. Embora o mundo saiba que muitas são dignas e merecedoras de muito mais reconhecimento.

Uma dessas é Shana Carolina Colaço Vaz Bertol, que saiu de sua zona de conforto para atuar em uma atividade predominantemente masculina: a faixa portuária. É ela quem gerencia a relação capital/trabalho entre os Trabalhadores Avulsos Portuários (TPAs) e os operadores portuários, e a missão da diretora executiva do Órgão Gestor de Mão de Obra de Paranaguá (OGMO) não é fácil.

Ela mesma admite essa dificuldade que, hoje, se tornou corriqueira em sua vida ao lembrar do início de seu trabalho, quando aceitou navegar em águas desconhecidas e misteriosas”. “Participar de uma reunião em que pessoas se expressam com termos que não se encaixam no contexto discutido na pauta, como por exemplo: ‘terno’; ‘galinha’, ‘quarteio’, não é nada comum. Imagine então se esse é seu primeiro dia de trabalho e você é a única mulher sentada à mesa”, confidencia.

Sem fugir do receio natural e humano do desconhecido, ela conta que a curiosidade de aprender o que se estaria por trás das marés e a vontade de vencer os desafios foi o que prevaleceu. “Desde então, percebi que o mar quase nunca é calmo, principalmente para nós mulheres. Um dos nossos maiores desafios é a maternidade, muitas vezes atrelada ao conflito entre a concretização de um sonho e a ascensão profissional. Mas, às vezes é necessário corrigir a rota do navio e escolher uma boa tripulação para navegar”, comenta a diretora, que recebeu a promoção que tanto almejava quando estava grávida de seis meses.

Escolhas e renúncias

Para Shana Bertol, escolhas e renúncias fazem parte do cotidiano das mães que seguem uma carreira profissional. Algo que pôde ser comprovado na prática, quando ela precisou antecipar o retorno da licença maternidade. E não foi só isso, até mesmo no batizado de seu bebê, planejado para acontecer em um domingo com toda família reunida, ela foi surpreendida, às vésperas, com um telefonema de um cliente informando o bloqueio indevido de milhões em sua conta. “Isso significou muito trabalho no final de semana e minha participação junto à minha família, nesse momento tão importante, foi bastante restrita”, lamenta. 

Porém, ela entende que isso representou mais uma porta aberta num segmento masculino e bastante fechado como a operação portuária. Mesmo sem ter dados precisos, ela acredita, ainda, que a presença feminina no setor vem progredindo de forma lenta nos últimos anos. “Em se tratando de mulheres que ocupam cargos de liderança sênior, o percentual é ainda menor, muito embora dados comprovem que as mulheres atingem em média um nível de instrução superior ao dos homens. Infelizmente, para nós mulheres o gatilho da prova é mais rígido”, avalia.

“O mar também é nosso”, diz Shana Bertol

No que diz respeito a OGMO’s, dos 26 existentes no país, poucos têm ou tiveram a diretoria executiva composta por mulheres. O pioneiro foi o de Imbituba/SC, que teve como diretora executiva Maria Zilá de Sousa Gil, seguida por Jeanne dos Santos. O OGMO de Santos foi dirigido durante seis anos por Sandra dos Santos Gobetti, e o de Itaqui/MA dirigido por Ana Cláudia Barbosa. Com Shana Bertol, são apenas três órgãos com mulheres atuando no cargo máximo nos portos brasileiros.

Para ela, o Dia Internacional da Mulher e todas as questões que o envolvem, revela a necessidade de se ter grupos e comunidades dentro do setor portuário, com o objetivo de empoderar mulheres e impulsioná-las a navegarem “nesse mar fascinante e cheio de oportunidades”. “Porque faz tempo que estamos no mar e ele também é nosso”, finaliza.  

Com informações da assessoria de imprensa