Paralisação do porto de Paranaguá pode gerar prejuízo de R$ 30 milhões em um único dia


Por Luiza Rampelotti Publicado 22/10/2024 às 17h30
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Apenas com demurrage (custo do navio parado), a estimativa de custos é de R$ 3 milhões. Foto: Claudio Neves/Portos do Paraná

Nesta terça-feira (22), portos de todo o Brasil foram paralisados por conta de uma manifestação nacional dos trabalhadores portuários avulsos (TPAs) e portuários efetivos. A mobilização é uma resposta à proposta de revisão da legislação portuária apresentada pela Comissão Especial de Portos (CEPORTOS) da Câmara dos Deputados. A parada, que teve início às 7h, está prevista para durar até às 19h. Em Paranaguá e Antonina, o setor já estima um prejuízo de R$ 30 milhões em razão de um dia de paralisação.

Para entender o impacto desta paralisação, o JB Litoral conversou com André Maragliano, CEO da FTS Par, uma das operadoras portuárias que atuam nos portos de Paranaguá e Antonina. Segundo ele, os prejuízos financeiros são expressivos, não só para as empresas, mas também para a economia nacional.

Impacto direto nas operações portuárias

De acordo com Maragliano, um dos custos mais imediatos gerados por uma paralisação como essa é a demurrage—taxa cobrada pelo tempo que o navio fica parado sem carregar ou descarregar. “Se pegarmos o complexo dos Portos de Paranaguá e Antonina, estamos falando de 20 berços de atracação. A diária de um navio parado está em média 25 mil dólares. Então, são 500 mil dólares, ou quase R$ 3 milhões por dia, só com navios parados”, afirma.

Porém, esse valor é apenas uma parte dos custos envolvidos. Além dos navios já atracados, há também aqueles que estão na fila esperando para atracar, o que aumenta consideravelmente o impacto financeiro.

Contudo, as despesas não se restringem apenas aos navios, pois a paralisação também afeta diversos setores logísticos, incluindo o transporte terrestre. Os caminhões que chegam para carregar ou descarregar mercadorias enfrentam longos períodos de espera, resultando em prejuízos adicionais para as transportadoras e operadores portuários.

Segundo Maragliano, a operação também sofre o impacto da chamada operação tartaruga, onde os TPAs, apesar de escalados, operam de maneira extremamente lenta. No entanto, embora o ritmo de trabalho seja reduzido, os operadores portuários continuam pagando os salários dos trabalhadores de forma integral, independentemente da quantidade de carga movimentada. “O modelo salarial atual paga por tempo, e não por produção, como era antigamente. Portanto, as empresas requisitam a mão de obra e pagam adiantado, mas a produtividade é muito menor“, explica.

Efeito cascata na logística

Ele alerta que a paralisação gera o que é conhecido no setor como ganhos decrescentes. Esse conceito descreve como pequenos atrasos no início do processo podem se transformar em grandes perdas ao longo da cadeia logística. “O atraso inicial aumenta a probabilidade de novos atrasos, que vão se acumulando e causando uma perda de produtividade significativa. Essa cadeia de atrasos pode representar até 30% de perda de produtividade”, afirma.

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André Maragliano, CEO da FTS Par, uma das operadoras portuárias que atuam nos portos de Paranaguá e Antonina. Foto: Divulgação

O impacto financeiro da greve é expressivo e se reflete em diversas áreas. “O efeito cascata da paralisação pode elevar os custos totais para até R$ 28 milhões, e se considerarmos todos os demais custos logísticos, o valor ultrapassa os R$ 30 milhões, consequência de um único dia de paralisação“, estima o CEO da FTS Par.

Reflexos na competitividade e na economia

Além dos prejuízos imediatos, Maragliano destaca que a paralisação afeta diretamente a competitividade do setor portuário brasileiro. “Todo custo logístico é repassado, seja para o produtor ou para o consumidor final. O impacto não se restringe ao porto, mas se reflete no preço final dos produtos“, argumenta.

Os trabalhadores portuários, por sua vez, defendem que a paralisação é uma forma de pressionar contra mudanças que podem prejudicar seus direitos. A principal queixa está na proposta de acabar com a exclusividade de contratação de TPAs, o que, segundo os sindicatos, poderia reduzir as oportunidades de trabalho para os trabalhadores avulsos.

Para o presidente da Frete Intersindical de Paranaguá e do Sindicato dos Estivadores de Paranaguá e Pontal do Paraná (Sindestiva), João Fernando da Luz, o movimento mostra a insatisfação dos trabalhadores. “Essa prontidão dos trabalhadores em vir para o movimento significa que estamos extremamente descontentes com esse Anteprojeto que é uma mentira de que iria apenas analisar o arcabouço jurídico dos portos e na realidade está vindo em cheio tirar a exclusividade dos trabalhadores”, diz em entrevista ao JB Litoral.

Para Maragliano, a solução passa por um diálogo mais estruturado entre os envolvidos. “Não podemos simplesmente trocar um custo por outro, ou manter um sistema que encarece as operações. O resultado do trabalho que será apresentado pela CEPORTOS visa dar mais agilidade e eficiência na contratação da mão de obra, resultando numa previsibilidade maior dos custos de operação, bem como da qualidade e produtividade, mas isso não significa o fim da mão de obra portuária avulsa. Precisamos de um modelo de negócios mais eficiente, que mantenha a competitividade e, ao mesmo tempo, preserve os empregos“, conclui.

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