Moradores do Aeroparque querem área de lazer e não Delegacia Cidadã no bairro


Por Redação JB Litoral Publicado 09/05/2015 Atualizado 14/02/2024

O lixo acumulado em um terreno no Aeroparque era a única preocupação dos moradores da região até o dia 16 de janeiro do ano passado quando o Prefeito de Paranaguá, Edison de Oliveira Kersten (PMDB), anunciou que a área, localizada ao lado do 9.º Batalhão de Polícia Militar (BPM) seria doada ao Governo do Estado para construção da Delegacia Cidadã Padrão II. Desde então, moradores da região protestam e se mobilizam para evitar a implantação da delegacia no local. Na noite de terça-feira (28) os moradores se reuniram para discutir a situação, já que a empresa Luna Kawerna Engenharia e Construção, vencedora da licitação, começou a desenvolver o projeto arquitetônico no bairro.

Entre os principais argumentos dos moradores estão a periculosidade, fugas e superlotação, já que a 1.º Subdivisão de Polícia Civil (SDP), conhecida como Pires Pardinho, foi construída na época para abrigar 27 presos e atualmente conta com mais de 180 detentos. “Somos totalmente contra. A delegacia aqui vai trazer transtorno para nós e para quem frequenta o Aeroparque. Vamos perder a liberdade, a privacidade e principalmente a única área de lazer. Quando vamos saber se vai explodir uma rebelião? Esses presos podem invadir nossas casas. Pode acontecer, como já aconteceu no centro”, declara Maria Aparecida da Silva, conhecida como Silvia, moradora há mais de 28 anos do local.
Para ela, fazer as suas caminhadas no local com uma delegacia seria difícil.“Tenho 50 anos e não vou sair de casa para caminhar à tarde no local, pois vai dar medo. Tenho filhos e netos, sem contar que trabalhamos muito para construir nossos lares e isso vai trazer uma grande desvalorização. Ninguém vai querer comprar uma casa perto de uma delegacia”, ressaltou.Já Possedonia Bonsenhor, moradora há 16 anos da região, considera um absurdo trocar o espaço de lazer por uma delegacia. “Considero um absurdo. É o único espaço que Paranaguá tem para o lazer, onde a comunidade pode fazer a sua caminhada, pedalar, para trazer seus filhos para se divertir. Acho um absurdo uma delegacia aqui. Que liberdade teremos para fazer isso?”, questiona. 

Entre os argumentos dos moradores está a questão de que existem duas escolas a aproximadamente 100 metros do terreno: a Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Almirante Tamandaré e a Escola de Educação Especial Maria Nelly Picanço, antiga Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), que atende exclusivamente alunos na área de deficiência intelectual, física neurotomotora e múltiplas associadas a estas.

Projeto de revitalização foi realizado por moradores

Com objetivo de acabar com o depósito ilegal de lixo no terreno, moradores se reuniram e criaram um projeto de revitalização da área. No projeto estão contempladas áreas de lazer e recreação, segurança e resgate social, como quadras de vôlei de areia, espaço com grama para brincadeiras ao ar livre, local para leitura, jogos de tabuleiro e pontos destinados a apresentações culturais. Na área de segurança, a ideia é criar um módulo para a Guarda Municipal. No caso da área do resgate social, os moradores sugeriram um espaço para a escola de jardinagem, onde aconteceria cultivo de flores que seriam utilizadas posteriormente na decoração do próprio Aeroparque. Além disso, todo material utilizado na revitalização do parque será do lixo reciclável, como garrafas pet’s, pneus, galões de água, contêineres e outros. Para a viabilização do projeto, além dos próprios moradores que se colocaram à disposição, há empresas parceiras que contribuirão para a realização do projeto.
Para Marcelo José Cardozo Dias, um dos responsáveis pelo projeto de revitalização, há dois anos o documento foi protocolado na prefeitura e na Câmara Municipal e, no começo, houve interesse.

“Ninguém quer a delegacia no bairro. Queremos sim o projeto que foi discutido por todos que envolve uma área para os nossos idosos, as crianças, esportistas, artistas locais, um espaço coletivo, um local onde você possa estar com a sua família e aproveitar a área. Tenho certeza que um espaço assim não custa milhões de reais”, relata o morador.

Presidente do Conseg ouve reivindicações

O presidente do Conselho de Segurança de Paranaguá (Conseg) Sami Mohamed Zahra, participou da discussão e disse que levará as reinvindicações à Secretaria Estadual de Segurança do Paraná. “É minha obrigação fazer esse elo entre a comunidade e o Poder Público. A população tem suas preocupações, seus anseios. Estarei encaminhando o assunto para Curitiba, mas Paranaguá tem que se conscientizar que estamos ficando parados no tempo. Precisamos de uma delegacia nova, a do centro não comporta mais ninguém. O bairro São Vicente também não quer a delegacia. Precisamos saber onde vamos colocar essa delegacia. Deixar do jeito que está não pode. Acho que antes da delegacia, precisamos nos preocupar com o presídio primeiro”, declarou.