Reabertura da Ilha do Mel: empresários veem anúncio como última esperança para sobrevivência dos empreendimentos


Por Luiza Rampelotti Publicado 02/09/2020 às 21h04 Atualizado 15/02/2024 às 15h20

Totalmente fechada para o turismo desde o dia 21 de março, quando o governo Estadual publicou um decreto suspendendo sua visitação, devido à pandemia do coronavírus, a Ilha do Mel já tem data definida para reabertura: dia 20 de setembro, exceto para a Ponta Oeste, que conta com uma comunidade nativa de pescadores e continuará fechada. A escolha foi informada pela prefeitura de Paranaguá, na quarta-feira (26), após pressão da Associação dos Comerciantes da Ilha do Mel (ACOIM).

De acordo com o Executivo Municipal, foram realizadas reuniões com as secretarias municipais e com a 1ª Regional de Saúde de Paranaguá, órgão pertencente à Secretaria Estadual de Saúde (SESA), para a confecção de um protocolo que permitisse a reabertura. Questões como coleta de resíduos, normas de higienização, distanciamento social, utilização de um sistema com cadastro dos visitantes, realização de barreiras sanitárias em Paranaguá e na ilha, entre outras medidas de prevenção contra a Covid-19 foram tratadas durante as reuniões e devem ser implementadas até a data anunciada.

Presidente da ACOIM, proprietário da Pousada Enseada, pediu o apoio do Município um dia antes do anúncio, pela prefeitura, da reabertura da Ilha

No dia anterior ao anúncio, terça-feira (25), o presidente da ACOIM, Carlos Gnata, publicou, em seu perfil no Facebook, uma postagem afirmando que os comerciantes do local estavam pedindo o apoio de Paranaguá. “Hoje, dia 25, são 157 dias ou 05 meses e 04 dias totalmente fechados, sem poder trabalhar, sem rendimento, sem perspectiva, tendo que pagar as contas normalmente, como: água, luz, telefone, internet, TV, supermercado, impostos, contabilidade, aluguel para os arrendatários e fazendo manutenção da estrutura”, iniciou.

Empresários pediram volta na terça

Ele destacou, ainda, que muitos comércios tiveram que dispensar funcionários e/ou diminuir salários para reduzir os custos, pois estavam preparados para apenas três meses de fechamento. A reivindicação da ACOIM pedia a volta do turismo a partir desta terça-feira (01), já visando o feriado nacional da Independência do Brasil, no dia 07, que sempre atraiu muitos turistas à Ilha do Mel.

O JB Litoral entrou em contato com Carlos Gnata para falar sobre a data anunciada para a reabertura ao turismo. Um pouco incrédulo, ele disse que o prefeito Marcelo Roque (Podemos) ainda precisa editar um decreto que oficialize a determinação. “Até lá, pode mudar alguma coisa”, comentou.

A equipe de reportagem também questionou a prefeitura a respeito da publicação do decreto, mas, até o fechamento desta reportagem, não obteve retorno. Até sábado (29), nenhum documento oficial havia sido publicado. 

Reabertura seria em agosto, mas moradores se opuseram

A preocupação com a data é comum ao setor empresarial, que já recebeu a notícia, pelo governo do Estado, de que a ilha seria reaberta no dia 15 de agosto, mas, viu o Poder Público voltar atrás após inúmeros protestos realizados pelos moradores, que acreditam que o local não está preparado para a volta dos turistas. Ainda hoje, existem aqueles que creem que o fechamento total continua sendo a solução para evitar os casos de coronavírus entre os habitantes – nenhum foi infectado, até o momento.

Um desses moradores é João Marcos Haluch, empresário e presidente da Associação de Moradores da Praia Grande, que comenta que a ilha não está preparada para a reabertura. “Seria necessário reforçar os protocolos de segurança e fiscalização no embarque e desembarque dos turistas e fazer um trabalho de conscientização e preparação dos moradores para o retorno dos visitantes. Além disso, precisaria, também, de fiscalização para garantir as adequações nas pousadas”, afirmou.

Porém, Gnata destaca que nenhum outro lugar turístico do Brasil está fechado como a Ilha do Mel. Segundo ele, todas as regiões similares estão abertas de forma parcial ou total, como: Gramado (RS), Ilha Grande (RJ), Ilha Bela (SP), Ubatuba (SC), Florianópolis (SC), Foz do Iguaçu (PR), Paraty (RJ), Jericoacoara (CE), entre outros. “Após abertos, nenhum desses locais voltou a fechar totalmente. Isso significa que o turismo não impactou e muito menos acelerou a contaminação pela Covid-19 em suas regiões”, disse.

100% de perdas

O presidente da ACOIM informa que existem cerca de 200 pequenas empresas no local, que geram, aproximadamente, 1000 empregos diretos e indiretos. Segundo ele, boa parte desses postos de trabalho foram extintos e os que ainda se mantêm correm o risco de também serem fechados. “Nosso faturamento nesses mais de cinco meses foi zero, ou seja, 100% de perdas”, lamentou.

Ele ainda destaca que os comerciantes não receberam nenhum tipo de auxílio dos governos Federal, Estadual e Municipal. “O que nos foi oferecido, e muitos não conseguiram devido à burocracia, foram empréstimos com juros ainda caros”.

O proprietário da Pousada Orquídeas também falou sobre as dificuldades dos empresários do local durante a pandemia

Outro empresário, Gilberto Keserle, também menciona as dificuldades de sobrevivência para o setor durante a pandemia. “O meio empresarial está vivendo um verdadeiro caos, a reabertura da ilha é fundamental para a sobrevivência dos empreendimentos”.

Além disso, ele relata que parte dos próprios moradores, que anteriormente atuavam como fornecedores para os estabelecimentos, também estão sendo prejudicados. Esse é o caso dos pescadores.

Por isso, os empresários destacam a necessidade de que as prefeituras de Paranaguá e de Pontal do Paraná, onde também há um ponto de travessia para a ilha, realizem a instalação de barreiras sanitárias e melhorem o controle de acesso ao local, além de uma campanha de conscientização à prevenção da Covid-19 junto aos moradores. “Com isso, é possível promover uma reabertura segura que beneficiará tanto os empresários quanto os moradores que estão preocupados com o contágio do vírus”, ressaltaram.