“Perdi minha alma, perdi tudo”, diz esposa de motoboy parnanguara vítima de acidente na BR-277


Por Luiza Rampelotti Publicado 11/08/2020 Atualizado 15/02/2024

O Dia dos Pais, comemorado no domingo (09), foi de muita alegria para o parnanguara Gustavo do Rosário Lima, de 27 anos, e sua esposa Sabrina Francine Nogatz Lima, de 26. O casal celebrou a data especial junto ao pai de Gustavo, em São José dos Pinhas, e, no período da noite, decidiu voltar à Paranaguá, pois ele ainda iria trabalhar como motoboy. Porém, no retorno para a cidade, um trágico acidente mudou o desfecho do que teria sido um dia maravilhoso.

Os dois vinham na mesma motocicleta pela BR-277 quando, na altura do KM 37, na região de Morretes, se envolveram em um atropelamento. O garoto Cleverson Lourenço Camargo, de apenas 14 anos, tentava atravessar a rodovia quando foi atingido pela moto e faleceu no local. Já Gustavo e Sabrina foram levados com vida para o Hospital Regional do Litoral (HRL), mas Lima não resistiu aos graves ferimentos e veio a óbito na segunda-feira (10). Sua esposa já recebeu alta.

Gustavo era motoboy há cerca de cinco anos. Muito querido pelos colegas de profissão, eles contam que Lima, como gostava de ser chamado, era um “rapaz sonhador, tinha seus objetivos a serem alcançados, muito brincalhão e o melhor de tudo, de ótimo coração, prestava ajuda a qualquer um sem pensar duas vezes”.

Motoboys prestaram uma última homenagem

Por isso, Jeferson Borba, também motoboy e administrador do grupo de WhatsApp Motoboys Paranaguá e Litoral, que congrega, aproximadamente, 150 profissionais, decidiu reunir os colegas para que pudessem prestar uma última homenagem ao amigo. Nesta terça-feira (11), mais de 50 motoboys realizaram o cortejo fúnebre que acompanhou o corpo de Gustavo desde a saída da funerária Nossa Senhora do Rocio, até o enterro, no Cemitério Municipal São Benedito, às 10h.

A notícia do falecimento do Lima 066, como ele gostava de ser chamado, nos pegou de surpresa. Foi um choque para todos, pois, umas três horas antes do acidente ele postou uma foto no grupo enquanto estava em São José dos Pinhais, mas aquela foi a última mensagem. Então, logo após sabermos do ocorrido, começamos a nos mobilizar para tentar prestar uma homenagem a ele”, conta.

Outro colega de profissão, Sandro Nunes, também relembra com carinho sobre Gustavo. “Ele era um garoto muito bom, sonhador, tinha um amor imensurável por sua esposa. É com muita tristeza que recebemos a notícia, mas quisemos prestar nossa última homenagem, também em solidariedade à família. Nós, motoboys, nos apoiamos muito sempre”, diz.

A viúva comenta sobre a preocupação com a profissão do marido e pede mais respeito por todos os motoboys. “Todos eles devem ser respeitados, tanto no trânsito quanto pelas pessoas que os maltratam porque a comida demorou, nem sempre a culpa é deles, há um longo percurso até a comida chegar, desde o atendimento primário, a cozinha, os perigos no trânsito. Minha maior alegria era quando meu marido chegava inteiro em casa e fazia dengo no portão para eu abrir. Os motoboys trabalham para sustentar suas famílias, levar o pão de cada dia para casa, e muitas vezes a gente não faz ideia de tantos obstáculos e perigos que enfrentam”, relata.

Casal tinha planos para ter filho

Sabrina e Gustavo estavam juntos há cerca de 10 anos e ainda não tinham filhos, mas a chegada de um bebê estava nos planos a curto prazo. “A gente queria ter nosso neném nesse ano, construir o quarto do bebê”, se emociona Sabrina.

Ela conta que os dois se conheceram quando ainda estudavam, no 3º ano do Ensino Médio. “Logo de início, quando nos vimos, sabíamos que era amor para a vida toda. Quando ainda nem tínhamos nos beijado, ele me perguntou se eu queria ser sua mulher para sempre, e eu disse sim, sem nem pensar, pois já sabia que ele seria o único homem da minha vida”, relembra.  

Assim como todo casal, eles passaram por momentos difíceis, mas Sabrina diz que toda dificuldade sempre foi superada por meio da união dos dois. “Passamos por muitos momentos maravilhosos e outros difíceis, mas sempre superamos juntos, pois tínhamos um ao outro e não importa o que acontecesse, eu sabia que ele estaria lá para me dar suporte e forças”.

Se não fosse o destino ter pregado essa peça de mal gosto, que ceifou a vida de dois jovens e destruiu duas famílias, no próximo sábado (15), Lima e Sabrina iriam fazer sua primeira viagem longa. “Seria mais de 10h de viagem, ele iria me pegar depois do serviço, às 22h, e iríamos direto pegar a estrada. Estávamos ansiosos e cheios de alegria para mais uma de nossas aventuras. Éramos parceiros, companheiros para tudo”, diz ela.

Gustavo e Sabrina estavam juntos há 10 anos (Foto/Reprodução Facebook)

Esposa estava na moto

Sabrina acompanhava Gustavo durante a viagem de volta à Paranaguá. Por sorte, não sofreu ferimentos graves. Ela conta sobre o momento exato do acidente. “Apareceu uma pessoa a pé, do nada, na pista. Só senti a pancada, mas não sei bem quanto tempo fiquei desacordada. Quando acordei, com a cabeça zumbindo, fui direto até ele, que estava de bruços, e o desvirei para não o sufocar, pois sou socorrista, mas ele já estava desacordado, não respondia”, relembra.

O casal foi levado até o HRL na mesma ambulância. “Os médicos fizeram o que podiam para salvar o meu amor, mas a pancada foi muito grande. Fico me questionando por que Deus o levou ao invés de mim, porque eu estava com o capacete aberto embaixo e o dele era todo fechado. Até no acidente, eu não sei como, ele me protegeu, pois não sofri nada na cabeça. Ele sempre foi e sempre será meu herói, meu amor, minha vida. Agora perdi minha razão, minha alma, perdi tudo”, lamenta Sabrina.