Fandango: cultura proibida que virou Patrimônio Imaterial Cultural do Brasil


Por Redação JB Litoral

Apresentação de Fandango do Mestre Romão

Animada tradição cultural musical, que aportou no país por volta do século XVII e foi proibida na época do Brasil Império pela elite monárquica, desde 2014, o Fandango de Paranaguá se tornou Patrimônio Imaterial Cultural do Brasil. O título foi concedido pelo Ministério da Cultura, ainda na gestão do Prefeito Edison de Oliveira Kersten (PMDB), e foi prestigiado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), quando ainda existiam as fundações municipais de Cultura e Turismo na cidade.

Mas, para chegar neste apogeu, segundo o mais jovem Mestre de Fandango, Aorelio Domingues, da Associação de Cultura Popular Mandicuera, esta rica tradição folclórica passou por muitas fases.

 

Principais instrumentos musicais do Fandango, Rabeca, Machete, Adulfo e Viola Beiroa. Foto/Ivan Ivanovick

De origem espanhola e portuguesa, o Fandango reúne diversas etnias em seu cordão umbilical. Esta tradição tem ramificação na Península Ibérica e lembra que instrumentos como o Adufo, que vem do Ardanf, é árabe da mesma forma que a rabeca. Que vem do Rababe, herança Moura enraizada no Brasil desde então.

“Acredito muito que o Fandango que temos aqui é um Fandango nosso, brasileiro, mas que tem origens em outras regiões da Espanha e Portugal” argumenta o mestre.

Ele conta, ainda, que a dança foi proibida no litoral no começo do século XVII, por volta de 1600 com registro escrito, inclusive. “Era proibido porque era tido como indecente e barulhento”, explica.

Aorelio ressalta que o Fandango não se resume a uma dança típica caiçara e que existe todo um contexto cultural, que envolve o canto e a confecção dos instrumentos usados nas apresentações e bailes.

O mestre explica que o Machete vem da região de Braga, a viola Beroa, que dá origem à viola caiçara, vem da Beira Baixa e os Adufos, de origem árabe, vem do Norte de Portugal. Os instrumentos utilizados no Fandango, em Portugal, são de regiões diferentes e, quando os portugueses chegaram à região, também eram de regiões diferentes e, cada um, tocou na sua vertente, e deram a origem ao Fandango, o qual hoje é tocado no litoral.

 

Mestres recebem o Título de Patrimônio Imaterial Cultural do Brasil concedido ao Fandango de Paranaguá. Foto/PMP

Influência das colônias pesqueiras

O período de proibição do Fandango, nas cidades, foi o que o fez se alastrar e ganhar residência nas comunidades pesqueiras do litoral, tornando a Ilha dos Valadares, seu maior celeiro cultural no Paraná. Porém, apesar da característica familiar com que sempre foi conduzido, o Fandango cresceu e começou a ganhar a elite, os prostíbulos e até distantes cidades como Castro, Ponta Grossa e Foz do Iguaçu passaram a bater o som das tamancas.

O fato do Paraná, historicamente querendo ter característica ‘europeia’, proibia tudo o que representava cultura popular, razão pela qual, até hoje, não se vê na capital, Curitiba, grandes festivais de etnias e da cultura popular.

“O Paraná sempre teve esta característica de querer ser europeu e se desfazer da cultura popular. Não tem nenhum festival da cultura negra, nada da cultura do Fandango, o fandango não era só caiçara, depois ele tomou todo um pedaço do Brasil. Desceu até o Rio Grande do Sul, que toca o Fandango com o acordeon e gaita, mas se verificar as letras e as danças é o mesmo tipo. Chama a Rita, o Anu, Queromana. Só que o nosso tem mais swing, mais popularidade, tem um cunho popular, mais acentuado, da para ver que é mais do povo, barulhento, bagunçado, este tipo de coisa”, informa o Mestre.

 

Casa do Fandango na Ilha dos Valadares. Foto: Ivan Ivanovick

 

Sair da versão mobile