Queimadas devastam Áreas de Proteção Ambiental em Guaratuba para venda ilegal de terrenos
Há cerca de um mês, a cidade de Guaratuba vem enfrentando a falta de chuvas. Devido ao solo e vegetação cada vez mais secos, várias queimadas estão sendo registradas e, apesar de algumas ocorrerem por intempéries da natureza, a maioria é causada pelos homens, de forma criminosa, com o intuito de vender as áreas para famílias carentes ocuparem como residência. Segundo o Corpo de Bombeiros, a área atingida pelo fogo é de mais de 03 mil metros quadrados, grande parte de Mata Atlântica. Mais de 55.600 litros d’água foram necessários para conter as chamas.
De acordo com a Secretária Municipal de Meio Ambiente, Adriana Correa Fontes, várias pessoas estão se aproveitando do tempo seco para realizar queimadas criminosas. “Boa parte da população de Guaratuba está em isolamento social em suas casas e tendo que conviver com a fumaça das queimadas e com o medo do fogo se alastrar. Elas se queixam das graves consequências para a saúde, principalmente aquelas que sofrem com problemas respiratórios, algo muito preocupante nesta época de pandemia por coronavírus, pois estas são as pessoas do grupo de risco. Além da roupa, louças, móveis, paredes e automóveis sujos pela fuligem e até a dificuldade em se locomover”, explica.
Apesar de existir relatos de alguns moradores informando à equipe da Secretaria Municipal de Meio Ambiente que os incêndios têm sido causados por pessoas que decidiram colocar fogo no lixo ou, até mesmo, queimar o mato dos seus terrenos neste período em que a vegetação está seca por falta de chuvas, a secretária afirma que levantamentos realizados mostram que o maior número de queimadas é resultado do fogo criminoso. “Ou seja, é realmente para destruir a vegetação e permitir a ocupação de terrenos recém-invadidos, a maioria em Áreas de Proteção Ambiental (APA)”, explica.
Focos dos incêndios
Desde o fim de março, há registros de fogo em todas as regiões da cidade, com os principais focos concentrados nos Bairros Carvoeiro e Eliane, atingindo, também, o Cohapar, Piçarras, Nereidas e Caieiras. “Já se somam uns 20 focos principais, mas houveram alguns casos isolados no Brejatuba, Centro e, até mesmo, na mata próxima do acesso ao ferryboat. A queimada que mais chamou atenção aconteceu às margens da Avenida Paraná”, informa Adriana.
As equipes das Secretarias de Meio Ambiente e da Segurança estão trabalhando em conjunto para levantar os autores das queimadas criminosas. Até o momento, foram realizados cinco flagrantes de pessoas colocando fogo no lixo, o que acarretou multa aos mesmos, que custam de R$ 150 a R$752. A Força Verde também está atuando e, até agora, lavrou três Termos Circunstanciados, de três casos.
Segundo a equipe da secretaria de Meio Ambiente, está sendo realizada uma força tarefa, que conta com o apoio da Força Verde, Rotam, Segurança Pública e da própria secretaria para evitar as queimadas. “Estamos todos os dias nas ruas, de manhã, à tarde e à noite, para combater esse crime. Ainda não conseguimos prender nenhum autor, mas nesta terça-feira (21) encontramos um anúncio de venda de terreno no FaceBook, e iremos atrás”, diz.
Construções nos locais não serão permitidas
Adriana informa que as equipes da prefeitura estão produzindo um relatório que será encaminhado ao Ministério Público do Paraná a respeito da situação. Além disso, ela explica que os ‘proprietários’ dos terrenos estão sendo notificados, uma vez que as áreas estão na APA de Guaratuba e não podem ser ocupadas. “Junto à Secretaria de Urbanismo, IAP e Força Verde, iremos fazer uma força tarefa para que não aconteçam construções irregulares nesses locais”, afirma.
Ela define a ação criminosa como uma “indústria da invasão”. “Eles chegam derrubando e incendiando a vegetação nativa. Demarcam áreas e as dividem em lotes. Não se importam com as leis, com os animais e, muito menos, com as nascentes e mananciais, sempre com as mesmas desculpas: ‘ninguém tem onde morar, não tenho como pagar aluguel’. Mas a verdade é que essa indústria criminosa está ali apenas para lucrar com a venda do espaço adquirido de forma ilegal. Estamos falando de invasores de terra, que aos poucos estão degradando Áreas de Proteção Ambiental”, comenta.
A Secretaria de Meio Ambiente alerta à população que nas regiões de queimadas terão muitos terrenos à venda, porém, são ilegais e não devem ser comprados, pois o investimento será perdido. As queimadas devem ser denunciadas à secretaria, pelo telefone 3472-8647; à Polícia Militar (190) ou à Polícia Ambiental (3443-6858 e 3442-5128).
O Secretário Municipal de Segurança Pública, Jacson José Braga, comenta que a equipe da pasta acompanha todas as ações de fiscalização promovidas pela secretaria de Meio Ambiente. “Praticamente todos os dias recebemos denúncias de desmatamentos, incêndios e etc. Automaticamente, acionamos as equipes da Polícia Ambiental e da secretaria de Meio Ambiente. A Delegacia da cidade também possui um canal para denúncias destes tipos de ações, por meio do telefone 3472-8592 e 3442-1202”, conclui.