Paranaguá recebe o espetáculo Prometheus – A tragédia do fogo


Por Redação JB Litoral Publicado 15/01/2014 Atualizado 14/02/2024

O espetáculo recebeu o prêmio Shell de Teatro, nas categorias Música e Figurino e foi selecionado para representar o Brasil nos festivais de Avignon e Edimburgo — Brasil em Cena. Participou também dos festivais de Presidente Prudente, Festival de Inverno de São João del Rey, Abril Pra Cena (Registro/SP).

Há quatro anos em cartaz, o espetáculo Prometheus – a tragédia do fogo, contemplado no programa de circulação da Petrobrás Distribuidora S.A. 2012, realiza em janeiro de 2014, pela primeira vez, uma turnê pelos estados do Paraná (Londrina e Paranaguá) e Santa Catarina (Itajaí, Joinville e Blumenau).

               O espetáculo Prometheus – a tragédia do fogo resulta de uma longa e profunda pesquisa artística envolvendo o núcleo de artistas da Cia Teatro Balagan e artistas convidados, iniciada em janeiro de 2008 e que se desdobrou em várias etapas de criação de um espetáculo a partir do mito de Prometeu. 

               O trabalho foi construído a partir de princípios e modos de criação que permeiam a história da Balagan, uma das companhias mais importantes da cena contemporânea paulista, como o trabalho com a palavra, as formas narrativas como base da encenação, o papel do coro como protagonista da ação cênica e, por último, a dança e o canto como matérias expressivas da escritura cênica.

O mito de Prometeu

O mito de Prometeu é um mito fundador no mundo grego, vinculado à criação do homem e a sua capacidade de conhecimento. Não há etimologia precisa para a palavra grega ????? (mythos), provavelmente surge da raiz sânscrita mu a qual dá origem também a palavra mudo. Portanto, cabe especular que o mito é palavra, mas atrás desta palavra esconde-se uma mudez, um silêncio intraduzível.

Nas Metamorfoses de Ovídio, Prometeu está intimamente ligado ao elemento humano por ter sido o autor da criação do homem à imagem dos deuses a partir de uma porção de lodo. Antes, como Hesíodo expressa nos seus poemas Teogonia e Os Trabalhos e os Dias, Prometeu, um dos titãs, foi também quem deu o fogo aos humanos. Em uma guerra pelo poder, o titã, tendo lutado contra sua própria linhagem, permanece ao lado de Zeus, que o responsabiliza pela distribuição, entre homens e a natureza, dos dons divinos. Prometeu (aquele que pensa antes) divide tal responsabilidade com seu duplo, Epimeteu (aquele que pensa depois). Este, imprudente, distribui todas as qualidades aos animais esquecendo-se do homem.  Zeus, insatisfeito com tal distribuição e tendo sido ludibriado em favor dos humanos por Prometeu, na repartição dos lotes de um sacrifício, expulsa os homens do banquete divino. 

Em resposta à separação entre homens e deuses, Prometeu rouba o fogo criado pelo ferreiro Hefesto, escondendo-o em uma férula oca. Prometeu teria ensinado os homens a usar o fogo, proporcionando ao homem o conhecimento, a aritmética, as artes, a domesticação de animais e a adivinhação do futuro. Para castigar Prometeu, Zeus pede a outros deuses que criem a primeira mulher, Pandora, carregando uma caixa onde estariam todos os males do mundo. Oferecida como presente ao titã previdente, Prometeu, quem acaba por abrir a caixa de Pandora é o imprudente Epimeteu. Os males então são distribuídos à humanidade, restando na caixa apenas a esperança (ou expectação). Instaura-se assim o tempo e a mortalidade. Furioso, Zeus ordena que ele seja preso ao Cáucaso para ser torturado por Éthon, uma águia filha do monstro Tífon, que durante o dia lhe devora o fígado incessantemente; mas este regenera-se durante a noite.  Dois mil anos depois, Prometeu é libertado por Hércules, que mata a águia.

Sinopse

Em Prometheus – a tragédia do fogo as vozes dos atores-narradores, das figuras presentes no mito e do coro se sobrepõem e se articulam no relato dos diversos acontecimentos que compõem o mito prometéico – a criação do homem, a separação dos deuses e dos homens, a separação do homem e da natureza, a separação dos irmãos Prometeu/Epimeteu, o roubo do fogo, a condenação do titã ao Cáucaso e sua libertação, a morte da Águia, entre outros.

Encenação

A encenação, ainda que tenha a palavra como meio expressivo, é tecida a partir das relações, paralelos e fricções com outras matérias expressivas: o espaço cênico, a sonoridade, os cantos gregos e as danças afro-brasileiras.  A teia da escritura cênica se organiza a partir do coro de atores e das diferentes vozes que emergem do mito cruzando mundos que, aparentemente, são apartados – o passado e o presente, o tempo mítico e o tempo cronológico, as mitologias grega e africana, etc. –  resultando em um espetáculo para ser visto como os ouvidos e escutado com os olhos.

A Dramaturgia

A composição e dinâmicas das narrativas tradicionais iluminou a construção do espetáculo Prometheus – a tragédia do fogo. A dramaturgia inédita, construída por Leonardo Moreira, articula e fricciona, a partir dos Estudos Cênicos criados pelos atores, diversas fontes, literárias ou não, tais como: Prometeu Cadeeiro (em grego arcaico e sua tradução para o português) e os fragmentos das duas outras tragédias da trilogia – Prometeu Portador de Fogo e Prometeu Liberto – de Ésquilo, A Libertação de Prometeu de H. Müller, além de poemas e trechos de obras de autores como Goethe, Franz Kafka, Pirandello, André Gide, Kazantzakis, entre outros.

A Sonoridade

A composição sonora, composta por Gregory Slivar, é uma voz narrativa e se baseia na voz humana e na sonoridade de instrumentos artesanais especialmente construídos para o espetáculo – pedras, vasos, bastões, etc. Ancorada na preparação vocal realizada pelo ator e músico Jean Pierre Kaletrianos – que transmitiu aos atores cantos e trechos de textos em grego  – a vocalidade que surge do Coro, como elemento mediador de toda ação cênica, é responsável pela teia sonora do espetáculo.

O Espaço Cênico

Esta multiplicidade de perspectivas é materializada no espaço cênico proposto por Márcio Medina, composto por duas cortinas de papel envelhecidas com figuras rupestres, que, ao serem manipuladas pelo coro de atores, reconfiguram os espaços de atuação ao longo do espetáculo. Deste modo, ora o espectador pode ver todo o espaço, ora ele se desdobra em dois, três ou quatro partes, transformando-se continuamente. Os figurinos, ao contrário, sugerem uma permanência no tratamento visual a partir da criação de um conjunto de figuras sem tempo ou lugar, saídas do barro, que adquirem singularidade somente a partir das narrativas que contam. Assista aqui no site um teaser na aba “video” para ter noção do que será este grande espetáculo.

Ficha Técnica

Ana Chiesa Yokoyama

Antonio Salvador

Gisele Petty

Gustavo Xella

Jean Pierre Kaletrianos

Leonardo Antunes

Natacha Dias

Hilda Gil

Martha Travassos

Vera Monteiro

Wellington Campos

Direção

Maria Thaís

Dramaturgia

Leonardo Moreira

Cenografia

Márcio Medina

Figurino

Carol Badra e Marcio Medina

Iluminação

Fábio Retti

Direção musical

Gregory Slivar

Preparador Corporal – Dança dos Orixás

Wellington Campos

Preparação Vocal

Jean Pierre Kaletrianos

Operador de Luz  e Diretor Técnico

Bruno Garcia

Produção  Executiva

Norma Lyds

Administração

Marcos Tadeus

Administração Geral

Maria Thais e Débora Penefiel

Direção de Produção

Cia Teatro Balagan

Sobre a Cia Teatro Balagan

Com quatorze anos de existência, a Cia Teatro Balagan originou-se a partir de um núcleo de pesquisas práticas, coordenado por Maria Thaís, em torno das proposições para o ator e dos Estudos biomecânicos,criados pelo encenador russo V. Meyerhold. Quatro anos depois, em 1999, alguns dos artistas envolvidos naquele núcleo realizaram o primeiro espetáculo da Cia, Sacromaquia, que abordava a clausura humana na perspectiva do feminino, metaforizada na eterna busca pelo sagrado. Sacromaquia estreou em 2000, no Sesc Belenzinho em São Paulo, tendo participado do Festival de Teatro de Curitiba (2001), recebeu o Prêmio Shell de Cenografia, o Prêmio Avon de Maquiagem e a indicação ao Prêmio Shell de Iluminação.

Em 2002, a Cia estreou no Sesc Belenzinho o espetáculo A Besta na Lua que também cumpriu temporada no Teatro Augusta. Participou do Festival Porto Alegre em Cena e fez a Viagem Teatral do Sesi.

Como um espelho invertido do primeiro espetáculo, a Balagan criou Tauromaquia, no qual a clausura humana sob o ponto de vista masculino se configurava na eterno deslocamento do homem em imensas extensões de terra, o sertão brasileiro. A peça estreou em 2004, como continuidade do Projeto Vaqueiros (2003), que se consistiu em uma residência artística da Cia na Oficina Cultural Oswald de Andrade. Tauromaquia fez sua pré-estréia em 2004 no Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto e estreou em São Paulo no Sesc Consolação, neste mesmo ano. Em 2005, realizou temporada no Teatro João Caetano; apresentou-se no Sesc Santos; viajou na Caravana Funarte de Circulação Sul/Sudeste por cidades do interior de São Paulo eRio de Janeiro; participou de Festivais de Inverno em Minas Gerais (Itabira, Diamantina e Ouro Preto) e foi convidado pelo Grupo Galpão no Projeto Galpão Convida em Belo Horizonte; ainda neste ano apresentou-se noFestival Goiânia em Cena. Em 2006 foi contemplado com o Edital Caixa Cultural, cumprindo temporada no Teatro Nelson Rodrigues no Rio de Janeiro; apresentou-se no Teatro Centro de Convivência em Campinas e curta temporada no Teatro da Universidade de São Paulo. Tauromaquia recebeu o Prêmio Shell de Iluminação, o Prêmio Avon de Maquiagem e foi indicado ao Prêmio Shell de Cenografia.

Em 2006, ao ser contemplada pela primeira vez com O Programa Municipal de Fomento para o Teatro na cidade de São Paulo, o tema da clausura humana foi retomado pela Cia, dando origem a Západ – A Tragédia do Poder, espetáculo com três partes respectivamente escritas por Alessandro Toller, Newton Moreno e Luis Alberto de Abreu; a peça apresentava a clausura humana no exercício do poder, sob diferentes perspectivas. A temporada no TUSP conjugou apresentações, oficinas, wokshops, palestras e ensaios abertos.

As questões de Západ  deram origem ao projeto seguinte da Cia, DO INUMANO AO mais-HUMANO, que em 2007 também contou com o apoio do Programa Municipal de Fomento ao Teatro. Agora com uma sede, a Casa Balagan, a Cia se debruçou em uma ação com duas frentes, ambas voltadas para a formação: a dos próprios artistas da Cia e a Formação do Olhar para o Teatro, voltada para o espectador. Durante treze meses os atores investigaram os elementos de composição da cena em todas suas instâncias (atuação, direção, cenografia, figurinos, adereços, iluminação, dramaturgia, etc.) e desenvolveram Estudos Cênicos a partir de temas associados à idéia de Inumano: o Trágico, o Grotesco, a Natureza e o Animal. A última etapa do trabalho, o mais-HUMANO, foi conduzida pelo encenador e pedagogo teatral russo, Jurij Alshitz. Com ele, um quinto Estudo Cênico foi composto a partir da obra de Anton Tchekov.

Nesta fase, a Cia Teatro Balagan promoveu paralelamente outras atividades na Casa Balagan, envolvendo os próprios artistas e outros criadores, como o Culinária Teatral, e o Balagan Acolhe, tendo recebido nessas ações grupos como Sobrevento, Casa Laboratório, Cia Nova Dança 4, Atropofágica, Grupo XIX, Os Fofos Encenam, Dolores Boca Aberta, VaraSanta (Colombia), além de artistas como João das Neves e Danieli Finza.

Em 2009, ao completar uma década de existência, a Cia deu inicio à pesquisa de Prometheus Nostos, com a finalidade de aprofundar temas presentes no projeto anterior, como o trágico. Paralelamente, deu continuidade também ao aprofundamento de outro tema, o animal, a partir do qual se construiu espetáculo Recusa, de 2012. Essas duas pesquisas paralelas geraram o projeto O Trágico e o Animal, com o qual a Cia Teatro Balagan foi contemplada, pela terceira vez, em 2010, pela Lei de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo.

Em 2011, após um processo de criação em itinerância por sete espaços de grupos teatrais da cidade de São Paulo e também por outras cidades de São Paulo e Minas Gerais, a Balagan estreou, no TUSP a obra Prometheus – a tragédia do fogo, que recebeu o prêmio Shell de Teatro, nas categorias Música e Figurino. Prometheus foi selecionado no Festival Brasil em Cena, para representar o Brasil nos festivais de Avignon e Edimburgo. Participou também dos festivais de Presidente Prudente, Festival de Inverno de São João del Rey, Abril Pra Cena (Registro/SP).

Recusa recebeu o prêmio Shell de Teatro nas categorias Direção e Cenário, o Prêmio da Associação Paulista de Teatro, para os atores Antonio Salvador e Eduardo Okamoto, e o Prêmio da Cooperativa Paulista de Teatro, nas categorias Espetáculo de Sala e Projeto Sonoro. O espetáculo participou dos Festivais de Curitiba, Cena Contemporânea, Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana, Festival Internacional de Londrina, Festival Latino Americano de Teatro de Uberlândia, Caxias em Cena, X Circuito Tusp de Teatro, Festival internacional de Angra, Festival Nacional Cidade de Vitória, e do Projeto Perspectivas Intercambiáveis: o teatro na Aldeia Gapgir – com apresentações em Rondônia e São Paulo.

Em 2013, a Cia começou seu novo projeto Cabras – cabeças que voam, cabeças que rolam, contemplado com a Lei de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo.

Ao longo de 14 anos de existência, a Cia sempre preservou sua natureza de pesquisa e a formação continuada de seus artistas, paralelamente à criação de seis obras.

Paranaguá/PR

PROMETHEUS – a tragédia do fogo

Dias: 18 e 19/1/2014

Sábado e Domingo às 17hs

Local: CLAUSTRO / MAE – Museu de Arqueologia e Etnologia da UFPR

Rua General Carneiro, s/n – Centro – CEP 83203-280 – Paranaguá – PR

Telefone: 41-37211200

Lotação: 100 lugares

Valor: Entrada Franca – retirada de ingressos 1 antes dos início da sessão

LIVRE – até 12 anos, acompanhado pelos pais

Oficina

Dias: 19/01

Horário: das 9.30h ás 12.30h

Local – Auditório do MAE

20 vagas – Gratuito

Inscrições: através do email contato@ciateatrobalagan.com.br 

Sobre a Oficina

Desenvolvida pela diretora Maria Thais Dias da Cia Teatro Balagan a ação artística-pedagógica pretende aproximar os interessados dos procedimentos teatrais desenvolvidos no processo de criação do espetáculo Prometheus – a tragédia do fogo. A ação tem por objetivo aproximar os participantes do universo temático do espetáculo (a mitologia grega e o mito de Prometeu) e permitir o desvendamento de algumas camadas da linguagem teatral adotada pelo mesmo, considerando sua forma narrativa e suas matérias expressivas – o espaço, a música, a iluminação, a dramaturgia, a atuação etc.