Rede do bem: pescador e amigos realizam pesca voluntária para doação de sardinhas


Por Luiza Rampelotti Publicado 19/05/2020 às 09h34 Atualizado 15/02/2024 às 10h18

Um grupo de amigos parnanguaras resolveu unir forças para auxiliar a comunidade neste momento de crise, na saúde e na economia, provocada pela pandemia do novo coronavírus. Em Paranaguá, o pescador Robert Perschim e outros cinco homens, que não são pescadores, decidiram ir ao mar, uma vez por semana, para pescar e doar toda a quantidade de peixes conseguidos às comunidades carentes. Já foram entregues 18,5 toneladas de sardinha.

As doações começaram na quinta-feira anterior à Sexta-feira Santa, no dia 09 de abril, e tiveram a intenção de garantir o alimento na mesa das famílias que se encontravam em dificuldade financeira na data especial.  Porém, a quantidade de pessoas que foram receber os peixes surpreendeu e comoveu Robert, que decidiu continuar com as pescarias.

De lá para cá, em todas as quintas-feiras os homens se lançam à baía de Paranaguá para realizar a pesca voluntária. A última aconteceu no dia 14, quando foram doadas 3,5 toneladas de sardinha. “Nós saímos às 4h da manhã e dependemos do horário do peixe. Na última quinta foi mais difícil por causa do tempo, pensei até que não fosse conseguir nada, mas na última hora pescamos o suficiente”, diz Robert.

Pontos de doação

O barco atraca no bairro da Costeira, na Rua Theodorico dos Santos, no canal do Rio do Chumbo, e ali permanece por alguns momentos antes que os peixes sejam separados e embarcados nos veículos que vão realizar a entrega nas comunidades da cidade. Nesse momento, a população pode ir até o local retirar as sardinhas com sacolas ou baldes.

No dia 14, as doações foram entregues em Alexandra e no Bairro Labra, mas já aconteceram na Vila Garcia, Jardim Iguaçu, Jardim Figueira, Vila São Jorge, Vila Primavera, Vila do Povo, Ponta do Caju, entre outros bairros da cidade. De acordo com Robert, as pessoas que quiserem receber as sardinhas frescas em seu bairro podem entrar em contato com ele pelo número (41) 99963-6731.

A nossa intenção é aliviar um pouco esse momento difícil que a pandemia ocasionou para todos. Tem muita gente passando necessidade, sem ter como colocar comida na mesa. Eu ia parar de doar na segunda semana de pesca, mas quando eu participei da doação, vi a situação das famílias, decidi continuar. É muito difícil ver as pessoas vindo pedir, perguntando, surpresas, se era realmente uma doação. Elas agradeciam, com as mãos para o céu, dizendo que graças a Deus não faltaria comida em casa devido à doação”, se emociona o pescador.

Dificuldades financeiras

Apesar de estar doando às pessoas carentes, ele comenta que os pescadores locais tiveram uma grande queda no faturamento mensal. Segundo ele, 50% da renda foi afetada, pois alguns compradores estão com receio que a carga fique estagnada nos centros de venda. “Caiu bastante a nossa venda, mas mesmo assim não podemos desanimar. É preciso fazer o bem neste momento para quem mais precisa”, afirma.

Não foi só a renda de Robert que diminuiu como consequência da pandemia do coronavírus. A crise econômica provocada pela doença está agravando a situação de pobreza no país e deve deixar um rastro de aumento na desigualdade. Os especialistas comentam que a deterioração social tende a ocorrer em duas frentes: colocando novas pessoas entre os mais pobres e piorando a condição da população já vulnerável.

Atualmente, há mais de 50 milhões de pessoas que vivem com menos de R$ 400 por mês no Brasil. A situação piorou por conta das restrições decorrentes das medidas de combate ao vírus, que impactam a atividade econômica, ampliando o desemprego e fazendo com que milhares de famílias sofram, até mesmo, com a falta de alimento. 

De acordo com a Oxfam, entidade da sociedade civil que atua em cerca de 90 países com campanhas, programas e ajuda humanitária, a crise provocada pela pandemia pode levar mais de 500 milhões de pessoas do mundo para a pobreza, a menos que ações urgentes sejam tomadas para ajudar países em desenvolvimento. Para a entidade, apesar de urgentes e necessárias, as medidas de distanciamento social e de restrição do funcionamento das cidades agravam a situação dos trabalhadores, com demissões, suspensão de pagamento de salários ou inviabilidade do trabalho informal.

Por isso, ações voluntárias, como esta de Robert e seus amigos, ou até mesmo atitudes de solidariedade menores, mas não menos importantes, como a doação de um quilo de alimento para entidades que estejam arrecadando, ou de materiais de limpeza e higiene pessoal, entre outros, são essenciais para que, neste momento difícil, o maior número de pessoas em situação de vulnerabilidade possa se beneficiar e, pelo menos, não sofrer com a fome.