Mulheres militares – elas enfrentam desafios diários para garantir a segurança de todos, na terra e no mar


Por Luiza Rampelotti Publicado 08/03/2022 às 12h24 Atualizado 17/02/2024 às 03h12

As mulheres conseguiram o direito de ingressar na Polícia Militar do Paraná há 45 anos, modificando cerca de 123 anos da história da Corporação. De lá para cá, elas alcançaram diversas patentes, passando por aspirante, tenente, capitão, até chegar na mais alta, a de coronel. 

A PMPR foi instituída pela Lei nº 7, de 10 de agosto de 1854, mas somente em 1977 é que as mulheres puderam fazer parte da Corporação, por meio do Decreto Estadual nº 3.238, que criou o pelotão de Polícia Militar Feminina. Desde então, o Paraná passou a ser o segundo estado do país, depois de São Paulo, que permitiu a entrada feminina nessa força de segurança.

Hoje, elas protegem as famílias, o patrimônio, as vidas, sem hora e nem certeza se irão voltar para a sua casa, acumulando papel de mãe, esposa e profissional. Não é possível considerá-las o sexo frágil.

A soldado Nayhara Cordeiro Cardoso atua na 3ª Companhia do 9ª Batalhão da PMPR, em Guaratuba. Ela já está há 12 anos na Corporação e trabalhou em diversas unidades. “Ingressei nas fileiras da Polícia Militar em 2010, com 20 anos. Me formei no 8º Batalhão, em Paranavaí; trabalhei no Regimento de Polícia Montada (cavalaria), na PM/5 Estado Maior, no BPAMB (Batalhão de Polícia Ambiental), no BPRV (Batalhão de Polícia Rodoviária) e agora atuo na 3ª Companhia do 9º Batalhão, em Guaratuba”, diz.

Ela conta que sempre quis ser policial, apesar de não existir nenhum histórico na família. “Nunca me vi em outra profissão e, mesmo que seja predominantemente masculina, isso nunca me assustou. Sei que sou boa no que faço, porque faço com amor, com dedicação. Sei respeitar minhas limitações, porém hoje a polícia não se baseia na força, trabalhamos com a inteligência, argumentos. Na maioria das minhas ocorrências, ganho na conversa, sem precisar mover um músculo, apenas na palavra”, comenta.

Caso marcante

Mãe solo de um menino de quatro anos, Nayhara lamenta enfrentar tantas adversidades para conciliar a profissão e a maternidade por conta de não ter familiares residindo em Guaratuba. Mas isso não a impede de fazer seu melhor pelo filho e, também, pelos filhos de outras pessoas, como ela relembra ao contar um de seus casos mais marcantes como policial. “Certa vez, eu e meu parceiro estávamos nos deslocando de Guaratuba para Paranaguá e avistamos uma senhora no meio da rodovia pedindo por ajuda. Ela estava literalmente no meio da pista gesticulando com os braços, desesperada. Paramos a viatura e ela disse que sua neta recém nascida não estava respirando. De imediato fomos até o local e a mãe da bebê nos entregou ela desacordada. Iniciamos o procedimento de desobstrução das vias aéreas com a manobra de Heimlich e demos uns tapas nas costinhas da bebê que já estava com os lábios cianóticos. De repete ela começou a reagir e chorou. O início foi muito tenso, mas depois fomos movidos por tamanha emoção ao ver ela reagindo bem, como se nada tivesse acontecido, entregamos a bebê à mãe que estava aos prantos e seguimos nosso caminho”, relembra a soldado.

Ela comenta que até hoje não sabe o nome da criança e nunca mais teve contato com aquela família, mas tem certeza de que eles se lembram da equipe de policiais que salvou a vida da recém nascida.

Nayhara ainda encontra tempo para se divertir e se aventurar (ainda mais). Ela é motociclista e faz parte da Confraria Filhas do Vento e da Liberdade, que também realiza ações sociais e em prol da mulher.

Nosso lema é ‘Sou uma mulher que levanta outras mulheres’. Fazemos diversas ações sociais, somos ativas em passeios de motos, encontros, torneios e competições”, diz.

“Nunca pensei em parar”, diz a soldado

Mas nem tudo é alegria. Há oito anos, ela sofreu um acidente no qual foi atingida por um disparo de sua própria arma de fogo. A arma caiu e disparou, o projétil atingiu o fígado e causou grande hemorragia interna, depois se deslocou pela circulação até o coração e artéria pulmonar, causando um infarto pulmonar.

Fiquei entre a vida e a morte, perdi metade do pulmão esquerdo. Foram 12 dias em coma no Hospital do Trabalhador, 18 na UTI, um mês internada e um ano em casa me recuperando”, revela. Nayhara afirma que a arma, uma Taurus, foi entregue a ela com defeito e, por isso, até hoje está no meio de um processo judicial contra a fabricante, já que ao serem feitas todas as perícias necessárias na arma, foi detectada a falha.

No entanto, ela nunca pensou em parar de ser policial militar. “Permaneci com sequelas, porém, além de não aceitar me aposentar, não quis deixar de atuar na rua. Trabalho na rádio patrulha atendendo ocorrências e sou muito grata a Deus por ter vencido todas as adversidades e poder atuar no serviço operacional”, conclui.

Mulheres no Corpo de Bombeiros há 17 anos

No Corpo de Bombeiros do Paraná a permissão para a entrada de mulheres foi bem mais tarde. Somente em 2005 elas foram admitidas na instituição, após a inclusão do Artigo 1º, inciso 3º na Lei 12.975 de 2000.

Fiquei muito feliz quando, em 2005, as mulheres puderam começar a fazer parte do Corpo de Bombeiros, que até então era restrito a homens. Eu estudei no Colégio da Polícia Militar, em Curitiba, e sempre gostei muito da carreira militar”, conta a tenente do Corpo de Bombeiros Ana Paula Inácio de Oliveira Zanlorenzzi, que atua em Matinhos.

Ela se tornou bombeira militar em 2013 e destaca que enfrentou muitos desafios não apenas por ser mulher, mas por ingressar em uma carreira em que tem a missão de ser a diferença na vida de alguém. “Algumas vezes ouvi comentários do tipo ‘mas é você que vai me salvar?’, contudo, mostrando profissionalismo e dedicação ao trabalho, esses poucos comentários preconceituosos acabavam caindo por terra”, diz.

Conciliar a vida profissional com a pessoal é simples para ela, já que seu marido também é bombeiro militar e isso faz com que, muitas vezes, eles possam compartilhar experiências profissionais. Sendo assim, harmonizar o profissional com o pessoal faz parte da rotina diária.

Uma das ocorrências mais marcantes foi durante meu período de estágio, já acompanhando e fazendo o atendimento a ocorrências, quando pude atuar no meu primeiro combate a incêndio em edificação. Ali, coloquei em prática os ensinamentos e poder ajudar, de fato, alguém, foi uma sensação indescritível. Ainda mais na data em que aconteceu: 8 de março! Um dia que traz tanto significado, um dia que representa a luta e a mudança”, finaliza Ana Paula.