Morre o fundador da Cattalini, uma das maiores empresas da cidade. Saiba a história


Por Redação Publicado 12/04/2021 às 22h29 Atualizado 15/02/2024 às 23h08
dino cattalini

Por Katia Brembatti

Um italiano que lutou na 2ª Guerra Mundial foi o responsável por revolucionar a movimentação portuária de granéis líquidos na América Latina. Dino Cattalini chegou ao Brasil em 1948, fugindo da recessão pós-guerra, e conseguiu convencer o irmão Stefano, dez anos mais novo, de que o país era um bom lugar para recomeçar a vida. Surgia aí a parceria que resultou na fundação de uma das maiores empresas de Paranaguá. Na segunda-feira (5), aos 100 anos, Dino faleceu, de causas naturais. Depois da morte da esposa, Inês, no ano passado, ele ficou ainda mais debilitado.

Dino chegou a ser preso por tropas adversárias. Quando saiu da Itália, trouxe apenas 300 dólares no bolso. Começou a trabalhar como mecânico até que conseguiu comprar um caminhão, juntamente com o irmão. Foi o princípio da empresa da família, como transportadora. Ao fazer fretes de cargas para o porto de Paranaguá, foram percebendo a oportunidade de negócios.

Muitos anos se passaram até que fosse fundada a Cattalini Terminais Marítimos, em 1981. A empresa está prestes a fazer 40 anos, a serem completados em julho.

As primeiras instalações para movimentação de produtos líquidos eram bem incipientes e a empresa decidiu investir em uma estrutura mais ágil e segura. Foi quando Luiz Antônio de Souza passou a fazer parte dessa história. Engenheiro, ele foi encarregado de elaborar os projetos do terminal em 1986. E continua na empresa 35 anos depois, acompanhando de perto a transformação. Atualmente, é gerente de Engenharia e Projetos.

Outro que também viu o crescimento da Cattalini é Fábio Martins Jorge, controller da empresa. Ele é funcionário há três décadas. “Entrei com 18 anos e já vou fazer 52”, conta. Recentemente, um empregado com quase 40 anos de casa decidiu se aposentar. Foi João Carlos Dalago, que era encarregado de estoque. Para Fábio e Luiz, essas situações mostram como a Cattalini é uma empresa com clima familiar, que valoriza os profissionais que se dedicam ao trabalho. Ambos destacam que os empregados têm plano de carreira, vale-alimentação, plano de saúde e odontológico, além de participação nos lucros.

Transição

Desde o começo da atuação portuária, Dino ficou mais responsável pela parte administrativa e Stefano pela atividade operacional. Luiz comenta que Dino estava sempre de paletó e gravata, atento às negociações que pudessem levar à expansão da empresa. Já Stefano era visto frequentemente nas oficinas, de botina e sujo de graxa. Os dois trabalharam na empresa diretamente, até os anos 90. Aos poucos, os filhos homens de Dino, Alberto e Renato, foram assumindo postos de comando. Elviana participava menos ativamente.

Em 2006, para tornar a gestão mais profissional, a família concordou em contratar administradores e os integrantes passaram a ser conselheiros. Uma nova mudança aconteceu em 2011, quando as filhas do Stefano, Ângela e Rosana, decidiram vender metade da empresa para o Grupo Rocha. Atualmente, a Cattalini tem capacidade instalada de 610 milhões de litros, em 133 tanques, além de contar com um píer próprio, o que é uma vantagem competitiva, principalmente operacional. A empresa tem quatro centros de tancagem (CTs), sendo um exclusivo para produtos vegetais.

Cattalini é líder em movimentação de granel líquido, com quatro centros de tancagem.

Na pandemia, empresa se preparou para o pior, mas acabou contratando. Agora, mira em outros portos

O controller Fábio Martins Jorge conta que, como a maior parte das empresas, a Cattalini também fez um plano de contingência, se preparando para um ano difícil por causa da pandemia. Mas, como o porto não parou e a movimentação de cargas até aumentou, a empresa teve resultados em 2020 melhores do que os esperados.

“Para a nossa surpresa, 2020 foi muito positivo na área portuária”, comenta. “Imagina, você se preparando pra guerra e vem uma zona de paz”, acrescenta. O faturamento ficou 10% acima do previsto.

Terminal ampliou em mais de 93 mil m³ a sua capacidade de armazenagem de graneis líquidos no Porto de Paranaguá

Em função dos números, ao invés de sofrer com cortes, a Cattalini contratou em 2020.

“Começamos o ano com 450 funcionários e terminamos com 490”, diz. Fábio destaca que a empresa está em processo de expansão, realizando treinamentos e buscando renovar os quadros, para contrabalançar, uma vez que a maior parte dos empregados já tem muitos anos de casa.

Atualmente 100% parnanguara, agora a Cattalini se prepara para expandir os negócios para outras cidades. “A Cattalini está aberta a novos investimentos e novos portos. Estamos de olho nos leilões que estão para acontecer”, conta Luiz Antônio de Souza, gerente de Engenharia e Projetos.

O último grande investimento em Paranaguá foi a construção do centro de tancagem 4B, entregue no ano passado, com mais 93 mil metros cúbicos de capacidade. A Cattalini é responsável pela movimentação de 70% de todo o metanol importado utilizado no Brasil e por 65% de todo o óleo de soja exportado. Além disso, grande parte do petróleo usado no Sul do país passa pela Cattalini.

Família enfrentou junta o momento mais crucial da empresa

A explosão do navio chileno Vicuña, em 2004, foi um duro golpe para a Cattalini. O caso deixou quatro tripulantes mortos, óleo esparramado pela baía de Paranaguá e uma série de consequências. Segundo Fábio Martins Jorge, atualmente controller da empresa, a situação mobilizou a empresa toda e, principalmente os fundadores e familiares. Um conserto a bordo, que teria gerado faíscas, seria a causa da explosão. Fábio destaca que o trabalho não tinha relação direta com a empresa parnanguara. Ele afirma que a responsabilidade era do armador e da seguradora dele, “mas o navio vai embora e a Cattalini fica aqui”.

O controller enfatiza que, segundo o tribunal marítimo, a Cattalini não teve culpa no acidente. Mas, não teria deixado que assumir parte das ações para reparar o que aconteceu. “A empresa lá de fora não vai ligar para o pescador que está aqui”, comenta. Na época, Alberto e Renato, filhos de Dino, tiveram atuação direta na gestão da crise. E, acredita, conseguiram dar a volta por cima. “Um incidente desses poderia fechar a empresa, até pelos prejuízos”, destaca.

Apesar de todas as consequências negativas, Fábio considera que houve aprendizado. “A Cattalini cresceu muito. Às vezes, é com um baque que você aprende. Isso fez mudar o pensamento, principalmente na área de segurança”, afirma. A situação levou a lições, acrescenta o controller, como não permitir mais o abastecimento de navios nas proximidades do porto – só podem receber combustível em alto-mar, quando estão indo embora. A Cattalini tem uma ação judicial contra o armador chileno, buscando ser ressarcida dos prejuízos.