Professor acusado de importunação sexual no Instituto de Educação está afastado das funções; NRE investiga o caso


Por Gabriel Santos Publicado 03/06/2022 às 16h09 Atualizado 17/02/2024 às 14h45

Por Gabriel Santos e Diogo Monteiro

Em meio às denúncias de importunação sexual reportadas pelo JB Litoral desde o início de maio e que fizeram o ginecologista Amauri Bilieri ser alvo de investigação da Polícia Civil e perder o direito de exercer a medicina, outras acusações sobre a mesma temática estão sendo realizadas. Desta vez, as denúncias envolvem possíveis episódios de importunação cometidos por um professor de geografia do colégio Instituto Estadual de Educação Dr. Caetano M. Rocha, em Paranaguá.

Na última quinta-feira (30), um vídeo, que circula pelas redes sociais, mostra centenas de alunos protestando contra o suposto ato praticado pelo docente. De acordo com os estudantes, a ação aconteceu após o professor Inácio Daufenbach fazer um gesto obsceno direcionado à uma aluna. Por conta disso, a jovem conta que teve uma crise de ansiedade em razão da exposição sofrida em sala de aula, o que provocou a ira dos adolescentes.

O Batalhão da Polícia Escolar Comunitária atendeu a ocorrência depois que alguns estudantes passaram a ameaçar o profissional de educação. Contratado pelo Estado desde 2009, Inácio abriu um Boletim de Ocorrência (B.O.) contra os alunos por temer a própria integridade física diante da situação. Agora, o professor terá um prazo de seis meses para exercer o direito de abrir uma investigação criminal contra os estudantes acusados das ofensas.

A repercussão do protesto foi o motivo para que a ex-aluna da escola, Chryslaine Lopes, contasse, em seu perfil do Facebook, uma situação que presenciou durante uma de suas aulas com o professor. Em conversa com o JB Litoral, a jovem relatou que chegou a flagrar o acusado cometendo um ato de importunação sexual.

Denúncias antigas

“Pelo que me lembro, isso aconteceu entre agosto e setembro. Ele tinha passado uma atividade e estava com minha amiga dividindo o mesmo livro, quando o lápis dela caiu e, ao tentar pegá-lo, ela notou que o professor estava se masturbando. Na hora, a gente fingiu que não viu nada, mas quando saímos da sala a gente foi para a diretoria comentar o que tínhamos visto”, relembrou.

Na mesma publicação de Chryslaine, outras mulheres comentaram suas experiências com o professor. “Naquele colégio nunca temos voz, eu já denunciei ele em dois anos consecutivos; uma vez porque ele falou para minha amiga que ela merecia ser estuprada e outra porque o meu amigo viu ele tirando foto de diversas partes do meu corpo e dando zoom”, disse Celine Djhullian Wasch.

Outra ex-aluna, Daiany Rocha, que frequentou a escola entre os anos de 2012 e 2014, relatou já ter desconfiado anteriormente do comportamento do professor em relação às estudantes. “Esse professor agia de uma forma estranha mesmo, olhava de um jeito meio “babando” para as meninas. Lembro de perguntar para elas se achavam que ele agia de um jeito estranho também, e a resposta era sempre “sim”, mas em seguida vinha o “mas é normal, ele é homem e a gente é menina”, aí ficava por isso mesmo, no final a gente achava normal”, publicou.

Na sexta-feira, 1º de julho, os estudantes do colégio organizaram um protesto em frente a unidade do Núcleo Regional de Educação, em Paranaguá. A manifestação pedia o afastamento do docente das atividades escolares depois do ocorrido na sala de aula, na última quinta-feira (30), além das denúncias que vieram à tona no dia da mobilização.

“Soubemos que essas coisas aconteciam já faz algum tempo e que já tinham sido feitos relatos à direção da escola contra o professor sobre os seguidos casos de assédio. As estudantes já tentaram denunciá-lo há três anos, mas não conseguiram levar o processo para frente. Mas, agora, queremos dar um basta nessa situação”, comentou o aluno de 20 anos, Lucas Calado.

Boletim de ocorrência

O caso ao qual Lucas se refere, trata-se da denúncia feita por Chryslaine Lopes em conjunto com outras ex-alunas. A estudante chegou a registrar uma ata sobre o ocorrido para o corpo diretivo do colégio e também denunciou o caso ao NRE. A jovem conta que, na ocasião, sentiu-se descredibilizada quando relatou a situação ao Núcleo e aos diretores da instituição.

Além disso, ela comenta que tentou registrar um Boletim de Ocorrência, porém, foi desencorajada pelas autoridades policiais a não seguir com o processo em frente, uma vez que seria difícil provar o fato. 

O JB Litoral também teve acesso a um B.O. realizado na 1ª Subdivisão Policial de Paranaguá, em setembro de 2018, no qual uma ex-aluna da instituição acusava o professor por importunação ofensiva ao pudor. Segundo o Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes (Nucria), o Boletim de Ocorrência passou pelo Fórum de Justiça e, desde então, o Ministério Público analisa o processo em sigilo.

Na época, um grupo de estudantes veio fazer o Boletim de Ocorrência, porém, depois ninguém mais foi encontrado para prestar mais esclarecimentos”, comenta a delegada do Nucria, Maria Nysa Moreira Nanni, à reportagem.

O que diz a escola e o NRE

Núcleo Regional de Educação. Foto: Diogo Monteiro/JB Litoral

A direção da escola relatou ao JB Litoral que uma sindicância foi aberta, junto ao NRE, com o objetivo de tomar as devidas providências sobre o caso. Enquanto isso, o professor está afastado das atividades por um período indeterminado. “Estamos apurando os fatos com todos os envolvidos na situação, inclusive, já chamamos os pais da aluna e o Conselho Tutelar. Iremos fazer o registro do caso e vamos encaminhar as informações para os órgãos competentes”, explicou a diretora do colégio, Rosemary Liberatto.

Em nota, o NRE destacou a celeridade no andamento dos processos referentes aos casos de assédio a partir das medidas criadas pela Secretaria de Estado da Educação e do Esporte (Seed-Pr). O órgão de educação também ressaltou a realização de campanhas informativas sobre o assunto voltadas aos alunos, professores e comunidade escolar.

Denúncias

Quem presenciar uma situação de abuso sexual dentro das escolas estaduais (ou vivenciá-lo) pode reportar o caso no canal de ouvidoria do departamento. A Seed-PR disponibiliza atendimento no telefone: 0800 041 9192.