Polícia Civil prende suspeitos de decapitar condenados no tribunal do crime


Por Redação JB Litoral Publicado 23/11/2018 às 00h00 Atualizado 15/02/2024 às 05h47

A Polícia Civil de Paranaguá prendeu, na manhã desta sexta-feira, 23, três homens e uma mulher acusados de envolvimento em quatro assassinatos ocorridos neste ano, em que as vítimas foram decapitadas e os corpos jogados no Rio Emboguaçu. A suspeita é que pelo menos duas vítimas foram mortas por estarem envolvidas em crimes sexuais.

Foram presos Darcy do Nascimento Junior, de 32 anos, morador no Porto dos Padres; Tiago Xavier Luna, de 29, com endereço no Jardim Iguaçu; Adrian da Costa Araújo, 28, e sua esposa Wanessa Leite Marinho, 27, moradores no bairro Emboguaçu. Na ação, ainda houve a prisão de Lorena Ingrid da Cruz Machado, 20, e Daiany Dinis Vida, 28, e a apreensão de dois adolescentes, de 15 e 16 anos.

Nas diligências foram apreendidos 180 gramas de maconha, 12 gramas de cocaína, além de dinheiro, roupas e uma faca.  No telefone celular de um dos presos, os policiais encontraram o vídeo do assassinato de uma das vítimas, que teve a cabeça decapitada e o coração tirado do corpo. Nas imagens, os policiais identificaram o menor de 16 anos, o qual aparece com um machado. Ele teria confessado a participação em mais dois homicídios.

ADSUMUS

Todos os envolvidos foram encaminhados à 1.ª Subdivisão Policial de Paranaguá, em decorrência da Operação Adsumus (palavra com origem no latim que significa “estamos presentes”), que foi deflagrada com a finalidade de prender os suspeitos dessa sequência de homicídios. Na ação foram cumpridos 12 mandados judiciais, sendo cinco de prisão preventiva, um de busca e apreensão de menor e seis de busca e apreensão em domicílios.

De acordo com o delegado Nilson Santos Diniz, adjunto da 1.ª SDP e que comandou as ações, as diligências para chegar aos responsáveis pelas mortes se intensificaram com informações sobre a morte de Osmar Teixeira Policarpo, de 35 anos, morador no Emboguaçu, o qual teve o corpo encontrado último dia 8, sem a cabeça, no Rio Emboguaçu. “Foram vários dias seguidos da Seção de Investigação levantando os elementos necessários para a comprovação da autoria deste delito. O que nós sabíamos, a princípio, é que seria um crime com assinatura, pois os autores, ao decapitar a vítima, queriam deixar uma mensagem”, disse.

O delegado relatou que como a decapitação, assim como a extração de órgãos, denota a ocorrência da prática de crimes sexuais pelas vítimas, imediatamente foram ouvidas testemunhas, que deixaram claro que a morte de Osmar ocorreu em virtude de um estupro que teria sido imputado a ele. “Foi com base nesta notícia que se iniciaram as investigações que tiveram como consequência a identificação, até o momento, de sete pessoas diretamente envolvidas neste homicídio. Cinco maiores de idade e dois menores”, informou.

O delegado contou que, iniciada as oitivas, foram encontrados outros indícios que comprovam que há envolvimento destas mesmas pessoas no homicídio de Josemar Martins dos Santos, de 31 anos. O corpo dele foi encontrado no dia 25 de setembro, no Rio Emboguaçu, na região do Porto dos Padres, onde morava, também decapitado.

TRIBUNAL DO CRIME

Segundo o delegado, durante as investigações foi apurado que os acusados criaram um verdadeiro tribunal do crime no município de Paranaguá, composto por integrantes de uma organização criminosa que se reuniam e decidiam o futuro de pessoas que eles achavam serem delinqüentes e que estavam trazendo transtornos para a região onde se encontravam.

“Essas pessoas se reuniam, realizavam o julgamento e também aplicavam a sanção escolhida pelos membros de maior hierarquia na organização criminosa. Então, hoje, com a prisão destes indivíduos, temos certeza que este núcleo da organização criminosa vai se encontrar enfraquecido, mas deixo claro que existem outras pessoas envolvidas nestes crimes e que não foram presas na data de hoje”, declarou o delegado.

Diniz informou que, desde o início das investigações, a Polícia Civil já trabalhava com a possibilidade dos quatro crimes terem a mesma autoria, devido a maneira em que as vítimas foram mortas. “Esquartejamento de corpos não é algo comum aqui no município de Paranaguá e as lesões provocadas nas vítimas são semelhantes. Isso foi uma linha de investigação que foi seguida”, ressaltou.

O histórico criminal das pessoas que foram vitimadas, sendo que duas delas estavam sendo acusadas de crimes de cunho sexual, também foi motivo para suspeitar de que os autores eram os mesmos, informou o delegado. “Então, isso levou à 1.ª Subdivisão Policial a trabalhar como se estes crimes tivessem sido cometidos pelas mesmas pessoas”, declarou.

O delegado revelou que durante as prisões foi encontrado um video, no telefone celular de um dos acusados, que também foi utilizado pela Polícia Civil para a identificação destes autores. “Mas não só isso, pois as oitivas de várias testemunhas foram realizadas e isso possibilitou, de fato, que a gente chegasse, no dia de hoje, com esta identificação. E isso mostra que foi um trabalho célere, o qual teve, como conseqüência, a retirada destas pessoas, de extrema violência, da sociedade”, finalizou. 

OUTROS CRIMES

As outras vítimas que teriam sido mortas pelo tribunal do crime são Diego Silva de Souza, de 30 anos, que teve o corpo encontrado decapitado na região do bairro Beira Rio, no dia 24 de janeiro, e Joacir Cabral do Nascimento, de 43, que foi encontrado em uma área de manguezal na Vila São Carlos, também sem cabeça, no dia 15 do mesmo mês.

Durante o cumprimento das ordens judiciais, Daiany, que é esposa de Darcy, e Lorena, companheira de Tiago, foram presas em flagrante por tráfico de drogas. Elas também se encontram encarceradas na sede da 1.ª Subdivisão Policial à disposição da Justiça.