Pescadores artesanais do litoral driblam a crise e passam a vender tainha pela internet


Por Luiza Rampelotti Publicado 19/05/2020 Atualizado 15/02/2024
Peixes tainhas

Pescadores das comunidades tradicionais do litoral do Paraná decidiram driblar a crise financeira imposta pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19) e tentar manter a renda durante esse difícil momento econômico. Para isso, 23 famílias caiçaras das comunidades de Barbados, Tibicanga, Bertioga e Superagui, em Guaraqueçaba, aderiram à venda online da tainha (que está em temporada de pesca).

É possível fazer a encomenda pela internet e retirar os peixes diretamente com os pescadores na Rua da Praia, em Paranaguá, aos sábados, em horários pré-agendados. Os valores variam de R$ 12 a R$ 27, dependendo da quantidade de quilos comprada.

No litoral paranaense, com restaurantes e mercados fechados devido às medidas de isolamento social adotadas pelo Estado e Municípios, a comercialização de pescado tornou-se incerta, comprometendo a renda de diversas famílias de pescadores artesanais. Em resposta a esta crise, os Cerqueiros de Guaraqueçaba passaram a organizar a venda direta de tainha, nos próximos meses, por meio da internet.

As tainhas são pescadas através do tradicional cerco-fixo, uma modalidade de pesca social e ecologicamente responsável. Na época da captura, que vai de 01 de maio a 31 de julho, o cerco é o que sustenta as famílias de pescadores artesanais das comunidades tradicionais do litoral.

De acordo com o pescador artesanal Cláudio de Araújo Nunes, um dos coordenadores do Movimento dos Pescadores Artesanais do Litoral do Paraná (Mopear), a entrega está acontecendo seguindo às determinações dos decretos municipais que disciplinam as medidas de combate ao coronavírus. “Sem aglomeração de pessoas. A gente usa máscaras, luvas e álcool em gel. Estamos bem equipados para não trazer a doença para as nossas comunidades”, garante.  

Proibição da pesca afetou às comunidades

De 2003 a 2018, a atividade tradicional do cerco-fixo ficou proibida na região, devido à Portaria nº 12/2003, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Além disto, o Decreto nº 97.688/89, que criou o Parque Nacional do Superagui, determinou a desapropriação da área, que passou a ser considerada utilidade pública e subordinada ao Ibama.

Em 2018, o Mopear, em conjunto com pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e do Instituto Federal do Paraná (IFPR) iniciou uma pesquisa sobre a modalidade de pesca. “O cerco ainda está em fase de estudo, mas a gente está lutando para fazer voltar essa prática tradicional. Queremos comprovar que o cerco-fixo não traz impacto à natureza, ao parque, a nada. É uma prática tradicional feita com manejo adequado ao modo de vida dos pescadores”, afirma Nunes.

Os Cerqueiros de Guaraqueçaba lutam para que a prática do cerco-fixo seja novamente regularizada. Foto: Cerqueiros de Guaraqueçaba

A pesquisa é liderada pelo professor Roberto Martins de Souza, coordenador do Núcleo de Defesa de Direitos dos Povos Tradicionais da IFPR, e pelo professor Marcelo Cunha Varella, da UFPR. “O estudo surgiu de uma provocação do Mopear, em 2014 e 2015, a qual se deve a não justificativa do porquê proibir essa pesca, que é um componente fundamental na economia desses pescadores da baía de Guaraqueçaba, sobretudo no inverno. Nessa época, os pescadores passam necessidade, e essa pesca do cerco era uma forma de obter uma renda adicional”, explica o professor Roberto.

De acordo com ele, a partir de então, foram negociadas as condições para que a pesquisa acontecesse, junto ao ICMBio, uma vez que o local se trata de uma unidade de conservação na qual o acesso aos recursos é proibido. “Desta forma, desde 2014 o Mopear se reúne para disciplinar essa prática e comprovar aos órgãos de fiscalização ambiental que os pescadores têm capacidade de regular o uso dos recursos naturais, porque fundamentalmente conhecem a ecologia deles”, diz.

Atualmente, são dez cercos na região, administrados pelo Movimento dos Pescadores Artesanais e por famílias de cerqueiros. Cada um deles tem capacidade entre 150 e 300 quilos de peixe, dependendo da maré e do tempo. A armadilha é feita com taquaras, e a tainha fica presa no chamado curral, ou “casa do peixe”.

Roberto destaca que o retorno desse tipo de pesca à região é muito importante, uma vez que as famílias de pescadores artesanais têm suas necessidades alimentares e econômicas supridas pela atividade tradicional. “Além disso, essa pesca muda a relação de trabalho dentro da comunidade, porque, praticamente, a família inteira se envolve na confecção do cerco-fixo – crianças e jovens que, antes, desconheciam o uso das madeiras e a técnica de montagem da armadilha, porque ela havia sido proibida, passam a conhecer e praticar junto com os pais. E as mulheres também têm um papel importante nas etapas de confecção, pois a montagem é bastante complexa. Sendo assim, o trabalho familiar dá um novo sentido para o papel da mulher, criança e jovem dentro da comunidade”, finaliza.

Atualmente, existem 10 cercos-fixos na região da baía de Guaraqueçaba. Foto: Cerqueiros de Guaraqueçaba

Pontos de entrega da tainha

Tabela de valores da tainha por faixa de quilo:

P (1,0 à 1,5 Kg) – R$ 12,00
M (1,6 à 2,0 Kg) – R$ 17,00
G (2,1 à 2,5 Kg) – R$ 22,00
GG (2,6 à 3,0 Kg) – R$ 27,00

As ovas são vendidas separadamente.

Tabela de valores ovas:

Ovas verde kg – R$ 50,00
Ovas seca kg – R$ 80,00

A compra pode ser realizada por meio do link: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSdwhBil7QLk7B5tgnzCP9roMunwlmMfgvG7fK5iEaRpK65ESQ/viewform

Horário de entrega: 08h00 às 13h00
Datas de entrega: 23/Maio/2020
30/Maio/2020
Local: Prainha da balsa, em Paranaguá

Qualquer dúvida, é possível entrar em contato com os Cerqueiros por e-mail ou redes sociais:  

E-mail: cerqueirosdeguaraquecaba@gmail.com
Instagram: https://www.instagram.com/cerqueirosdeguaraquecaba/
Facebook: https://www.facebook.com/Cerqueiros-de-Guaraque%C3%A7aba-102350104773885

Com informações de Plural.jor