Prefeitura guarda restos mortais em sacos de lixo no cemitério municipal


Por Redação JB Litoral Publicado 06/03/2015 Atualizado 14/02/2024

Mato ao redor dos túmulos, jazigos destruídos, caixões espalhados pelos corredores e sacos de lixos com ossos humanos guardados em um ossário improvisado. Esse é o tratamento, constado pelo JB, que a prefeitura de Paranaguá dispensa ao descanso eterno dos entes queridos de diversas famílias parnanguaras no Cemitério Municipal Nossa Senhora do Carmo.

A reportagem do JB esteve na última sexta-feira (27), acompanhado dos vereadores Adalberto Araújo (PSB), Adriano Ramos (SDD), Laryssa Castilho (PRB) e Florindo Wistuba Junior (PMDB), verificando esta situação.
Por todos os lados, a falta de limpeza e manutenção do cemitério preocupou os parlamentares. Na semana passada, em resposta à reportagem veiculada pelo JB sobre o matagal no cemitério, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) havia informado que realizaria o serviço de roçadas, com previsão de conclusão para sexta-feira (20). Porém, passada mais de uma semana, nenhum serviço foi realizado no local. Segundo o vereador Wistuba, professor e historiador, este é o primeiro cemitério público da cidade, construído a partir da segunda metade do século XIX.“Lamento a falta de condições apropriadas dentro do cemitério, provavelmente pela falta de material para que os funcionários possam realizar, dignamente, a limpeza no local. A verdade é que a falta de material e o número de funcionários é muito pequeno para atender a demanda”, disse ele.

Sacos de lixos com ossos

Em um pequeno compartimento que fica na estrutura de gavetas mortuárias trancado por um cadeado e corrente, a reportagem encontrou vários sacos de lixos etiquetados com nomes e datas, que estão guardados há certo tempo, inclusive com teias de aranha intactas ao redor. O consenso entre a reportagem e os vereadores presentes era de se tratar de restos mortais. Para verificar o que havia em seu interior, os vereadores solicitaram as chaves da sala ao administrador do cemitério, Bento Zacarin, para verificação do conteúdo dos sacos. Porém, Zacarin, por telefone, disse que não poderia passar a chave sem autorização do secretario da Semma, João Roberto Barros Maceno Silva.“Ligamos para a Semma para falar com o secretário, porém não conseguimos. Então, falamos com o Bento e o mesmo disse que não tinha autorização para passar as chaves”, relatou a vereadora Laryssa.

Entretanto, a comitiva observou que um dos sacos estava aberto e a reportagem registrou um dos ossos – supostamente humano – que ficou exposto na porta que estava trancada com correntes e cadeado.

Despejo é normal, dizem funcionários

Relatos de funcionários do cemitério, que não quiseram divulgar seus nomes, dão conta que se trata de restos mortais. Porém, eles informaram que o procedimento de guardar ossos em sacos de lixo é comum, pois não há um lugar apropriado para isso. Conforme os relatos, as covas públicas normalmente passam por um revezamento a cada três anos. Isso significa que uma pessoa morta pode ficar enterrada por um período limitado e quando acaba o prazo, os restos mortais ou ossadas são retirados, colocados em sacos de lixos, etiquetados e guardados. Como o cemitério não tem um ossário – local para depositar separadamente os restos mortais – é desse jeito que os restos mortais são guardados.“Apesar da tentativa de impedirem a nossa fiscalização, penso que estão evidentes a forma indevida de acondicionamento dos restos mortais, o desrespeito às famílias e o próprio risco à saúde pública”, ressaltou o vereador Adalberto Araujo.

O vereador Adriano Ramos disse que a situação reflete uma grande falta de respeito e também alerta para um problema ambiental.

“Até na hora da morte existe desigualdade. Porque a manutenção só é realizada na frente do cemitério? Nas gavetas, por exemplo, o tratamento não é o mesmo. Estamos preocupados, pois ouvimos que quando uma família solicita a ossada de um falecido ele a recebe num saco de lixo. Isso deveria ser retirado por uma empresa especializada. Isso é uma irregularidade grave e vamos apurar”, questiona o vereador.

CAIXÕES ESPALHADOS

A reportagem encontrou ainda caixões jogados, juntamente com restos de coroas de flores no meio do cemitério. De acordo com a Assessoria de Comunicação da prefeitura, “o recolhimento do lixo especial é realizado por uma empresa especializada, a Ambserv Sul Serviços Ambientais LTDA, que dá a destinação correta, com material sendo autoclavado ou incinerado”. Segundo a assessoria, o contrato para prestação deste trabalho está em vigência desde outubro de 2014 e o recolhimento desses resíduos é feito quinzenalmente. A Semma informou que os responsáveis pela manutenção dos jazigos são os familiares, mas a secretaria realiza manutenção em casos de túmulos abandonados. A secretaria informou ainda que também faz a manutenção periódica das calçadas e da parte interna do cemitério.