Moradores reclamam da quantidade de alimentos recebida nos kits de merenda escolar do Estado


Por Luiza Rampelotti Publicado 01/05/2020 Atualizado 15/02/2024

No último dia 16, as escolas estaduais do Paraná distribuíram a segunda leva de kits com alimentos da merenda escolar. A entrega é feita quinzenalmente, sendo que a primeira foi no fim de março e a próxima será em data divulgada pela Secretaria Estadual da Educação e do Esporte (SEED). Eles são destinados, prioritariamente, a estudantes beneficiários dos programas Bolsa Família e Leite das Crianças e, em seguida, para aqueles em situação de vulnerabilidade social.

No entanto, muitos moradores de Guaraqueçaba, pais de alunos matriculados no Colégio Estadual Marcílio Dias, estão reclamando, por meio das redes sociais, da pouca quantidade de alimentos recebida em cada kit. A mãe Priscila Ferreira Amanso, que tem dois filhos na escola, comenta que, diferentemente das fotos divulgadas pelo governador Ratinho Junior (PSD) e pelas matérias informativas da Agência Estadual de Notícias (AEN), eles não têm a variedade informada.

De acordo com ela, que também é estudante na mesma escola, na Educação de Jovens e Adultos (EJA), os dois filhos matriculados receberam um kit cada. “Em um veio uma bolacha, um pouquinho de leite, um pouquinho de arroz, um pacote de farinha de milho e uma lata de sardinha. No outro veio um pouquinho de arroz, um pouquinho de leite, um pacote de fubá e um de feijão. Foi um pouquinho para cada estudante”, diz.

Segundo o Governo do Estado, o conjunto com a merenda varia de escola para escola, pois os alimentos de maior aceitação por parte de estudantes de uma instituição podem não ser os mesmos de outra. Ou seja, as instituições têm autonomia para montar os conjuntos com os alimentos recebidos. O JB Litoral procurou a diretora do colégio Marcílio Dias, Josane Mafioletti Veronese, para falar sobre o assunto, porém, ela preferiu não se manifestar.

O que diz o NRE

Para esclarecer a quantidade de alimentos recebida por cada estudante, a reportagem conversou com a chefe do Núcleo Regional de Educação (NRE), Clarisse Ubessi, que explicou que o que é enviado à escola é a merenda escolar que seria servida aos alunos se as aulas estivessem acontecendo normalmente. “Porém, eu tive a informação de que mais de 400 famílias da escola estão inclusas no Bolsa Família, então realmente não vamos ter como disponibilizar uma quantidade muito grande de alimentos para todas as famílias, porque não é uma cesta básica que o Estado está entregando, é só um kit de merenda escolar, que era o que deveria ser feito para os alunos durante as aulas, mas estão suspensas”, explica.

Atualmente o Colégio Estadual Marcílio Dias tem 524 alunos matriculados. Ou seja, mais de 76% deles são beneficiários do programa Bolsa Família. Isto faz com que a quantidade de alimentos recebida pela instituição escolar, que continua sendo a mesma dos períodos com aula, precise ser distribuída igualmente entre os mais de 400 estudantes. Além disso, se houver alguma possibilidade, os alimentos podem ser entregues, também, para aqueles que não estão inscritos no Bolsa Família, mas vivem em situação de vulnerabilidade social.

Em outras escolas as quais a quantidade de alunos beneficiários do programa é menor, o conjunto contendo a merenda escolar conta com mais alimentos, uma vez que a distribuição é feita entre menos pessoas.

Sem produtos da agricultura familiar

Além disto, Clarisse Ubessi informa que os kits do colégio Marcílio Dias ainda não foram contemplados com alimentos hortifrutigranjeiros (frutas, verduras, legumes). “Existe um convênio com o Fundepar, que é para a distribuição de alimentos da agricultura familiar às escolas estaduais de Guaraqueçaba. Só que ele precisa pagar uma verba a mais para que os hortifrúti sejam entregues nas ilhas e para a SEED. Nesse primeiro momento, não foram entregues as frutas e verduras porque não foi feito esse repasse do convênio, era para ter sido em março, mas como veio a Covid-19, não deu tempo”, diz.

Ela comenta, ainda, sobre a razão para os primeiros repasses conterem poucos alimentos. “No começo do ano, a escola serviu a merenda que tinha ficado como estoque do ano letivo anterior, isso porque nós não recebemos merenda em janeiro e fevereiro, só em março. Mas, em 2020, começou uma nova turma de Formação de Docente e, na primeira remessa da merenda, não veio alimento para fazer almoço para eles, então eles usavam da merenda que era feita para todos. Ou seja, já veio com certa defasagem e não tinha um estoque muito grande para a escola. Esse estoque se normalizou só em abril”, afirma.

O JB Litoral também procurou o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Educacional (Fundepar), órgão responsável pela separação e direcionamento dos alimentos da merenda escolar às escolas estaduais, para falar sobre o assunto. “Os kits são montados conforme a quantidade dos itens que a escola recebe (tanto da alimentação convencional quanto da agricultura familiar) em função do número de servimentos registrados pelo próprio estabelecimento de ensino. Cada escola tem autonomia para a confecção do kit. No caso específico do Colégio Estadual Marcílio Dias, em Guaraqueçaba, houve um atraso no envio dos produtos da agricultura familiar por parte da associação por causa da logística do transporte, mas que deve ser normalizado”, conclui.