Pequenos negócios estão em fase de recuperação, mas falta de acesso aos créditos ainda é problema


Por Luiza Rampelotti Publicado 31/08/2020 Atualizado 15/02/2024

Apesar das dificuldades causadas pela pandemia do coronavírus, especialmente no setor econômico do país, as micro e pequenas empresas, localizadas no Paraná, têm iniciado o processo de recuperação e voltado a funcionar, mesmo em meio às restrições. É o que revela a Pesquisa de Impacto da Pandemia nos Pequenos Negócios, realizada pelo Sebrae, em parceria com a FGV, no final de julho, que analisou 6.056 empresários em todo o Brasil, sendo 641 deles paranaenses.

Segundo o estudo, 79% dos pequenos negócios no Estado estão funcionando e, desses, 64% tiveram que passar por alguma mudança para se adaptar e resistir à crise. A média estadual é melhor do que a brasileira, que aponta 76% de funcionamento.

A pesquisa mostra, ainda, indicadores favoráveis que demonstram uma leve melhora no cenário econômico. No final de junho, 37% dos empresários possuíam empréstimos ou dívidas em atraso e, em julho, esse número caiu para 32%. Além disso, 32% das empresas paranaenses não possuem qualquer dívida ou empréstimo.

A melhora pode estar relacionada ao expressivo crescimento na proporção de empresas que buscaram empréstimos desde o início da pandemia. Entre a última semana de março e a última semana de julho, o percentual de pequenos negócios que solicitaram crédito saltou de 30% para 54%, em todo o Brasil. Já no Paraná, 49% das empresas pediram empréstimos em julho.

No entanto, o aumento da demanda não foi acompanhado, na mesma velocidade, pela oferta de recursos por parte do sistema financeiro, ou seja, muitos empresários que buscaram os créditos não conseguiram obtê-los. Apenas 32% dos empreendedores paranaenses já conseguiram acessar o dinheiro, enquanto que 47% dos pedidos foram negados.

Situação das pequenas empresas no litoral

O levantamento do Sebrae indica que as empresas situadas em lojas de rua apresentam o melhor desempenho em comparação àquelas que funcionam em locais com maior risco de aglomerações, como em feiras ou shoppings. Nesse sentido, apenas 12% das lojas de rua continuam fechadas no Paraná, porém, 42% das localizadas dentro dos shoppings ainda estão com o funcionamento interrompido.

No litoral paranaense, não existe nenhum shopping em espaço fechado instalado, e uma das únicas galerias da região, que abriga dezenas de lojas no mesmo local, o Shopping Estação Mall, em Paranaguá, funciona a céu aberto e já teve a reabertura permitida por decreto municipal. A maioria dos demais comércios se localiza nas ruas, possibilitando o distanciamento social obrigatório.

Por isso, embora não tenha sido realizada nenhuma pesquisa local com os empresários da região, a consultora de negócios do Sebrae Paraná, Catiane dos Santos, em entrevista ao JB Litoral, afirma que os números positivos, alcançados pelo Estado, demonstram proporcionalidade com o litoral, considerando a área de abrangência do estudo.

Segundo ela, existem 38.300 mil pequenos negócios na região litorânea e grande parte das microempresas já está iniciando o processo de retomada. “Porém, sabemos que ainda teremos uma longa e difícil caminhada pela frente. O momento é de repensar o modelo de negócios, de reavaliar a proposta de valor, revisitar carteira de clientes e, mais do que nunca, observar o comportamento deles, além de analisar se, mesmo após a pandemia e com tantas mudanças de comportamentos, a empresa ainda é capaz de atender as necessidades desse cliente dentro de uma realidade completamente transformada”, diz.

Consultora de negócios do Sebrae comenta que os empreendedores ainda têm “uma longa e difícil caminhada pela frente”. Foto: Divulgação

Dívidas contraídas

Como já citado anteriormente, muitos empreendedores não conseguiram ter acesso aos recursos oferecidos pelo sistema financeiro, como créditos e empréstimos. No litoral, isso também aconteceu e contribuiu para a aquisição de dívidas, piorando o cenário empresarial local.

Para se manter durante esse período de pandemia, os pequenos negócios da região estão cortando os gastos dentro do possível, isto é, a economicidade está sendo praticada à exaustão. Também houve uma grande busca por crédito, porém, devido à alta demanda e outros fatores, como a não flexibilização quanto à inadimplência anterior à pandemia, algumas empresas acabaram não conseguindo o crédito solicitado”, explica Catiane. Em função disso, ela comenta que apesar de boa parte das micro e pequenas empresas estarem conseguindo se recuperar, outra parcela ficou em uma situação ainda mais complicada.

A dificuldade é observada por meio dos pedidos de créditos realizados à Fomento Paraná. Enquanto que durante todo o ano de 2019 foram solicitados 05 mil pedidos de empréstimos, em maio deste ano já estavam em fase de análise mais de 25 mil. “Com isso, podemos ter uma noção do tamanho do comprometimento financeiro que nossos empresários se encontram”, conclui a consultora.