Moradores da rua João Eugênio, em Paranaguá, denunciam tráfego de caminhões pela via proibida


Por Luiza Rampelotti Publicado 28/07/2022 Atualizado 17/02/2024

Desde o dia 12 de julho, moradores da rua João Eugênio, no bairro Costeira, em Paranaguá, estão incomodados com o trânsito de caminhões graneleiros e tanques na via considerada residencial. Eles relatam preocupação com a segurança das pessoas, especialmente crianças, que vivem na região.

Sidnei Alberto Schneider, engenheiro civil e engenheiro de segurança do trabalho, mora há 14 anos na João Eugênio. Ele afirma que a situação é incomum e está incomodando a vizinhança, uma vez que há tráfego de veículos pesados durante o dia e à noite.

É uma rua de casas residenciais, onde tem crianças, moradores, carros pequenos e, muitas vezes, o trânsito para bem em frente às nossas casas. Nossa maior preocupação é com a segurança das pessoas, também a questão do barulho que está incomodando”, comenta.

De acordo com ele, os caminhões estão saindo de dois pátios da empresa Marcon, localizados na rua Desembargador Ermelino de Leão, Costeira. “Já liguei na empresa e falei com os responsáveis para ele nos ajudarem, mas não houve muita solução”, diz.

O JB Litoral averiguou a situação e descobriu, por meio de apuração in loco, que os caminhões estão, de fato, saindo dos pátios da Marcon e, também, do pátio da Coamo, na rua Manoel Corrêa, próxima à Des. Ermelino de Leão. O trajeto foi alterado devido à uma obra realizada pela Paranaguá Saneamento na Manoel Corrêa, iniciada em 12 de julho, quando foi identificado um vazamento na rede de abastecimento de água.  

Obra está sendo realizada em frente à Coamo, na rua Manoel Corrêa, e dificultou o trânsito de caminhões. Foto: JB Litoral

A prefeitura tinha que colocar um patrulhamento de trânsito e uma sinalização melhor na João Eugênio, alertando que a rua não é para caminhões pesados, além de atuar em conjunto com a Paranaguá Saneamento para que as obras da Manoel Correia sejam concluídas o mais rápido possível”, avalia Sidnei.

Caminhões também estão trafegando pela rua João Eugênio, que tem o tráfego de veículos pesados proibido.


O que dizem as empresas


Em contato com a Coamo, a empresa informou que apenas os caminhões de óleo prestam serviço para ela. Também destacou que está passando orientações para “o time da Indústria, com o intuito de reforçar, junto aos motoristas, a obrigatoriedade da realização do trajeto correto”.

Além disso, informou que a obra que está sendo executada pela Paranaguá Saneamento deverá atender a demanda de interligação de rede de esgoto para a Coamo.

Já a Marcon afirmou desconhecer o fato [do tráfego de caminhões pela rua João Eugênio]. “Nossos clientes são orientados a trafegar apenas nas vias permitidas. O que notamos foi uma obra que interditou temporariamente a Desembargador Ermelino de Leão, bloqueando nosso pátio, assim gerando a retenção e bloqueio dos caminhões, o que acarretou em prejuízos com estadia”, esclareceu.

Outra moradora da rua Marechal Floriano, esquina com a João Eugênio, também procurou o JB Litoral para denunciar a situação. “Cheguei a ligar na Marcon e eles falaram que era porque estava tendo a obra. Sei que a Paranaguá Saneamento abriu a rua e, mesmo assim, os caminhões continuam passando e, quando não viram na Marechal Floriano, eles vêm direto na João Eugênio”, diz Valéria Rocha, dona de casa, que mora há 25 anos no mesmo local.

De acordo com ela, os veículos passam um atrás do outro e um dos grandes problemas está relacionado ao barulho que eles fazem. “Tem uns mais barulhentos que disparam os alarmes nas casas, então, além de ter o tremor na rua e nas nossas casas, por causa dos caminhões, ainda tem os alarmes disparados”, comenta.

Via com tráfego de caminhões “terminantemente proibido”

O JB Litoral também questionou a prefeitura a respeito da fiscalização de trânsito na rua citada. De acordo com o Poder Municipal, a rua João Eugênio está localizada no limite do zoneamento, existindo lei específica que determina a preferência de tráfego para veículos de carga pesada.

No entanto, a reportagem verificou, por meio da Lei Municipal 1.913/95, que criou a Zona de Trânsito e Tráfego de Veículos Pesados, que é “terminantemente proibido o tráfego e estacionamento de caminhões com capacidade de carga superior a 12 mil quilos de peso bruto total, carregados ou vazios, com ou sem carrocerias, reboque ou semirreboque”, nas áreas residenciais de Paranaguá e no polígono formado pelas ruas especificadas no artigo 2º da legislação em questão, que inclui a chamada Zona de Requalificação Urbana (ZRU).

Algumas das ruas incluídas na ZRU são a João Eugênio, Ermelino de Leão, Manoel Corrêa entre outras. “A ZRU inicia-se a partir do ponto 0 situado na confluência das ruas Conselheiro Corrêa e avenida Prefeito Dr. Roque Vernalha, seguindo (…) até encontrar o ponto 3 na confluência do Rio Sabiá com a rua João Eugênio; segue por esta até encontrar o ponto 4 formado pela confluência das ruas João Eugênio e Ermelino de Leão; segue por esta até encontrar o ponto 5 formado pela confluência das ruas Ermelino de Leão e Manoel Corrêa (…)”, diz a regulamentação, que teve nova redação dada pela Lei 4097/2021.

Denúncias pelo 153


Além disso, a Lei 1.913/95 destaca, em seu artigo 4º, que é proibido o trânsito nas áreas definidas pelo artigo 2º (citadas acima), de caminhões ou quaisquer outros veículos, independentemente da capacidade de carga transportando produtos químicos, tóxicos ou explosivos, sem a devida autorização e acompanhamento pericial e policial.

A respeito da fiscalização das vias, a prefeitura informou que a Superintendência Municipal de Trânsito (Sumtran) realiza ações de fiscalização de acordo com a demanda e denúncias recebidas, que podem ser feitas pelo número 153. “A Sumtran recomenda que a população local faça denúncias desta forma ou formalize processo administrativo, denunciando a situação para a secretaria responsável tomar as medidas cabíveis”, orienta. Porém, afirma que ainda não recebeu nenhuma denúncia relacionada ao assunto.

A reportagem questionou a respeito de quais serão as medidas adotadas pela prefeitura acerca da situação relatada. Segundo o Poder Municipal, o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) já determina diversas medidas para mitigar os danos que possam ser gerados e, além disso, a Secretaria Municipal de Urbanismo (Semur) “tem realizado trabalhos contínuos para melhorar o fluxo existente”.

A Paranaguá Saneamento também foi questionada sobre quais serviços estão sendo executados na rua Manoel Corrêa e sobre a previsão para conclusão. No entanto, a concessionária se limitou a informar que a obra está sendo realizada no acostamento e que será liberada na terça-feira (26).