Pescadores do Litoral comemoram época da tainha: “a gente espera o ano todo por esse momento”


Por Luiza Rampelotti Publicado 23/05/2022 Atualizado 17/02/2024

O mês de maio marca o início da tradição caiçara no Litoral: a pesca artesanal da tainha, que dura 90 dias, finalizando no dia 31 de julho. Na região que contempla Guaratuba, Guaraqueçaba, Matinhos, Paranaguá e Pontal do Paraná, existem cerca de 6 mil pescadores e muitos deles devem participar da temporada deste ano, conforme a Federação dos Pescadores do Estado do Paraná.

Segundo o presidente da Federação, Edmir Manoel Ferreira, a expectativa é muito boa e, nesta época, a tainha é o peixe mais pescado na região. O período é ideal para localizar os cardumes, já que o frio faz com que os peixes busquem a costa, na tentativa de encontrar águas mais quentes.

A época do frio é da tainha, porque ela começa fazer corrida para desova e nesse momento o pessoal começa a pescar. Nós chamamos a época de rebojo, quando tem muita ventania, frio, e a tainha fica em cardumes, parada, e precisa de um vento forte, como deu na semana passada, para correr justamente para fazer a desova”, explica.

Ele comenta que não gostaria que a espécie fosse pescada nesse momento, por conta de estarem “ovadas”. “Eu não gostaria, mas fazer o que. Quando pesca ela assim, com ovas, vai diminuindo as espécies. Aqui para nós, pescadores artesanais, que somos poucos e não fazemos muita pesca grande de tainha, não prejudica tanto, mas os pescadores de alto mar, da chamada pesca industrial, capturam grandes quantidades e isso pode diminuir a espécie”, avalia Edmir.

Mas o presidente destaca que a expectativa dos pescadores do Litoral é grande para essa época. “É quando eles podem pescar a tainha e ter uma fonte de renda”, diz.

Uma tonelada em Matinhos; cinco toneladas em Pontal do Paraná

No Litoral, as notícias sobre as boas pescas já começaram a circular. Em Matinhos, os pescadores postaram na internet que pescaram uma tonelada de tainha, neste domingo (22).

O pescador Izair Marcelino da Veiga, mais conhecido como Lico, de Pontal do Paraná, conta que, na cidade, a pesca da tainha começou no domingo (22) e até o dia seguinte, esta segunda-feira (23), mais de cinco toneladas já foram capturadas. “As tainhas vêm do Uruguai e do Rio Grande do Sul para desovar aqui. Aí aproveitamos para fazer a pesca artesanal, com o lanço, que é lançar a rede de praia. O barco é só no remo, não tem motos, e quem ajuda a puxar a rede, recebe peixe como parte do pagamento”, explica.

Segundo ele, a pescaria de tainha durante a temporada garante o sustente de quase todas as famílias de pescadores da região por, pelo menos, dois meses. “Para o pescador é um atrativo grande, pois ele espera o ano todo por este momento, onde famílias inteiras podem tirar seu sustento. A tainha aquece a economia do município, gerando até empregos indiretos”, destaca.

Em Guaratuba, canoa quase afunda com tanta tainha

Em Guaratuba, o presidente da Colônia de Pescadores Z4, Álvaro Cunha, também comemora a pescaria. Em um vídeo feito nesta segunda-feira (23), na cidade, dois pescadores estão em uma canoa que quase afunda por conta da quantidade de peixe.

Tá muito boa a pesca, vamos conseguir até fazer a Festa da Tainha neste ano, junto com a Festa do Pescador, em setembro. Agora temos que arrumar mais compradores, porque é muito peixe. Todo mundo estava esperando uma boa safra de tainha, a fé estava grande”, diz Álvaro.

Ele ainda comenta que a tainha está auxiliando na geração de renda para os pescadores que, até então, estavam com dificuldades para, até mesmo, comprar a gasolina do barco para irem pescar outras espécies. “Nessa crise, os pescadores estavam até com dificuldade de pagar gasolina com outro tipo de peixe e camarão. A gasolina tá tão cara que a gente não estava tirando o dinheiro do peixe, como a tainha a gente pesca em quantidade, aí ajuda bem”, comenta.

Apesar da boa safra da tainha, que garante o sustento financeiro de várias famílias do Litoral, vale um alerta de especialistas quanto a quantidade de peixes pescados na região Sul e Sudeste. Para evitar a redução total da espécie, eles apontam que é necessário diminuir a quantidade do pescado em cada embarcação, ou seja, é importante realizar uma pesca sustentável.

A forma apontada como a ideal é a pesca artesanal, a realizada no Litoral do Paraná, que é feita com barcos menores, usando redes de emalhe, e também com os pescadores que usam canoas, nas praias mesmo.

Festa da Tainha em Amparo

Neste ano, no final do mês, de 27 a 29 de maio, acontece a 1ª Festa da Tainha da Ilha do Amparo. O organizador, presidente da Associação de Moradores da Ilha do Amparo, Osmail Pereira do Rosário, mais conhecido como Maico, conta que já faz tempo que o evento está sendo planejado.

Faz 8 anos que nós tentamos fazer a Festa da Tainha na Ilha do Amparo. Por causa da pandemia, não conseguimos nos dois anos anteriores, mas agora deu certo em 2022 e vai acontecer todos os anos, sempre no final de maio”, conta.

O evento será realizado na Cozinha Comunitária da comunidade, que fica logo na saída do trapiche, ao lado da igreja católica. Somente Maico está trabalhando na produção de 400 tainhas para serem comercializadas, mas mais outros três comércios também irão fazer a venda do pescado.

Vai ter quase duas mil tainhas para venda. A tainha com arroz, salada e maionese vai sair a R$ 90 e serve três pessoas”, diz.

Quem tiver interesse em fazer a reserva do prato, já pode entrar em contato com Maico pelo número (41) 99577-9120.

Festa da Tainha de Amparo. Foto: Divulgação