Paranaguá realiza caminhada contra o feminicídio e autoridades destacam importância do enfrentamento à violência contra a mulher
No último sábado (22), as ruas do Centro Histórico de Paranaguá deram lugar à campanha Paraná Unido no Combate ao Feminicídio, que reuniu milhares de participantes em 70 municípios do estado.
A iniciativa promovida pela Secretaria Estadual da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa em parceria com a Secretaria da Mulher de Paranaguá teve como ponto de encontro a Praça Fernando Amaro e atravessou as ruas Dr. Leocádio e Marechal Deodoro, finalizando na Catedral Nossa Senhora do Santíssimo Rosário.
De acordo com a secretária da Mulher, Vandecy Dutra, iniciativas de conscientização contra o feminicídio e a violência contra a mulher são de suma importância no estado, que nos primeiros seis meses do ano registrou 66 assassinatos de mulheres enquadrados no crime de feminicídio.
“A Secretaria da Mulher existe para evitar que essa violência se instale, oferecendo apoio e políticas públicas para as mulheres. Nossa missão é garantir direitos, emprego, renda e todo o apoio necessário para que as mulheres não cheguem a essa triste situação, que é o desfecho de um longo ciclo de violência”, destaca a secretária.
Para a secretária, a realização da caminhada no Dia Estadual de Combate ao Feminicídio, criado em memória à advogada Tatiane Spitzner, que foi assassinada em 2018 pelo marido, possui uma forte simbologia, pois demonstra que todas as mulheres estão vulneráveis ao crime.
“É uma triste realidade, mas a sociedade pode se mobilizar apoiando políticas públicas voltadas para as mulheres, conscientizando sobre a violência de gênero e denunciando casos de agressão. É uma luta que precisa envolver todos nós”, afirma Vandecy.
Feminicídio no Paraná
Em 2022, o estado foi o sexto com maior número de feminicídios em todo o país, com a marca de 77 assassinatos. Já neste ano, o Paraná desponta em terceiro lugar, com 62 mortes de mulheres no primeiro semestre, conforme relatório do Monitor de Feminicídios no Brasil, elaborado pelo Laboratório de Estudos de Feminicídio (Lesfem) da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Uma ferida aberta na família
A violência doméstica, ciclo que se não combatido leva ao feminicídio, não se limita apenas ao cônjuge, mas também afeta os filhos e toda a família, é o que explica o delegado Emmanuel Brandão, do Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes (NUCRIA).
“Esse fenômeno ocorre quando o agressor não se limita a cometer atos violentos apenas contra a própria esposa ou companheira, mas também desencadeia um ciclo de violência com os filhos. Isso pode incluir violência psicológica, que causa traumas nas crianças, que acabam sendo vítimas desse ciclo de violência, e é justamente isso que o NUCRIA procura combater”, salienta o delegado.
O barbeiro Jonas Luiz Alves Rocha, filho da matinhense Claudete Alves, que foi assassinada pelo marido em agosto de 2022, é testemunha das sequelas da violência doméstica. Quase um ano após o ocorrido, a ferida permanece aberta na família, que aguarda o julgamento.
“Pedimos justiça não apenas para nossa mãe, mas para todas as vítimas de feminicídio. Estamos unidos a muitas outras famílias em mais de setenta cidades do Paraná, buscando o fim dessa prática que está tirando as mães de seus lares”, ressalta Jonas.
Para o filho, a lentidão do processo judiciário e a impunidade dos agressores são motivo de sofrimento para a família que, por meio de mobilizações, busca incentivar outras mulheres a denunciarem casos de violência.
“A mensagem que queremos deixar é para que as mulheres não se calem, não façam como nossa mãe fez. Precisamos que todas as mulheres enfrentem essa luta juntas. E também pedimos que a população lute conosco na busca por justiça”, acrescenta.
Denunciar faz a diferença
O delegado da Polícia Civil, Ivan da Silva, fala sobre a importância de identificar os sinais sutis que antecedem a violência contra a mulher. Ele explica que é essencial que as vítimas registrem o Boletim de Ocorrência mesmo em casos mais simples como a agressão verbal para evitar a evolução do ciclo.
“Com o registro, a vítima pode solicitar medidas protetivas de urgência e o Estado pode oferecer uma resposta mais rápida e eficaz para evitar que a situação se torne ainda mais perigosa”, acrescenta.
A comandante da Patrulha da Mulher da Guarda Civil Municipal, Márcia Garcia, conta que a unidade acompanha 400 medidas protetivas no município e que realiza visitas preventivas para orientar e garantir a segurança das mulheres.
“O trabalho preventivo é de extrema importância, pois existem mulheres que não têm coragem de denunciar os agressores. Nós realizamos visitas porque, muitas vezes, o agressor acredita que nunca será denunciado ou sofrerá consequências, mas essas visitas têm sido muito eficazes na prevenção de casos graves”, destaca.
Em Paranaguá, é possível denunciar casos de violência contra a mulher pelo aplicativo 153 Cidadão, que dispõe de botão para crimes que se encaixam na Lei Maria da Penha, além do telefone 41 3220-2947 da Patrulha Maria da Penha.