Alguns sortudos já tiveram a oportunidade de caminhar à noite, pela praia, e se encantar com uma luminosidade diferenciada vinda do mar, produzida por algumas espécies marinhas. Assim como o vaga-lume, alguns peixes, moluscos, algas, dinoflagelados e entre outros, principalmente no ambiente marinho, possuem uma característica interessante: a bioluminescência.
Essa característica diz respeito à capacidade de um ser vivo de produzir luz fria e visível, e é gerada por reações químicas. Aqui no litoral do Paraná, especialmente na Ilha do Mel, está aberta a temporada de plâncton bioluminescente, conjunto de organismos que ficam suspensos na água e englobam seres fotossintetizantes e pequenos animais – geralmente mais abundantes entre agosto e setembro.
Embora seja uma reação química comum da natureza, a luminosidade não deixa de impressionar, até mesmo quem mora na região e já está acostumado com a beleza das luzes. O empresário Carlos Gnata conta que adora admirar o efeito destes pequenos animais nas ondas do mar, e que sempre sugere a paisagem aos hóspedes. “Para quem tem o interesse em ver o efeito do plâncton, é bem surpreendente. É possível vê-lo em noites de lua nova ou quando não há lua, quando está mais escuro e a possibilidades de observar é bem maior”, disse.
Pesquisas mostram que este tipo de espetáculo é causado por bactérias bioluminescentes e por algumas espécies vegetais marinhas, como algas, que emitem uma luz parecida com neon que realça no movimento das marés. Apesar de boa parte da bioluminescência marinha apresentar uma coloração entre o verde e o azul, algumas espécies de peixes produzem um brilho vermelho.
De acordo com o biólogo Caio Fernandes, a incidência do plâncton no litoral do Paraná é de coloração verde devido à formação de manguezais, com riqueza em materiais orgânicos. “A bioluminescência ocorre quando há o movimento de águas mais quentes. Esses ‘microbichinhos’ do mar funcionam como filtradores e aparecem apenas em ambientes livres de poluição”, ressaltou.
Fenômeno também acontece em outras praias do litoral
O professor dos cursos de Oceanografia e Engenharia de Aquicultura, do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná (UPFR), campus Pontal do Paraná, Luiz Mafra Junior, comenta que o fenômeno pode ser observado em outras praias do litoral paranaense, mas que, realmente, a visualização é facilitada na Ilha do Mel, onde a iluminação artificial é bem mais escassa à noite.
Além disso, ele explica que, provavelmente, os meses de agosto e setembro são a época do ano de maior incidência dos registros pois há mais presença dos microorganismos bioluminescentes na região. “Fatores como correntes marinhas predominantes, quantidade de chuva e a direção e intensidade do vento na superfície da água do mar podem levar a um maior acúmulo destes organismos planctônicos bioluminescentes“, diz.
Nas praias do Sul do Brasil, nesta época do ano, é comum a presença de dinoflagelados, como a espécie Noctiluca scintillans, que produz a bioluminescência e é a mais associada ao fenômeno na região.
Mais luz
Conforme o biólogo Caio Fernandes, “a bioluminescência é uma reação química natural que ocorre com alguns micro organismos marinhos, que usam essa técnica para atrair presas ou afastar predadores”. O plâncton é “aceso” quando ocorre alguma agitação na água – quanto maior, mais forte é a intensidade do brilho.
Normalmente, o movimento das ondas ou até mesmo dos barcos na navegação ajudam a criar os efeitos mais intensos. Caio diz ainda que “a incidência desse fenômeno está relacionada à quantidade de nutrientes nas águas. Quanto mais matéria orgânica, maior a chance de ocorrer uma bioluminescência”.
Plâncton sobrenatural
Existem relatos de que, no século 17, exploradores espanhóis tentaram fechar a baía de Mosquito Bay, no Caribe, para tentar impedir a formação da bioluminescência. A justificativa era que o fenômeno foi criado por forças maléficas sobrenaturais. Porém, a atitude causou o efeito contrário.
Ao reduzir o fluxo de água na baía, foi aumentada a concentração de vitamina B12 que era liberada pelas árvores dos manguezais, com isso, a quantidade de micro organismos disparou. Em um balde de água retirado da baía, era possível encontrar cerca de 750 mil seres.