“Paraná estava preso na armadilha da sustentabilidade, com interesses econômicos por trás”, diz Guto Silva


Por Redação Publicado 08/07/2022 Atualizado 17/02/2024

Na quinta-feira (30), o deputado estadual e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Estado, Guto Silva (PP), esteve em Paranaguá. Na ocasião, ele visitou a redação do JB Litoral, a prefeitura e, em seguida, foi para Guaraqueçaba.

Na sede do jornal, Guto, que é pré-candidato ao Senado, concedeu uma entrevista em que fala, entre outros assuntos, sobre seu início na política, os próximos objetivos e desejos para o Litoral. Natural de Maringá, se mudou ainda criança para Pato Branco, onde cresceu e iniciou carreira acadêmica, empresarial e política.

Lá, foi eleito vereador e assumiu em 2009 e, ao final do mandato, foi nomeado para o cargo de subchefe da Casa Civil do Paraná, na gestão de Beto Richa (PSDB), em 2012. Em 2014, foi eleito deputado estadual, reeleito em 2018 e, em 2019, assumiu como secretário-chefe da Casa Civil durante o comando do governador Ratinho Junior (PSD). Em janeiro deste ano, Guto deixou o posto para ser pré-candidato ao Senado Federal, nas eleições gerais de outubro.

Em paralelo à atuação política, ele é empresário na área internacional de uma rede de varejo e franquias de inovação. Além disso, também atua como trader, consultor internacional de negócios e professor universitário.

Primeiro político da família


Guto conta que nunca imaginou que seria político, já que em sua família não existem pessoas que tenham ingressado na área. “Fui o primeiro político da minha família e, às vezes, o pessoal ainda torce o nariz”, diz.

Apesar da vida pública, ele não parou de estudar, hoje está finalizando o doutorado e, ainda, passou a dar aulas em faculdades, além de escrever livros sobre comércio exterior. “A minha construção humana na área empresarial, na universidade, que conta com um sistema robusto de inovação, me trouxe uma visão muito forte a respeito das oportunidades que a tecnologia oferece. Isso até gera uma conexão com os mais jovens, pois o ambiente acadêmico é predominantemente jovial”, avalia.

Por isso, quando foi convidado pelo governador Ratinho Junior para ser secretário-chefe da Casa Civil, Guto decidiu criar, dentro do órgão, a superintendência de Inovação, com o objetivo de garantir transversalidade e falar com todos os segmentos do setor. “Aí percebemos que o Paraná tem 6 mil vagas para programadores e desenvolvedores abertas, com salário-mínimo inicial de R$ 5 mil, indo até R$ 15 mil, mas faltam pessoas capacitadas. Por isso, temos um trabalho de capacitar os jovens para serem programadores e desenvolvedores, incluindo robótica nas escolas, para que, lá na frente, a gente consiga absorver esse mercado de trabalho”, comenta.

Tecnologia como solução para o Litoral


No mesmo segmento de inovação, o deputado informa que o Paraná passou a realizar o Programa Qualifica, que pretende oferecer qualificação profissional para que o Estado possa “acender com tecnologia e educação de impacto”. Ele avalia que essa seria uma das soluções para o desemprego no Litoral, por exemplo.

Temos esse grande debate de desenvolvimento [sustentável] que é uma coisa difícil de avançar. Eu diria que a solução do Litoral passa por alguns pilares, como o porto como matriz de serviço, de negócios, melhorando a infraestrutura para Paranaguá e aumentando a importância econômica da região; os serviços, e aí está vinculado o turismo e, por isso, temos que fazer a ponte de Guaratuba, a revitalização e engorda da praia de Matinhos, a faixa de infraestrutura, entre outros”, pondera.

Sobre solucionar os problemas do Litoral através do Senado, ele comenta que “o Senado Federal defende o Estado, se você não der um empurrão, uma chacoalhada, as coisas não vêm para o Paraná. Então o interesse do Paraná tem que ser defendido de forma intransigente”.

Ele diz que um desses interesses seria a compensação financeira ao Estado, já que a maior parte dos tributos vai para a União e retorna “muito pouco” para cá. “Precisamos de mais recursos, ajudamos demais o país, nós temos que ter nossas compensações”, opina.

“Atual representação no Senado é tímida”, diz


Para isso, Guto afirma que os senadores precisam ter “conexão da agenda do Paraná com a agenda de Brasília”. “O Senado, além de ser uma casa revisora de leis, tem uma figura muito forte. O senador precisa estar muito vinculado com a bancada federal, dialogando, conversando com os prefeitos das regiões, identificando quais as suas demandas, e articulando com os ministérios para capitar e resolver problemas também regionais. Não adianta discutir grandes temas, mas o trabalho tem que ser feito de forma prática, precisamos encher a barriga do povo do Paraná, gerar emprego aqui, melhorar a vida das pessoas daqui”, diz.

Para ele, isso não é o que está acontecendo hoje, já que, em sua opinião, a representatividade do Estado no Senado é “muito tímida”. Ele diz que o Paraná não merece os atuais representantes e precisa de voz forte.

Nós somos a quarta economia do país, temos um agro que é orgulho, temos um comércio corajoso que abre suas portas para gerar emprego, uma indústria competitiva. Esse relógio do setor privado do Paraná, que é dinâmico, arrojado, forte, precisa estar representado no Senado. Os senadores estão desconectados com a realidade do Paraná, o povo é trabalhador, vai em frente, vai à luta com garra, nós temos que ter esse espírito como congressistas, defender os interesses, erguer a bandeira”, comenta.

O JB Litoral questionou se, caso eleito para o cargo, Guto cumpriria os oito anos de mandato, uma vez que se licenciou da Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP) durante a maior parte do mandato como deputado estadual, em 2019, para ser chefe da Casa Civil. De acordo com ele, sim, já que “não teria lógica tomar uma posição no Senado e voltar a ser secretário de Estado, você estaria dando um passo para trás”.

Sustentabilidade x Economia


Sobre o Litoral do Paraná, ele considera que a região ficou muito tempo “presa a um modelo ideológico, individual, de divisão do Litoral”. Para ele, o Estado esteve à mercê de promotores de justiça e lobby econômico que teriam o interesse de que a região não se desenvolvesse.

Não acredito que não seja possível coordenar, harmonizar os interesses de sustentabilidade com os interesses de desenvolvimento humano e pessoal. Cansamos de ficar vendo o desenvolvimento de Santa Catarina com emprego e renda, com os paranaenses indo gastar lá. Nós não temos a mesma condição por quê?”, questiona.

Ele destaca que o Paraná já perdeu mais de duas décadas preso em uma armadilha de sustentabilidade, com interesses econômicos, e que, agora, o Estado irá para o enfrentamento. “Ninguém quer ver o modelo econômico usurpando o meio ambiente e a sustentabilidade. Mas se não dermos condição para a população de emprego e renda, teremos invasões de áreas protegidas, corte de árvores, para uma busca por moradia, por exemplo. Qual é o bom senso desse processo? Precisa ter equilíbrio, se a população não tiver condições, vai ter invasão, vamos estar desmatando, gerando problemas sociais que não são resolvidos pela pauta da sustentabilidade”, reflete.

“Não existe sustentabilidade com pobreza”


Em sua visão, poucos membros do Ministério Público do Paraná (MPPR) atrasaram o desenvolvimento do Litoral do Paraná. “Ninguém queria enfrentar, tinha ONGs por trás financiando o jogo econômico, utilizando até mesmo a boa vontade do membro do MPPR para atrasar os processos. O Paraná precisa fazer esse enfrentamento. Será prosperidade para novas gerações e a garantia de sustentabilidade, porque não existe sustentabilidade com pobreza, com impacto social negativo. A pauta da sustentabilidade é inteligente, é leve, gastar menos recursos com inteligência e poder para melhorar a vida das pessoas; não é só deixar a árvore em pé e a população morrendo de fome. Vamos encontrar mecanismos para criar valor para deixar a árvore e gerar empregos para os jovens”, diz.

Guto afirma que esse enfrentamento e transformação do Estado começou no governo Ratinho Junior e deve ser levado para Brasília. “O Paraná é flexível, resiliente, rápido, ágil, dinâmico. Sou apaixonado pelo Estado e precisamos levar esse jeito novo com sinceridade, franqueza, bom senso e harmonia à Brasília, para podermos fazer as coisas acontecerem. O Paraná ajuda demais o Brasil, temos que ter um tratamento diferente, mais recursos, mais investimentos para melhorar a vida das pessoas”, finaliza.