Guaraqueçaba confirma que bactéria causadora de feridas em crianças veio de fossa aberta


Por Brayan Valêncio

Familiares das crianças pediram ajuda para autoridades públicas no começo do ano, informando as condições sanitárias do local

Uma equipe de saúde, enviada pela prefeitura de Guaraqueçaba, foi até a comunidade de Taquanduva verificar a suspeita de contaminação por bactéria. O caso foi revelado pelo JB Litoral durante a semana, mostrando crianças com pernas e pés repletos de feridas.

No dia 26, o clínico geral Alexandre Olszewski Dahmer e os técnicos Raquel Cristina Alves Araújo e Erick da Conceição Barbosa atenderam nove crianças e uma mulher.

Segundo o laudo preliminar, trata-se de um caso de impetigo, uma infecção altamente contagiosa, que provoca feridas vermelhas na pele. O relatório ainda diz que “a doença começou a contaminar a população há mais de 30 dias e deixou de contaminar novas vítimas há 2 semanas”.

Para determinar a causa das marcas, as lesões foram “mapeadas e fotografadas”, além disso, a equipe médica distribuiu medicamentos de forma individualizada, após consulta com cada um dos infectados.


Origem pode ser de valeta aberta


No documento, assinado pela equipe médica, foram apontados, ainda, dois prováveis focos de disseminação da doença. O primeiro é um gramado usado pelas crianças para jogar futebol. O segundo é uma valeta aberta, formada a partir dos dejetos de um banheiro, que não tem sistema adequado de esgoto. Uma nova consulta deve ser realizada, nesta semana, para reavaliar as condições das vítimas da bactéria. As pessoas pertencem a três famílias. As crianças mantinham “convívio diário e não tinham noções corretas de como prevenir a infestação”, explica o documento.

O laudo termina dizendo que tais conclusões serão encaminhadas para órgãos superiores, como a Vigilância Sanitária, e ainda explica que é comum esse tipo de dermatite alérgica no Brasil e que as equipes de saúde seguem monitorando a comunidade e também eventuais novos contágios.


Médico que atendeu a comunidade explica bactéria


Alexandre Olszewski Dahmer, responsável por emitir o laudo preliminar que determinou que os moradores locais estavam com casos de impetigo, diz que a doença se deu “por uma bactéria comum de fossa aberta, que contamina através de fezes humanas ou de animais”. O médico ressalta que essa é uma doença de pele antiga e comum, que começa com alergia e que depois passa a infectar com bactéria, fungo, e em alguns casos com os dois microrganismos.

O tratamento acontece com antibiótico, antimicótico e antialérgico, em comprimido para adultos e em fórmula líquida para crianças, além de pomadas. Para aplicar a pomada, a ferida deve estar desinfetada e limpa. Os medicamentos são administrados de 7 a 10 dias. Deve-se desinfetar de duas a três vezes ao dia e manter os machucados abertos, não podendo cobrir com meias ou calças, por exemplo.

O médico ainda sugere que o local de contaminação seja evitado, além de que seja instalada uma fossa séptica na vala aberta. “A população está esclarecida. Eles não tinham entendido o que estava acontecendo e estavam assustados. A gente conversou com todas as famílias e agora temos que supervisionar o caso para ver como é que vai evoluir. Quais crianças vão ficar boas mais rapidamente e quais já têm uma bactéria mais resistente”, diz Alexandre, ao destacar que aquelas pessoas precisam de atenção.


Casos parecidos são identificados em Paranaguá


Feridas parecidas, como as encontradas em Guaraqueçaba, foram identificadas em Paranaguá, a partir de relatos enviados ao JB Litoral. Os cinco casos comunicados acometem uma família que morava em Matinhos e agora vive na “Cidade Mãe do Estado”.

A família, de cinco membros, sofre com as marcas desde 2020, sem identificar tratamentos que auxiliem na diminuição da dor e coceira

Segundo Kamila Carolina Soares, as marcas começaram a aparecer em dezembro em sua mãe e, desde então, também foram registradas nela, no marido e nos dois filhos. Para tentar solucionar o problema, logo nos primeiros sintomas, a família foi a um dermatologista que afirmou se tratar de sarna humana. “No começo era sarna. Todos nós tomamos remédios e fizemos tratamento, mas não tivemos melhora”, diz Kamila.

Com novas feridas surgindo, a família procurou um segundo profissional, que atestou que era uma bactéria da água, recomendando o uso de medicamentos antialérgicos e uma pomada para cicatrização. “O problema é que seca em uma parte e estoura em outra”, diz.

Entre as reclamações, das cinco pessoas infectadas, estão dores nas lesões e muita coceira, além de atrapalhar a rotina, dificultando ações simples como sentar, encostar em algo e até andar.

Um terceiro médico foi consultado e não conseguiu definir a origem das lesões, mantendo o tratamento com pomadas. Mas não há melhora aparente e a situação é mais agravada nas crianças de 2 e 9 anos, que sentem muito incômodo com as marcas espalhadas pelo corpo, como pernas, barriga e nádegas.

Sair da versão mobile