Motoristas da Viação Pilar denunciam atraso de salários


Por Cleverson Teixeira Publicado 02/02/2021 às 17h14 Atualizado 15/02/2024 às 19h11

Motoristas do transporte público de Antonina estão vivendo um dilema desde o ano passado. Os trabalhadores, os quais prestam serviço para a Viação Pilar, denunciam atraso no pagamento dos salários. Eles reivindicam os valores de dezembro de 2020 e janeiro de 2021. Atuando há mais de 30 anos no município, a empresa conta com 18 funcionários. Desses, 13 são profissionais do volante e responsáveis pelas linhas Centro, Ponta da Pita, Batel, Bairro Alto, Rio do Cedro e Rio Pequeno.

No dia 25 de janeiro, a filha de um dos motoristas de ônibus entrou em contato com o Departamento de Jornalismo do JB Litoral para relatar a situação. Indignada e pedindo para não revelar a sua identidade, ela solicitou a divulgação do problema enfrentado pelos trabalhadores, na tentativa de ajudar o seu pai e os demais empregados da Viação Pilar.

Diante disso, a reportagem falou com dois motoristas, os quais também não quiseram se identificar. O primeiro relatou que, da soma dos salários, cerca de R$ 3.600, recebeu apenas R$ 500. Conforme ele, as contas chegam e, com isso, as dívidas vão se acumulando. “Estão atrasados os de dezembro e janeiro. Hoje (26) me deram somente R$ 500. Aí você recebe essa quantia, mas já está com a luz vencida, cartão para pagar. Ou você come ou você paga. Está difícil para o nosso lado. A vontade é parar, mas se a gente fizer isso, a empresa pode mandar embora por justa causa”, desabafou.

Sobre a resposta dada aos funcionários a respeito da falta de pagamento, o motorista informou que a empresa de transporte alega que o motivo do atraso tem a ver com a prefeitura da cidade. “A empresa fala que a prefeitura deve e não paga. Esses tempos mandaram a gente fazer uma carta para eles. Mas eu não tenho nada com isso. Eu não trabalho para o prefeito”, disse.

Sem receber, motorista teve a luz cortada

Um outro motorista afirmou, durante a entrevista, que por conta da falta de dinheiro teve a energia elétrica de casa suspensa. O funcionário comentou, também, que, além de não receber por dois meses, o dilema de atraso dos pagamentos vem sendo enfrentado desde o começo da chegada da COVID-19. “Na verdade, desde o começo da pandemia eles estão pagando em picadinho. Esses R$ 500 foram apenas um adiantamento de tudo que ainda não recebemos. A empresa fala que não tem dinheiro. A gente está se virando como pode. Tem conta atrasada, já chegou ao ponto de eu ficar sem luz. Tive que emprestar dinheiro para pagar. Entendemos que a situação está ruim para eles, mas estamos trabalhando e queremos receber”, contou por telefone.

O profissional disse, ainda, que representantes do Sindicato dos Condutores de Veículos Rodoviários e Anexos de Paranaguá (Sindicap) estiveram em Antonina para conversar com a prefeitura e com a categoria dos motoristas. “Dois diretores do Sindicato dos Motoristas estiveram aqui, conversando com a gente. Eles foram até a prefeitura ver essa situação, mas não foram atendidos por conta da pandemia. Não podemos parar por conta própria. Estamos conversando com o sindicato, para vermos se conseguimos fazer uma greve mediante autorização deles”, concluiu.

Gerente confirma dívida da prefeitura

Para questionar o porquê do atraso no repasse dos salários, o JB entrou em contato com a Viação Pilar. O gerente da instituição, Juarez Alves, disse que não podia dar detalhes do ocorrido, mas confirmou o relato dos motoristas. Segundo ele, a administração municipal deve um valor para a Viação e, por conta desse montante, que ainda não foi repassado, a empresa está passando por dificuldades financeiras. “Estamos com vários problemas por causa da prefeitura. Não tenho como falar de forma detalhada, mas temos um dinheiro para receber e eles estão se negando a pagar.  A empresa está passando por dificuldade, porque o movimento de passageiros em Antonina é pequeno. Essa semana, começamos a pagar o pessoal, parcelado, mas estamos pagando”, salientou.

Alves explicou que chegou a faltar combustível para os ônibus rodarem pela cidade, a qual abriga mais de 19 mil habitantes. “Nem diesel estava dando para colocar na bomba. Esses dias, o responsável pela empresa conseguiu colocar. Com o dinheiro arrecadado, pagamos por semana os funcionários”, finalizou.

Contador diz que dívida passa de R$ 600 mil

Trabalhando há 14 anos na Viação Pilar, o contador Adailton de Souza Santos contou para a equipe de reportagem que o débito da Prefeitura de Antonina se refere à diferença de tarifa. “Em março de 2020, a Pilar ganhou uma ação contra a prefeitura, isso no TJ, exigindo que ela bancasse a diferença dos custos das passagens. Por exemplo: uma passagem que era R$ 3, foi justificada para R$ 5. Então, a prefeitura tinha que bancar R$ 2 de cada um dos passageiros”, explicou.

Souza disse, também, que a dívida é grande. Conforme ele, o impasse para o pagamento sempre esbarra nos comprovantes. “E a prefeitura nos deve, só nessa diferença de tarifa, de junho de 2016 a dezembro de 2020, mais de R$ 600 mil. Para pagar, eles alegam que faltou emissão da nota fiscal. Só que R$ 600 mil de nota fiscal é R$ 60 mil de imposto. Se ela não me paga, como é que eu vou pagar esse valor do imposto? Mas emiti as notas, mandei para eles e estou no aguardo do pagamento. Que eles pagassem pelo menos dois meses, tínhamos condição de zerar as dívidas com os funcionários”, relatou.

Com relação ao movimento de passageiros, de 18 mil a empresa passou a transportar 9 mil. Para garantir o bom funcionamento, Adailton revelou que a Viação Pilar precisa faturar mais de R$ 80 mil. “O movimento caiu pela metade. E agora está recuperando, um pouco. Atualmente, está com 12 mil passageiros, 60% do número de passageiros que tinha anteriormente. E a conta não fecha. A empresa precisa faturar, mais ou menos, em torno de 90 a 100 mil por mês. E só está entrando 60 mil”, informou.

Sindicato dos motoristas se manifesta

O presidente do Sindicato dos Condutores de Veículos Rodoviários Anexos de Paranaguá, Sindicap, Josiel Veiga, afirmou que assim que acabar a greve da Viação Rocio, empresa responsável pelo transporte público de Paranaguá, o Sindicato dará uma atenção maior aos motoristas de Antonina. “Falamos para eles aguardarem mais um pouco, até acabar a greve do Rocio. Assim que terminar, iremos até a Viação Pilar para conversar com eles sobre essa situação. Inclusive, já mandei dois diretores para falar outro dia. Eles explicaram que logo darão um suporte a todos os trabalhadores. Os motoristas não estão descobertos. O Sindicato está ligado em todos os trabalhadores que são representados por nós. A qualquer momento, faremos uma assembleia com eles“, completou.

Sobre uma possível greve, o presidente disse que tudo depende do diálogo com os empresários. “Vai depender da conversa que teremos com os responsáveis pela empresa. Vamos procurar saber o que realmente estão devendo. Se não quiserem pagar, não terá outro jeito, aí entraremos com uma greve. O único caminho é esse”, concluiu.

O que diz a prefeitura

A prefeitura, por meio do secretário de Comunicação do município, Jorge Alberto Sonda, limitou-se a dar detalhes do caso. O órgão informou apenas que a situação está judicializada.