Obras de artista português são destaque na Estação Ferroviária de Antonina


Por Cleverson Teixeira Publicado 16/12/2020 Atualizado 15/02/2024
prlando fotografo antonina

Logo após a reinauguração da Estação Ferroviária de Antonina, realizada no dia 31 de outubro de 2019, foi instalada uma exposição de fotografias que retrata o complexo biológico dos litorais do Paraná e de São Paulo. O acervo faz parte de um projeto desenvolvido pelo fotógrafo português Orlando Manuel Monteiro de Azevedo. Nomeadas de “Expedição Coração do Brasil – Lagamar”, as obras são consideradas importantes oráculos biológicos do país. Nessa fase, foram documentadas paisagens, fauna e flora, crenças, lendas e tradições de Guaraqueçaba, Cananéia e Iguape. Para que isso fosse possível, Azevedo, acompanhado de um dos seus filhos, navegou cerca de um ano por essas regiões.

Antes disso, o autor, o qual nasceu nos Açores – Portugal, percorreu todos os estados brasileiros com seu carro, desde 1980. Pelas lentes de sua câmera, foram captadas não só a natureza, mas, também, revelados os retratos dos povos e um acumulado registro de culturas diversificadas. De acordo com o responsável pela peregrinação artística, a exposição de um dos ciclos do seu trabalho foi concretizada por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

“Essa expedição é um projeto meu de vida na fotografia. Eu percorri mais de 90 mil quilômetros com um Jeep. Já tinha a ideia de realizar uma exposição que pudesse apresentar os diversos locais que eu havia percorrido. Surgiu a ideia de apresentar a exposição dentro do Forte da Ilha do Mel, isso tudo por meio do Iphan. Eu conheci o antigo diretor e ele me convidou para apresentar o meu trabalho por lá. E essa exposição ficou na Ilha por quatro anos. Depois, foi deslocada, também pelo Iphan, para a Estação de Antonina”, disse o açoriano.

Conforme Orlando, a mostra de fotografias não tem prazo para encerramento. As obras não estão à venda e seguem apenas para apreciação, mas há a possibilidade, segundo o artista, da solicitação de encomendas dos seus trabalhos. “Elas são somente para visitação e para ilustrar a inserção de Antonina e do Lagamar, que é um complexo biológico superimportante”, complementou.

Outros trabalhos

Além de toda essa trajetória, Orlando de Azevedo também foi fotógrafo publicitário. Ele trabalhou para famosas marcas brasileiras e instituição bancária paranaense. Mas largou esses serviços porque não era do seu agrado registrar produtos que tinham como objetivo influenciar o público. “Já fiz muita fotografia publicitária. Era o que pagava as minhas contas. Fiz para O Boticário, Bamerindus, Batavo e Britânia. A partir de uma época eu não queria mais fazer. Não que eu renegue, porque ela me deu uma formação técnica enorme, mas a fotografia publicitária é quase sempre muito mentirosa. Você tem que despertar o apetite do outro. Parei e me dediquei somente aos projetos pessoais”, explicou.

Fotógrafo passou um ano registrando as regiões de ilha. Foto/Adriano Almeida/JB Litoral








Outras criações também marcam a carreira do português de 72 anos. Ele criou um museu de fotografia na capital paranaense, assim como as bienais internacionais de Curitiba. Azevedo foi diretor de artes visuais da Fundação Cultural da cidade. Essas experiências rendem ao açoriano cinco décadas de muito trabalho dedicado à arte. “Eu tinha marcado uma grande exposição no Museu Oscar Niemeyer, sobre os meus 50 anos da fotografia, mas, por conta da pandemia, foi cancelada”, afirmou o profissional.

Durante a conversa por telefone, Orlando aproveitou para relembrar o início de sua profissão, nos tempos em que a tecnologia não fazia parte da sua realidade. “Eu venho da fotografia analógica. Na época que iniciei, não existia nenhum tipo de curso de fotografia. Mas fiz um por correspondência, no Instituto Universal, o qual também formava técnico em rádio etc. Depois, mais tarde, fui me profissionalizando, mas a minha história é muito do aprendizado e dedicação pessoal”, salientou.

Livro indicado ao prêmio tradicional


Suas andanças e registros históricos renderam a indicação de um dos seus livros à final do Prêmio Jabuti, o qual é considerado um tradicional evento literário brasileiro. A 13ª obra, intitulada “Mestiço, Retratos do Brasil”, é composta por 340 retratos, todos em preto e branco, com o prefácio escrito pelo historiador gaúcho Eduardo Bueno.

Além desse livro, outros foram publicados por Azevedo, sendo: Fitas e Bandeiras Venske (1987); Foz do Iguaçu – Nossa Terra (1988); Jardim de Anões (1994); Coleção Coração do Brasil, três volumes: Homem, Terra e Mito (2002); Iguaçu (2002); Sudarium (2004); Brennand (2004); Expedição Coração do Brasil – Paraná (2008); Expedição Coração do Brasil – Paranaguá Lagamar (2012); Rio Grande/RS (2014).

Orlando de Azevedo conta, também, com produções em vários cantos do Brasil e do mundo, como no International Center of Photography, New York;  Centre Georges Pompidou, Paris;  Museu Francês de Fotografia/Paris; Museu de Arte de São Paulo (MASP); Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM); Instituto Cultural Itaú; Museu de Fotografia Cidade de Curitiba; Empresa Portuguesa das Águas Livres/Lisboa (EPAL); Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro; Museu Afro Brasileiro, São Paulo; Museu Oscar Niemeyer, Curitiba (MON); Fototeca de Cuba, Havana.

Orlando escolhe Antonina para viver


No Brasil desde 1963, depois da vinda de seu pai a trabalho ao país, há um ano, o fotógrafo, músico, curador e editor escolheu Antonina, junto com a sua namorada, para se dedicar ao pensamento e à escrita. Formado em Direito, ele brincou sobre o fato de nunca ter atuado na profissão. “Se precisar fazer uma habeas corpus,eu não vou saber produzir. Eu só concluí, mesmo. Mas foi bem importante para obter uma formação humanística”, contou o pai de dois filhos.

Artista português vive em Antonina há um ano

Apesar de morar no litoral paranaense, Azevedo não possui um estúdio com suas importantes criações. Conforme ele, há um espaço, em Curitiba, onde são abrigadas todas as suas obras. Isso tudo porque há um elevado número de produções. “Eu mantenho um estúdio na capital porque são muitas obras. Embora muitas estejam em vários museus, tem muita coisa. Até por força física, eu tenho que manter esse espaço longe”, reforçou.

Inspiração?


O artista português não acredita em inspiração. Para ele, tudo surge por meio de muito trabalho. Azevedo finalizou a conversa acreditando que são as obras que o seleciona e que tudo é resultado de muito esforço.  “Criação a gente não escolhe, passa a ser escolhido. Passa a ser uma medição da vocação. Claro que ir para a estrada todo mundo fala, ‘que maravilha’, claro que há toda uma recompensa dos lugares e das pessoas que a gente conhece, mas é muito trabalho. E eu não acredito em inspiração, é muita transpiração. Não vamos pelo fator econômico, se fosse por isso, qualquer profissão seria mais rentável, você vai porque é um chamado”, concluiu.

  • orlando de azevedo, antonina
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