“Quando meu pai faleceu não pudemos ir ao sepultamento”, diz filha de vítima da Covid-19


Por Publicado 01/11/2020 às 13h23 Atualizado 15/02/2024 às 16h55

O feriado de Finados é marcado por lembranças, saudades, orações e homenagens aos que já faleceram. Neste ano, o dia 2 de novembro será ainda mais especial para as 183 famílias, das sete cidades do litoral, que perderam seus entes queridos para a Covid-19.

Segundo o boletim divulgado no dia 31 de outubro pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), em Paranaguá foram 95 óbitos; 14 em Antonina; 4 em Guaraqueçaba; 25 em Guaratuba; 18 em Matinhos; 12 em Morretes e 15 em Pontal do Paraná.

Sobre os sepultamentos, a Secretaria Municipal de Saúde de Paranaguá ressaltou que, seguindo os protocolos do Ministério da Saúde, a cidade que ocorreu o óbito do paciente vítima de Covid-19 deve ser a mesma do seu sepultamento. De acordo com a pasta, as idades dos falecidos do sexo masculino variam entre 90 e 32. Já as vítimas do sexo feminino tinham entre 95 e 35 anos. A secretaria reforça ainda que nem todas as vítimas foram sepultadas em Paranaguá, pois algumas faleceram fora da cidade.

As vítimas começaram a ter nomes

Dentre tantas vítimas, Risoaldo Moura, conhecido como Riso pelos parnanguaras, faleceu no dia 8 de abril, foi a primeira morte em decorrência da doença registrada na cidade. Após seis meses, Camila Ribeiro de Moura Bernarde, filha de Riso, contou ao JB Litoral que a família pensava que o vírus era uma realidade muito distante deles. “Quando começou a pandemia pensamos que o vírus era uma realidade muito distante de nós. Quando passou na televisão os pedidos de isolamento social, meu pai já apresentava sintomas atípicos. Portanto, o vírus estava muito mais perto do que imaginávamos. Porém, até o dia do seu internamento ele estava forte, jamais nos passou pela cabeça que ele não venceria essa batalha”, disse.

“Meu pai foi a quarta confirmação da cidade e a primeira vítima fatal. Os primeiros sintomas vieram mais ou menos no dia 15 de março. Começou com dores de cabeça e dor na região de uma cirurgia muito antiga que ele tinha no cotovelo. Por terem sido sintomas muito aleatórios e atípicos da doença, não nos passou pela cabeça que pudesse ser covid-19. Apenas nos alertamos quando depois de alguns dias ele começou a ter um pouco de febre. Vindo a ser internado no dia 31 do mesmo mês”, contou.

Apesar do resultado do exame sair cinco dias após o internamento, o médico já alertou por um possível resultado positivo. “Do dia do seu internamento até o resultado do exame foram cinco dias. O médico no primeiro dia já nos informou que, pelos exames feitos em seu pulmão, o resultado provavelmente seria positivo. Mesmo assim a nossa esperança era que o exame desse negativo. No momento da confirmação foi um baque muito grande. Pelos sintomas que presenciamos, chegamos a pensar que ele estivesse com dengue”.

A despedida

Na época, a filha, o genro e a esposa do empresário não apresentaram sintomas

O JB perguntou para Camila como foi ter que sepultá-lo sem poder vê-lo. “Essa é a pergunta mais complicada e dolorida para mim. Por termos tido contato com ele, eu, meu marido e minha mãe tivemos que ficar quinze dias em isolamento total, por conta do risco alto de contaminação. Quando meu pai faleceu ainda estávamos no oitavo dia, ou seja, não pudemos ir ao sepultamento. Diante disso, optamos pela cremação, para que tivéssemos a oportunidade de, mais tarde, dar a ele a homenagem que ele merecia. Meu irmão foi o único que pôde ir até o crematório, mas o caixão estava lacrado e precisou ficar a três metros de distância. Como o vírus continua circulando, ainda não pudemos fazer a cerimônia de despedida que ele merecia, rodeada pela sua família e seus muitos amigos. Portanto, ainda falta uma parte nessa história para que esse ciclo se encerre, e pelo andar da carruagem, acredito que isso não possa acontecer tão cedo”, completou.