Prefeitura e Provopar se calam e não permitem acesso dos vereadores à Vaca Mecânica


Por Redação JB Litoral Publicado 15/06/2018 Atualizado 15/02/2024

Indignados pela suposta decisão da Presidente do Programa do Voluntariado Paranaense (Provopar) de Paranaguá, Morgana Gonçalves, de acondicionar em sacos plásticos, doações de roupas feitas pela população, por conta das fortes chuvas de janeiro de 2017, que estariam sem condições de uso para serem incineradas, servidores denunciaram esta intenção ao JB Litoral, enviando farto material fotográfico e pedindo para não serem identificados.

A denúncia, trazida na coluna “Doa a quem Doer” da semana passada, alertou sobre o fato anunciando que o Departamento de Jornalismo iria checar a veracidade da informação. Porém, no mesmo dia em que a Secretaria de Comunicação Social recebeu quatro questionamentos a respeito do assunto, a prefeitura, sob o pretexto de anunciar a realização da Campanha do Agasalho, fez uma reportagem dizendo que a “informação de que roupas de doação seriam queimadas é falsa”. Entretanto, a própria reportagem confirmou diversos pontos da acusação levada ao jornal.

A denúncia, trazida na coluna “Doa a quem Doer” que doações feitas ao Provopar estariam ensacadas no prédio da Vaca Mecânica.

A primeira é que, de fato, se tratava de doações feitas em janeiro de 2017, num trabalho feito pela Secretaria Municipal de Assistência Social, por meio de uma grande mobilização formada para auxiliar as famílias que tiveram suas casas atingidas pela enchente.

A segunda confirmação, da veracidade da delação, partiu do próprio secretário da pasta, Levi Andrade, admitindo que houve sobra de doações. “Felizmente, as doações não foram apenas satisfatórias como também extrapolaram o esperado. Com isto, pudemos manter uma reserva de roupas e calçados para situações emergenciais que poderiam ocorrer e, desde então, o estoque está à disposição das entidades carentes”, afirmou o secretário, dizendo ainda que peças de roupas são disponibilizadas no Centro Pop.

Secretário confirma sobra das doações que foram estocadas. Foto/PMP

Levi Andrade admitiu, também, que foi feito um “estoque” de doações para posterior doação quando necessário. E na reportagem na qual tentou desmentir a queixa, a Presidente do Provopar confirmou a informação repassada à reportagem, de que estas roupas foram parar no prédio da Vaca Mecânica, a pedido da Secretaria Municipal de Assistência Social. “Oferecemos nossa equipe para separar as peças e ensacá-las para que fossem mantidas em bom estado”, disse a presidente.

As doações estão estocadas na Vaca Mecânica desde 2017. Foto/PMP

Ensacamento depois de mais de um ano

Entretanto, este trabalho oferecido pela Secretária Municipal de Agricultura e Pesca, foi efetuado no mês passado, ou seja, mais de um ano que estavam despejadas em um depósito do prédio da Vaca Mecânica, o qual não possui ar condicionado, refrigeração, ventilação constante e, segundo consta, há infiltração de água e presença de roedores. Servidores garantiram que as roupas estão sem condições de uso, devido o mau cheiro, umidade e, muitas delas, estarem molhadas. Após a nota da prefeitura, uma pessoa que faz parte da atual administração enviou uma mensagem afirmando que a queixa feita era verdadeira.

“Aquelas roupas são sim donativos do ano passado das chuvas. Fizemos várias doações no ginásio de esportes e quando a pessoa não podia vir, depois das 18h levávamos para as casas das pessoas carentes, com um caminhão da Defesa Civil. Depois de toda a população atendida ficou tudo com a Assistência Social. E se é estoque como o prefeito  disse, daquele jeito é estoque mesmo, jogados como lixo. O certo seria separar o que é bom e o que não é, e colocar em outro ambiente. Fazer a distribuição nos bairros carentes e não deixar acumular daquele jeito. Primeiro deveriam arrumar aquele  lugar (Vaca Mecânica) que só sabem entulhar as coisas lá. Tivemos uma média de 100 voluntários, onde separávamos o que dava para ser usado e o que era pano de chão. Então que pegassem voluntários e fizessem a separação e saíssem nos bairros doando para os mais carentes. Um estoque precisa ter roupas que dê para serem usadas por quem precisa, armazenadas num ambiente adequado e que depois realmente dessem para ser usadas. Do jeito que está vai tudo apodrecer. Doar roupa suja e mijada de rato, misericórdia é justificar o injustificável”, diz a mensagem da pessoa que também optou por não se identificar.

Indignação nas redes sociais

A denúncia viralizou no Portal do JB Litoral e, até o sábado (09), estava com mais de 19 mil pessoas alcançadas, 795 reações, 105 compartilhamentos e 88 comentários, a maioria criticando a situação. Uma internauta chegou a pedir a mudança da diretoria do Provopar. “Isto se chama descaso mais incompetência! Precisa ser muito bem investigado. Não são só um monte de roupas velhas, são frutos solidários para o bem dos necessitados. Ação Social é tudo no coração de uma cidade como Paranaguá! Que sejam agora compradas roupas e cobertas para quem precisa! E que se mude as diretorias deste órgão”, disse a internauta Eva Carla. Outra internauta que trabalhou por dois anos no Provopar, destacou que naquela gestão a entidade funcionava e com transparência.

“Trabalhei no Provopar na gestão da Luciane Nascimento e, na época, era tudo bem organizado e quem ia lá buscar, sempre era ajudado e nunca ficava acumulado doação. Até entregas para a população mais carente era feito a domicílio. Trabalhei dois anos lá e era tudo transparente, doações de roupas, alimentos, remédios, passagens de ônibus, etc…”, postou Adriana Moraes dos Santos.

A internauta Fabíola Marun, também ressaltou o trabalho de gestões anteriores. “Trabalhei no Provopar na época da Luciane Marques do Nascimento e da Jô Silva Baka. Sempre a população era atendida com cesta básica, que nós, funcionários, montávamos com doações recebidas, roupas, cobertas, que inclusive pedíamos como doação, principalmente às empresas, por meio de ofícios, cadeira de rodas, muletas, cama hospitalar, dentre outros. Quando não tínhamos disponíveis, sempre corríamos atrás e dávamos um jeito. Não sei agora, mas nessa época tudo funcionava muito bem”, postou.

Vereadores sem acesso à Vaca Mecânica

Apesar de garantir se tratar de uma informação falsa, na segunda-feira (04), após tomar conhecimento da notificação, o Vereador Adriano Ramos (PHS) esteve antes das 17 horas no prédio da Vaca Mecânica para verificar as condições das roupas doadas. Porém, se deparou com o portão fechado com cadeado e corrente e não teve acesso para fazer sua fiscalização. Na sexta-feira (08) vazou a informação de que um caminhão da prefeitura iria retirar as doações sem condições de uso, por intermédio da Semapa, às 8 horas. Os Vereadores Adriano Ramos, Jozias de Oliveira Ramos (PDT), Gilson Marcondes (PV), Jaime Ferreira dos Santos (PSD) e Nóbrega (PRTB) se deslocaram até o prédio da Vaca Mecânica, para checar a denúncia e acompanhar a retirada. Há informações que grande parte das roupas está molhada e com urina de ratos e os vereadores vieram constatar a veracidade ou não desta situação. Todavia, mais uma vez se depararam com o portão fechado com corrente e cadeado e, desta vez, com um cachorro em seu interior. O Vereador Jaime da Saúde chegou a ligar para Morgana Gonçalves para que viesse abrir o portão ou mandasse um funcionário, porém, ela não atendeu.

Sob suspeita, servidor vai para Alexandra

O fato de a denúncia sair de dentro da prefeitura gerou uma tensão no Semapa com a secretária querendo descobrir quem enviou as fotos e a acusação ao jornal. O servidor de carreira Gersi dos Santos, que afirma aparecer sua perna em uma das fotos enviadas no dia em que as roupas estavam sendo ensacadas, se tornou o principal suspeito da autoria e, por conta disto, foi retirado do Semapa e enviado para a Administração Regional de Alexandra, distante cerca de oito quilômetros da cidade e tendo que transitar, diariamente, pela BR-277 que possui intenso trânsito de caminhões. Uma espécie de castigo pela desconfiança e suposta autoria da acusação. 

Vale destacar que a presidente é um dos muitos agentes políticos (secretários/as) que foram mantidos pela atual gestão, depois do fim da administração do Prefeito Edison de Oliveira Kersten (MDB), onde também geriu o Provopar. Outra notificação, que veio junto a das doações de roupa, diz respeito à gestão passada, onde a filha da presidente, Duanne Pacheco, residente em Curitiba, em setembro de 2016, ministrou Curso de Automaquiagem na Provopar, recebendo R$ 300 pela aula realizada, dia 10, um sábado, na sede da Provopar.

Curso ministrado pela filha da presidente em 2016. Foto/reprodução Facebook

A reportagem, além dos quatro questionamentos enviados a respeito das doações, também questionou a prefeitura, por meio da Secretaria de Comunicação Social, a respeito do curso, uma vez que a denúncia dizia que Duanne Pacheco teria ministrado estas aulas também na atual gestão. Entretanto, até o fechamento desta edição, nenhum dos dois questionamentos foram respondidos.