Por Gabriela Vizine
O índice de animais abandonados durante o período de pandemia do novo coronavírus cresceu no Brasil. De acordo com dados do Instituto Pet, cerca de 78 milhões bichos encontram-se em vulnerabilidade. Porém, com a implantação das medidas de isolamento social devido ao coronavírus, o levantamento mostra que o desamparo de cães e gatos subiu 20% no país.
No litoral do Paraná, em Matinhos, a situação acompanha os números nacionais. Segundo o Secretário Municipal de Meio Ambiente, Sérgio Cioli, houve um acréscimo de 10% no abandono de animais na região. Para ele, a condição está relacionada ao aumento no número de desempregados.
“Percebi que houve esse aumento também aqui na cidade. Um dos motivos que, possivelmente, podem ter desencadeado a multiplicação, foi a crise econômica gerada pelo coronavírus. Muita gente perdeu emprego e renda e não tem dinheiro para alimentar seu animal, então acabou abandonando”, comenta.
De fato, o desemprego aumentou muito nos últimos meses. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na primeira quinzena do mês de agosto, revelam que aproximadamente 3 milhões de pessoas ficaram sem trabalho no país de maio a agosto.
CENÁRIO RECORRENTE
O veterinário da Secretaria de Meio Ambiente, Takashi Youtsumo, explica que o abandono de animais já é algo comum na cidade. “Esse é o cenário que os gestores municipais de Meio Ambiente encontram todos os anos na pós-temporada de verão: são, no mínimo, 30 animais desabrigados”, diz.
Porém, ele reforça que os números cresceram durante a pandemia. “Alguns turistas que vêm para o litoral e possuem animais que estão condenados e não têm mais serventia os abandonam aqui. É lamentável”, comenta.
Segundo Takashi, a maioria dos bichos encontrados pela secretaria sofrem com doença terminal, são idosos ou filhotes. Nas ruas, eles vivem sob o perigo da fome, violência física e de atropelamentos. Como a prefeitura de Matinhos não tem canil, os animais são atendidos e encaminhados para adoções.
“Quando alguém liga solicitando ajuda, damos assistência disponibilizando um veterinário, mas a pessoa precisa se responsabilizar pelos cuidados com o bicho durante um certo tempo. Depois de alguns dias, eles pegam amor no animal e acabam ficando com ele”, diz.
Caso a pessoa não queira continuar com o animal, o veterinário aciona uma Organização Não Governamental (ONG) que atua na área de proteção e adoção dos bichanos.
CAMPANHA DE CONSCIENTIZAÇÃO
A partir da evolução dos casos de rejeição, uma campanha em prol da conscientização da população foi criada para incentivar a denúncia de maus tratos aos animais na região. Com o título “Bicho não é brinquedo, sente fome, frio e medo”, o projeto estimula os moradores a fotografar e gravar cenas de abandono de animais, e a registrar as ocorrências na Polícia Civil, Polícia Militar ou na Secretaria de Meio Ambiente.
De acordo com a Lei Federal 9605/98, inciso 32, a prática de maus tratos aos animais é considerada crime no Brasil. Além de multa, a Constituição Federal prevê pena de 3 meses a 1 ano. “É preciso conscientização da população para melhorar o quadro no município e diminuir estes números”, incentiva Sérgio Cioli.
Embora o número de cães e gatos desabrigados tenha subido, ele destaca que a procura por atendimentos também está maior. “As pessoas estão com mais tempo em casa e, então, podem procurar por consultas e tratamentos no cuidado dos animais”, conclui. Segundo o secretário, o município conta com um projeto de castração, farmácia básica e veterinário disponível à população.
