Pesquisa da UFPR detecta substâncias cancerígenas no mangue da Baía de Paranaguá


Por Redação JB Litoral Publicado 14/12/2020 às 17h28 Atualizado 15/02/2024 às 17h54

Um estudo inédito realizado por pesquisadores do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná (CEM/UFPR) traçou um cenário que traz importantes alertas com relação à poluição ambiental e seus impactos no manguezal: a presença de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA) em amostras coletadas em toda a Baía de Paranaguá. Os HPAs são substâncias provenientes do petróleo, da queima de combustíveis fósseis ou das queimadas de vegetação. Em elevadas concentrações, podem ser cancerígenas e mutagênicas.

A pesquisa faz parte da tese de doutorado defendida por Marina Reback Garcia, com orientação do professor Cesar de Castro Martins, e analisou diferentes classes de hidrocarbonetos encontrados nos manguezais. Estes hidrocarbonetos podem ser tanto de origem natural, como virem da atividade humana, constituindo-se como poluentes do ambiente. “Este é o primeiro estudo na região e que envolve uma escala espacial bastante ampla, já que conseguimos fazer essas análises tanto na região que é mais sujeita as atividades humanas, como as baías de Paranaguá e Antonina, mas também fizemos coletas e analisamos sedimentos de manguezais mais isolados, da região da baía de Laranjeiras, de Pinheiros e de Guaraqueçaba”, explica o professor.

Conforme Marina, o acúmulo desses compostos é preocupante devido à pesca de caranguejos e ostras, o que indica que eles podem afetar os animais da base da cadeia alimentar deste ecossistema. “Esses compostos, principalmente vindos da queima de petróleo e seus derivados, utilizados na navegação ou ainda vindo do esgoto podem estar se acumulando nesses locais, que depois serão usados para pesca. Então esse é o principal alerta que pode ser dado”, sintetiza.

O professor César ainda aponta um outro resultado relevante: com a caracterização e análise dos hidrocarbonetos presentes nos manguezais dessas regiões será possível ter uma noção mais precisa, a longo prazo, da evolução do estado de contaminação destes mesmos pontos. Em caso de algum acidente ambiental, por exemplo, estes dados obtidos na pesquisa seriam uma espécie de marco zero para o Sistema Estuarino de Paranaguá.

Mais risco em regiões com atividade humana

A coleta das amostras foi realizada em cerca de 40 pontos distribuídos nas principais baías do Complexo Estuarino de Paranaguá: Antonina, Paranaguá, Laranjeiras, Guaraqueçaba e Pinheiros. Os pesquisadores retiraram a lama da superfície dos manguezais até cerca de dois centímetros de profundidade, um indicativo de que haviam sido depositados mais recentemente. Depois, foram levados ao laboratório e extraídos com solventes orgânicos para que a equipe, por meio de técnicas de cromatografia gasosa e espectrometria de massa, pudesse identificar e quantificar estas substâncias.

Entre estes pontos, destacaram-se a região próxima ao porto de Paranaguá e um terminal de embarque na Ilha do Mel. Nestes locais, a equipe então recorreu a análise dos biomarcadores do petróleo. “Essas substâncias conseguem demonstrar a entrada de petróleo e derivados, vindas principalmente de embarcações pequenas e navios e do esgoto doméstico”, reforça Marina.

Alerta para a Ilha do Mel

A Ilha do Mel é um dos principais pontos turísticos do Paraná (Foto: Marcos Solivan/Sucom)

A maior concentração de HPAs foi identificada no entorno da Ilha do Mel, perto do Terminal de Encantadas. As médias totais de Paranaguá e Antonina também foram maiores do que as de Pinheiros e Guaraqueçaba. No caso de Antonina e Paranaguá, os níveis são moderados e distribuídos por todo o manguezal, mas na Ilha do Mel é um ponto específico que chama a atenção dos pesquisadores.

Em parceria com pesquisadores da Universidade de Oklahoma, nos Estados Unidos, o estudo chegou a outro indicador relevante: o das relações entre as concentrações de biomarcadores oriundos do petróleo com os compostos biogênicos, que são naturais e não têm origem na atividade humana. Isso auxilia na identificação da presença de óleo no ambiente, mesmo quando os níveis de outros hidrocarbonetos são relativamente baixos.

O estudo ainda alerta para os aportes crônicos: ou seja, os contaminantes que se depositam no dia a dia, em pequenas quantidades, fenômeno diferente daqueles que ocorrem em acidentes ambientais, por exemplo. O que acontece, segundo Marina, é que a baixa capacidade de depuração desses compostos do manguezal promove a absorção e o acúmulo, dia após dia, no ecossistema.

Fonte: Universidade Federal do Paraná (UFPR)