Com mais de 1.200 caminhões transitando por dia no pátio de triagem, tempo de classificação de cargas tem gerado insatisfação, dizem entidades
O porto de Paranaguá é um dos principais do país e vem atingindo marcas nunca antes alcançadas, como a movimentação de 65 milhões de toneladas de cargas no ano passado, marca esperada para acontecer apenas em 2040. Porém, um assunto vem sendo tema de reclamações frequentes entre os que trabalham com o transporte de cargas: o tempo de espera no pátio de triagem, até passar pelo processo de classificação. O JB Litoral conversou com um desses trabalhadores, que prefere não ter o nome divulgado. Segundo ele, o processo que deveria durar menos de uma hora, tem se arrastado por até sete horas, nos dias de maior movimento.
“As melhorias que haviam sido implementadas pelo IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná), como os equipamentos de segurança, redutor de ruído, tudo foi alterado pela Bureau Veritas. Por exemplo, ela trocou a linha de vida por outra que é mais insegura, mas que só gerou acidentes, pois ali já é um espaço curto para os caminhoneiros e eles (Bureau Veritas) colocaram os pilares como linha de vida”, afirmou o trabalhador.
Ainda segundo o profissional, as alterações tornaram o processo mais lento mais ineficaz.
“Gerou filas totalmente desnecessárias, com tempo de espera no pátio de até 7 horas quando é maior o fluxo de caminhões. Antes, mesmo nos dias de movimento intenso, levava em média duas horas e isso leva a várias consequências”, defendeu.
“Resulta em mais estadia, atraso na prestação de lotes nos terminais, retardando o embarque dos navios. Isso pode provocar a debandada de exportadores de Paranaguá para outros portos, devido aos altos custos daqui”, completou.
REUNIÃO
A demora na fila de classificação de cargas no Porto de Paranaguá foi tema de uma reunião, no final do mês de setembro, entre a CNTA (Confederação Nacional dos transportadores autônomos); a Fenacam (Federação Nacional dos caminhoneiros autônomos); o Sindicam (Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Paranaguá) e o diretor-presidente da Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia.
Segundo a CNTA, desde maio deste ano as entidades têm recebido reclamações de caminhoneiros em relação à demora no pátio de triagem. Em junho, a entidade encaminhou um ofício à administração portuária solicitando a reunião para tratar do assunto, que aconteceu em 27 de setembro.
Ainda de acordo com a Confederação, Garcia reconheceu que a operação está aquém do esperado devido ao aumento dos casos de fraudes no transporte, em que areia é encontrada em meio à carga de farelo de soja, por exemplo. Dados revelados durante a reunião também dão conta que 5% das cargas que chegam ao pátio são recusadas.
Os operadores do transporte também ouviram da administração portuária que uma empresa para fazer a classificação das cargas deverá ser contratada até o fim deste ano e que a nova classificadora terá tempo máximo de espera para cada caminhão. A nova meta é que os caminhoneiros esperem somente por 50 minutos, em média. Outra mudança anunciada é a instalação, até março do ano que vem, de 12 pontos de coleta, com o aumento de duas para quatro baias no sistema de classificação, que também deverá ter sistema de classificação mais tecnológico.
SEQUÊNCIA DE MUDANÇAS
O JB Litoral também procurou o IDR-Paraná e a Portos do Paraná. O IDR explicou que atuou diretamente na classificação de produtos soja, milho e farelo de soja, até setembro de 2022.
“Naquela ocasião, a ATEXP – Associação dos Terminais de Exportação de Paranaguá, assumiu a responsabilidade pelo Pátio de Triagem, incluindo a atividade de classificação de produtos (controle de qualidade). A ATEXP contratou a BV – Bureau Veritas, para a execução do controle da qualidade como condição de tais produtos serem recepcionados aos estoques para exportação”, detalhou, por meio de nota.
No entanto, foi mantido sob a responsabilidade direta do IDR o controle de qualidade para os produtos transportados pelo modal ferroviário.
AUDITORIA
O governo do estado, por meio da Secretaria da Agricultura e Abastecimento e Portos do Paraná, convencionou a importância de manter o estado presente através do IDR-Paraná, criando-se o mecanismo de certificação de qualidade por auditoria da classificação por tarefas. Atualmente, com a Portaria 250/2024, da Portos do Paraná, o IDR está com a incumbência de promover a auditoria como condição formal para que, qualquer que seja a empresa privada contratada para a classificação, seja submetida à auditoria por tarefas.
Ainda segundo o Instituto, durante a auditoria, iniciada desde o começo do ano, foram realizados apontamentos indicando medidas corretivas e preventivas, com melhorias alcançadas. “Existe por parte do Governo do Estado do Paraná – SEAB/APPA, planos em desenvolvimento para melhorias das instalações e repercussão dessa melhoria na otimização do tempo e qualidade na atividade da classificação. No entanto, atualmente o sistema adotado é considerado satisfatório pelo IDR-Paraná quando se vislumbra a manutenção do padrão exportação dos produtos e sua destinação em relação a qualidade”, finalizou a nota do IDR.
TRABALHO MINUNCIOSO
Já a Portos do Paraná ressaltou que é realizado um extenso trabalho de fiscalização de cargas no pátio de triagem, o qual envolve a coleta do material, avaliação do produto e envio de parte dele para análise laboratorial.
“Devido ao rígido controle de fiscalização que garante a qualidade das cargas exportadas pelo Porto de Paranaguá, a Portos do Paraná registrou um crescimento de suspeitas de fraude no Pátio de Triagem em 2024 o que influenciou em um aumento no tempo de espera nas filas”, informou a empresa pública.
De janeiro a setembro deste ano, autoridade portuária identificou quase oito mil caminhões que foram refugados (7.821). São cargas rejeitadas por não atenderem aos requisitos mínimos de qualidade dos produtos, representando um aumento de 123,07% em relação ao mesmo período do ano passado (3.506). Todos os casos suspeitos são relatados e encaminhados para a Polícia Federal e demais órgãos de segurança.
SEGURANÇA DO TRABALHO
Em relação às denúncias de que além de mais demorada a operação que envolve a classificação de cargas estaria mais insegura, a Portos explicou que os requisitos de saúde e segurança do trabalho das atividades realizadas pelos trabalhadores no local, são fiscalizadas diretamente pela COOPANPP (Cooperativa em Amarração de Navios e Serviços Gerais do Litoral do Paraná), Bureau Veritas, ATEXP e Portos do Paraná.
“Outros órgãos intervenientes também podem fiscalizar o local, como o Ministério do Trabalho. Atualmente, a Portos do Paraná possui um procedimento operacional, o PO-APPA-SGI-029 – Requisitos de Saúde, Segurança do Trabalho e Meio Ambiente (SSMA). Ele atua nas atividades de amostragem, ensaio in loco, inspeção, perícia e vistoria”, afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa.
Em média, 1.243 caminhões passaram diariamente no pátio de triagem no período entre janeiro e setembro de 2024.
A Bureau Veritas não se manifestou até o fechamento desta reportagem. O espaço segue aberto para a empresa, no JB Litoral.