Mulheres se unem para levar conforto e esperança à ala pediátrica do Hospital Regional do Litoral


Por Luiza Rampelotti Publicado 08/03/2022 Atualizado 17/02/2024

Muitos bebês prematuros precisam passar uma temporada no hospital para ganharem peso e fortalecerem os pulmões antes de, finalmente, poderem ir para casa, ao lado de suas mães. Essa temporada pode ser bem estressante tanto para os recém-nascidos quanto para os pais.

Por isso, uma técnica simples que ajuda os pequenos a sentirem-se mais confortáveis e seguros já faz muito sucesso no Brasil e, especialmente, em Paranaguá, onde fica a única UTI Neonatal da região litorânea. É no Hospital Regional do Litoral (HRL) que existe um espaço reservado para tratamento de bebês que nasceram prematuramente ou que apresentaram algum tipo de problema ao nascer.

A tática é entregar a eles um polvo de crochê para trazer mais conforto a esses seres tão frágeis e, ainda, acalmá-los ao passarem pelos procedimentos hospitalares. Essa técnica começou lá na Dinamarca, em 2013, com o Projeto Octo. Aqui no Litoral o projeto também tem um “tentáculo”, que foi iniciado em 2021, em Pontal do Paraná.

Estava muito assustada durante a pandemia, mas me questionava o que estava fazendo de útil pelo planeta. Quando conheci o projeto Octo, vi que poderia trazer isso para cá. Como não sei fazer crochê, procurei mulheres que soubessem e, juntas, começamos a fazer os polvinhos para apoiar as mamães e ajudar os bebês”, conta Karin Cristina Geis, capelã e fundadora do Octo Litoral.

A intenção de Karin era auxiliar outras mães que passam pela mesma situação da qual ela já viveu há 17 anos, quando teve seus gêmeos de maneira prematura e eles precisaram ficar internados durante 11 dias na UTI Neonatal. “Meus filhos nasceram de oito meses e tiveram que ficar na UTI Neonatal, e eu sei o quanto é difícil, o quanto as mamães ficam apreensivas e preocupadas ao verem seus bebês na incubadora. Por isso, quis fazer algo para tranquilizar o coração delas, transformando a minha dor em amor”, diz.

Polvinhos para os bebês

Primeiro, ela falou com algumas amigas que toparam o desafio de crochetar os polvos e, então, colocou a ideia nas redes sociais e recebeu o contato de outras mulheres que também quiseram participar. Hoje, existem seis atuantes – Karin, Luana de Jesus, Rosmeri Alves, Isabelle Maciel, Andrea da Luz e Iasmina Viana, que também alimentam as páginas do Octo Litoral no Facebook, Instagram e grupos de WhatsApp.

A primeira entrega realizada ao Hospital Regional do Litoral aconteceu em abril de 2021. Mas, a partir de então, as mulheres passaram a fazer outros tipos de materiais com crochê para doação. Foram 400 chaveiros em formato de mamas para orientação a respeito do aleitamento materno, depois mamas grandes para conscientização sobre o câncer de mama, laços para o Outubro Rosa e Novembro Azul, polvos maiores para crianças autistas. Tudo isso foi entregue às instituições públicas e de saúde em Paranaguá, Pontal do Paraná e Matinhos.

Neste ano, o HRL nos certificou por prestar relevantes trabalhos através do projeto. É que a equipe médica identificou melhora nos sistemas respiratório e cardíaco dos bebês, além de um aumento dos níveis de oxigênio no sangue. Para os bebês maiores, as equipes amarram o polvo na incubadora e eles interagem com o brinquedo, melhorando também a coordenação motora. Até as mamães são beneficiadas, porque ao ver os filhos interagindo com o polvinho, elas acalmam o coração e sentem esperança”, diz Karin.

Quem diria que um polvo de crochê podia fazer tão bem para os recém-nascidos. É que o tentáculo lembra o cordão umbilical e a linha macia do crochê dá conforto aos bebês. Mas atenção! Para que o brinquedo seja seguro, os polvinhos precisam ser 100% algodão, com os enchimentos feitos em fibra siliconada antialérgica e os tentáculos não podem passar de 22 centímetros.

Bichos bolas para as crianças

Não são só os recém-nascidos que ganham presentes. As crianças atendidas na ala pediátrica do Hospital Regional do Litoral também recebem muito amor em forma de amigurumi – uma técnica japonesa para criar pequenos bonecos feitos de crochê ou tricô.

No caso dos amigurumis, o projeto foi iniciado por Dejani Maria Hagers, no início da pandemia, em 2020. Além dos polvinhos, ela e as voluntárias confeccionam bichos bolas para entregar às crianças internadas, com o intuito de levar conforto e carinho aos pequenos.

A ideia surgiu por conta da pandemia, porque a ala pediátrica perdeu o espaço de recreação para as crianças. E, também, porque dependendo do estado de saúde em que ela esteja, só pode ficar no leito, sem interagir com brinquedos. Por isso, decidimos primeiro fazer as caretinhas felizes de emoticons. Depois, aprimoramos o projeto e hoje fazemos os bichos bola”, explica Dejani.

Ela conta que os bichinhos são feitos com fio e enchimento de fibra hipoalergênica, que podem ser lavados, esterilizados e utilizados pelas crianças no leito hospitalar. “Cada criança ganha o seu bichinho e depois que ela vai para casa, é dela. O amiguinho chega quando a criança está muito frágil e já não existe um ambiente divertido dentro do hospital, por conta da pandemia. Então ela tem no bicho bola um amigo para passar as horas”, diz.

Além disso, Dejani comenta que os profissionais de saúde do HRL utilizam os bichos bola de forma a interagir com a criança e utilizar o lúdico para auxiliar no processo de cura. “Quando a criança ganha um presente, ela ganha esperança, se sente motivada, especial, tem atenção, e isso ajuda no processo de cura. Por um instante, as crianças esquecem os acessos por onde entram a medicação para brincar com o novo amiguinho”, conclui.  

Benefícios comprovados

De acordo com a assistente social responsável pelo Serviço Social do Hospital Regional do Litoral, Daiana Cristine Stelmacki, tanto o polvo de crochê quanto os bichos bola têm feito sucesso na ala pediátrica. Além de levarem alegria e colorir o hospital, eles contribuem para a melhora da saúde das crianças.

Existem vários estudos que mostram que quando os recém-nascidos pegam nos tentáculos do polvinho, eles evitam de arrancar os fios de monitores, de tubinhos para alimentação etc. Além disso, os polvos acalmam, ajudam a normalizar a respiração e batimentos cardíacos dos nenéns. Já as bolinhas têm um papel um pouco diferente, porque as crianças já chegam muito assustadas no hospital devido ao processo da doença, do trauma, então os bichos bola tiram o foco do medo e elas têm uma maior alegria propiciada através desses bichinhos. Isso reduz o estresse da hospitalização, contribui no desenvolvimento físico, mental e emocional e funciona como forma terapêutica, que pode ser considerada um recurso facilitador no processo da promoção da saúde”, esclarece Daiana.

Para que os brinquedos de crochê continuem chegando ao HLR, ela solicita que a população contribua realizando a doação de fios para que os projetos continuem. “Os fios têm que ser 100% algodão e nem todas as voluntárias têm condições financeiras de custear os fios, elas só conseguem oferecer a mão de obra. Por isso pedimos para quem puder e quiser, que doem os fios ao HRL”, pede.