Por Katia Brembatti
A chegada e saída de caminhões em Paranaguá, que já foi bem caótica no passado, está passando por ajustes para melhorar a situação de profissionais e moradores – e deve ficar ainda mais adequada, a partir de uma série de obras em fase de planejamento ou execução. Iniciativas do poder público, de entidades e também de empresas privadas devem representar mais pontos de parada e serviços de apoio, além de aperfeiçoamento das vias, com duplicações, viadutos e investimento nas condições do asfalto.
O presidente da Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Paraná (Fetranspar), Sérgio Malucelli, destaca que a situação de hoje nem de longe lembra o cenário de dificuldades, com as filas de caminhões esperando para descarregar em Paranaguá, que eram bem mais comuns em décadas passadas. Contudo, embora reconheça as melhorias, ele cita que a totalidade dos problemas ainda não foi resolvida. Para o dirigente, a pior das pendências ainda é a falta de estrutura para acomodar as necessidades dos caminhoneiros que estão fora do pátio de triagem.
Malucelli avalia que a situação só irá melhorar quando houver um pátio de triagem na região retroportuária, antes do entroncamento da Alexandra-Matinhos. “Por dia, são cerca de 6 mil caminhões que ficam mais de 24 horas em Paranaguá. Não tem estrutura para isso. Os postos de combustíveis são pequenos e estão superlotados. Não há condições adequadas para o pernoite e também tem as questões de higiene. Os motoristas são mal tratados. Não há um local à altura da necessidade do trabalhador”, comenta. Além do desconforto, o presidente da Fetranspar destaca ainda a situação de segurança. “Os motoristas dormem na cabine, preocupados”, diz. Ele relata que os roubos de carga, principalmente as vazadas, continuam acontecendo, mas reconhece que o combate à prática reduziu a incidência de casos.
Melhorias em andamento
A empresa pública Portos do Paraná já realizou algumas obras que impactaram diretamente no cotidiano dos caminhoneiros, como a construção do viaduto no entroncamento com a BR-277 (investimento de R$ 12,7 milhões) e a recuperação da Avenida Bento Rocha, com a colocação de concreto no pavimento (R$ 15,9 milhões). Também estão previstas melhorias no pátio de triagem. O diretor de Operações Portuárias, Luiz Teixeira Júnior, conta que está em fase de licenciamento a expansão, que deve alterar a capacidade estática de 900 para 1500 caminhões.
Teixeira lembra que o pátio de triagem é um regulador de fluxo, que possui como objetivo diminuir as complicações para os profissionais do volante, para o porto e também para a cidade. Para ele, o principal problema é quando o agendamento não é respeitado – ou o motorista chega a Paranaguá muito antes ou até sem horário marcado. O diretor acrescenta que, enquanto não forem construídas mais áreas de apoio, o investimento será em gestão, para diminuir os impactos urbanos pela circulação diária de cerca de 2300 caminhões, durante os picos de safra. “Ainda não está ideal”, admite, destacando os problemas de trânsito no trecho entre o pátio de triagem e os terminais.
Saída é um problema
O consultor de Logística da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), João Arthur Mohr, aponta que as melhorias na chegada a Paranaguá tornaram o tráfego e a presença dos caminhoneiros menos conturbados e destaca que, no momento, o olhar deve se voltar para a fase de retorno, depois da descarga. “O principal gargalo é a saída pela Avenida Ayrton Senna”, resume. Se não tiver frete de retorno já combinado, motoristas ficam procurando cargas para levar e ocupam os espaços públicos enquanto aguardam o desfecho. “Quem consegue lugar fica em postos de combustíveis, mas alguns estacionam na rua”, relata. É ainda pior quando acontece no afunilamento da Ayrton Senna, quando passa de duas pistas para uma.
João Arthur Mohr destaca o trabalho que tem sido feito com embarcadores de fertilizantes, para que criem seus respectivos pátios de estacionamento. Ele defende que cada empresa tenha o seu local adequado, para receber os caminhoneiros e organizar os fretes de retorno.
“Não dá para ficar dependendo dos postos de combustíveis”, salienta o consultor.
João Arthur Mohr, Consultor de Logística da Fiep.
Como será com o novo pedágio
O modelo de concessões de rodovias, a ser adotado no Paraná no ano que vem, ainda está em fase de elaboração, mas prevê algumas alterações que interferem no trabalho dos caminhoneiros. Uma das mais perceptíveis deve ser a inclusão das avenidas Bento Rocha e Ayrton Senna no trecho a ser de responsabilidade da futura concessionária. Com isso, caso algum problema mecânico ou acidente aconteça, os serviços de atendimento serão prestados nessas vias. Estão previstas obras também na Ayrton Senna, como um trecho de duplicação, além de marginais, e a substituição de rotatórias por viadutos.
O consultor de Logística da Fiep conta que está prevista no projeto a construção de um Ponto de Parada e Descanso (PPD), em lugar ainda não definido na BR-277, que deve servir de apoio para os caminhoneiros em Paranaguá. O ano em que a obra será realizada ainda está em discussão. O presidente da Fetranspar comemora a estimativa de que a futura concessão irá atender anseios dos motoristas, mas conta que o setor ainda luta para que a ligação até o porto de Antonina também faça parte da área beneficiada.
“Precisa, no mínimo, uma manutenção frequente. São 400 caminhões por dia”, argumenta Malucelli.
O superintendente de Concessões da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Renan Brandão, afirma que o projeto está considerando uma série de demandas dos caminhoneiros. Ele enfatiza o investimento em pistas triplas, tanto na Serra do Mar, como no Contorno Sul de Curitiba, que devem ampliar a capacidade do tráfego, garantindo mais fluidez e previsibilidade.
“Do ponto de vista logístico, isso reduz o custo do frete diretamente. Você sabe exatamente o horário que o motorista sai e que vai chegar, e isso também agrega muita segurança”, declara.
No modelo que está em discussão, os caminhoneiros não serão beneficiados pelo Desconto de Usuário Frequente (DUF), que será restrito a automóveis e para trechos curtos, como os realizados por funcionários que trabalham em uma cidade e moram em outra. Mas Brandão afirma que muitos motoristas devem sentir o impacto do desconto por pagamento via tags, já que os profissionais costumam usar esse recurso eletrônico para passar, sem parada, pelas praças de cobrança.
O superintendente ainda fala da importância dos 11 pontos de parada e descanso (PPD) previstos para serem instalados no Paraná. “Fazem parte de uma decisão de política pública, de diálogo com os caminhoneiros, procurando garantir boas instalações. Se o mercado não oferecer esse tipo de solução, pelo menos a concessão vai fornecer essa estrutura. Essa qualidade de vida, com descanso e condições dignas, agrega muito em segurança para todos os usuários da rodovia”, explica.
Sest Senat se prepara para oferecer atendimento
Em breve os caminhoneiros de Paranaguá, e os que estiverem na cidade, ganharão um ponto de serviços. Está prevista para o segundo semestre a inauguração de uma unidade do Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Sest Senat). O investimento foi de R$ 25 milhões, com capacidade para atender até 3,5 mil pessoas, entre motoristas e familiares. A nova estrutura tem quase dois mil metros quadrados de área construída e conta com sala de treinamento, para 15 pessoas, três salas de aula e um laboratório de informática para até 18 alunos.
A unidade, localizada na avenida Belmiro Sebastião Marques, servirá a todos os tipos de profissionais do volante. Entre os serviços a serem ofertados está um simulador de direção de caminhão, carreta e ônibus, tecnologia usada no aperfeiçoamento, com foco na prevenção de acidentes e na condução eficiente e econômica. Na área da saúde, serão ofertados atendimentos de odontologia, fisioterapia, nutrição e psicologia. A comunidade local também pode usufruir dos serviços.
Motoristas contam as dificuldades, o que melhorou e o que ainda precisa evoluir
Quem precisa estar frequentemente em Paranaguá, de passagem, elenca um conjunto de reclamações que precisariam ser consideradas para que os caminhoneiros tivessem mais qualidade de vida e trabalho no tempo em que ficam na cidade. Um exemplo vem do relato de Ivo Joaquim Gomes, profissional autônomo, que há 10 anos faz corriqueiramente o percurso até o porto. Morador de São Jerônimo da Serra, na região de Londrina, ele costuma carregar na região do Norte Pioneiro, a 400 quilômetros de Paranaguá. No período da safra, o motorista de 51 anos chega a fazer oito viagens por mês em direção ao porto.
“Mudou sim, melhorou algumas coisas. Antes tinha o problema de entrada do pátio, que dava fila. A gente ficava dez horas na beira da pista. Hoje, hoje existe um horário de agendamento, que trouxe uma tranquilidade nessa questão”. Contudo, ele comenta que muitas vezes o período reservado complica a vida do caminhoneiro. “Temos uma janela de cinco horas. Eu tenho um agendamento das 8h às 13h. Se eu saio cedo de casa, tem o risco de não chegar. Então preciso sair no dia anterior e parar no caminho. Só que não existe nenhuma parada adequada. Preciso achar um posto, mas nem sempre cabe o caminhão. E se não for cliente, não consegue estacionar”, explica. Quem fica parado na estrada corre o risco de multa e de assaltos.
O caminhoneiro Marcelo Cogo Greggio, de 47 anos, também questiona a falta de segurança, principalmente no trajeto do pátio de triagem até os terminais. “Difícil o dia que não abrem as bicas de cinco caminhões. E quando derrama no chão, o caminhoneiro é multado, além de ter de arcar com o prejuízo da perda de parte da carga”, conta. Morador de Ponta Grossa, trabalha para uma empresa de Carambeí, carregando muitas vezes em Mato Grosso e Goiás. Assim, quase toda semana está em Paranaguá. “O pátio de triagem melhorou muito, mas a alimentação é precária”, diz. Também é uma queixa de Ivo Joaquim Gomes. Segundo ele, é difícil conseguir comida de qualidade, a preço justo, ou mesmo cozinhar. Havia muito descontentamento com as condições dos banheiros, mas ambos os caminhoneiros contam que atualmente a situação está bem melhor.
Tempo de espera
Ivo Joaquim Gomes comenta que uma série de regras para proteger os caminhoneiros estão sendo desrespeitadas. Ele conta que o tempo máximo de cinco horas de espera para a descarga é frequentemente ultrapassado. Assim, muitos aguardam por prazo superior, sem ser remunerados, já que não se alcança o limite de 24 horas. Também no retorno, com fertilizantes, estaria acontecendo situação semelhantes. Os motoristas acabam se sentindo pressionados a assinar um documento, concordando que a carga pode demorar até 48 horas. O caminhoneiro também lamenta a fila entre o pátio e os terminais. “Deveriam liberar de cinco em cinco, ou no máximo dez caminhões por terminal”, lamenta. Em função da dinâmica, conta que muitas vezes fica a noite em inteira, funcionando o caminhão de dez em dez minutos, enquanto aguarda na fila de descarga.
Mas Ivo Joaquim Gomes reconhece as melhorias. Comenta que o viaduto no acesso da BR-277 foi um avanço, assim como a recuperação do asfalto na Bento Rocha. “A gente também não pode só reclamar, porque já foi muito pior”, define. Para o caminhoneiro, o ponto é que o volume transportado aumentou muito, e a estrutura não acompanhou o crescimento, causando uma série de problemas para os motoristas. Ele espera que medidas sejam tomadas para garantir mais segurança e conforto aos milhares de profissionais que se arriscam abastecendo o porto.