Rede Sorella leva atendimento jurídico e psicológico às vítimas de violência doméstica no Litoral


Por Luiza Rampelotti Publicado 09/03/2022 às 13h27 Atualizado 17/02/2024 às 03h20

No ano de 2021, quase 30 mil mulheres precisaram de medidas protetivas de urgência aplicadas pela Justiça, segundo o Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR). Somente nos primeiros seis meses, foram registradas 27.881 ocorrências de violência doméstica contra a mulher.

Mas, além dos números oficiais, existem, também, aqueles subnotificados, ou seja, casos de violência contra mulheres que sequer tiveram a oportunidade ou coragem para denunciar. A Rede Sorella, que atua em Pontal do Paraná e Matinhos, oferece apoio a todas elas – que são ou foram vítimas de violência doméstica e familiar no litoral paranaense.

Criada em 2019, pela advogada Danielle Couto, a Sorella proporciona atendimento jurídico e psicológico gratuito para as vítimas. Elas também recebem todo o encorajamento e força necessária para denunciar seus agressores, além de amparo para se reerguerem após a decepção.

O projeto nasceu depois de uma vivência no exterior, onde observei que políticas públicas para mulheres realmente funcionam e elas são mais empoderadas. Voltando para o Brasil, me uni a algumas amigas que também buscavam o mesmo propósito de empoderamento feminino e montamos a ONG”, conta Danielle.

Os atendimentos começaram ainda em 2019, quando o então prefeito de Pontal do Paraná, Marcos Fioravanti, o Casquinha, cedeu um espaço municipal para que as orientações às mulheres pudessem ser feitas. Porém, com o início da pandemia, em 2020, os acompanhamentos passaram a ser de forma on-line.

Sede em Pontal do Paraná e Matinhos


No final de 2021, o prefeito de Matinhos, José Carlos do Espírito Santo, o Zé da Ecler, também cedeu um local para que o projeto pudesse se fixar na cidade. Com isso, atualmente os dois municípios prestam atendimento presencial às vítimas de violência, em Pontal do Paraná na Rua Dona Alba de Souza e Silva, 1350 (ao lado da Defensoria Pública), e em Matinhos na Rua Bandeirantes, 183 (sede da Provopar).

Entretanto, qualquer mulher que resida em outra região do litoral pode ser atendida. Basta entrar em contato por meio da página da Rede Sorella no Facebook e, ali, é realizada a primeira interação com a profissional habilitada para prestar suporte. “De lá para cá, cerca de 70 atendimentos psicológicos e jurídicos já foram realizados. Atualmente, com o controle da pandemia, eles estão ocorrendo de forma híbrida”, explica Danielle.

A principal bandeira da Rede Sorella é a defesa dos direitos humanos em prol da mulher, especialmente contra a violência. “Nosso sonho é criar a Casa Sorella, um local em que pudéssemos instalar uma brinquedoteca, ter uma psicóloga e uma advogada disponível em horário integral para as mulheres. Queremos ter uma estrutura capaz de atender com muito conforto e qualidade todas elas”, diz a fundadora.

Profissionais voluntários

Os primeiros passos para a realização desse sonho já foram dados. A Rede Sorella já foi reconhecida pela Lei de Utilidade Pública de Matinhos e Pontal do Paraná e está buscando o mesmo reconhecimento a nível estadual. Com a declaração de utilidade pública, a instituição pode reivindicar, nos órgãos competentes, isenção de contribuições destinadas à seguridade social, pagamento de taxas cobradas por cartórios e imunidade fiscal.

Todos os 70 profissionais (entre psicólogos, advogados, médicos, dentista, psicopedagogos, contador) que atuam na rede de proteção às mulheres são voluntários. Para se voluntariar, é preciso enviar uma solicitação por e-mail para: redesorellalitoral@gmail.com. A partir daí, os passos seguintes passam pelo preenchimento de cadastro e análise. Se aceita, a pessoa passa a fazer parte dos grupos de WhatsApp e canais de atendimento da Sorella.

Nossa ideia é podermos, cada vez mais, alinhar políticas públicas em prol da mulher. Infelizmente, os dados demonstram a necessidade de as pessoas estarem se unindo na luta em favor dos direitos das mulheres e contra a violência. Devemos ter ciência de que somos agentes de transformação”, conclui Danielle.

Tipos de violência contra a mulher

Quanto mais se fala sobre a violência doméstica, mais as mulheres têm a oportunidade de perceberem se estão em relacionamentos tóxicos ou abusivos. Com isso, a necessidade de buscar mais informações e conhecer melhor sobre as leis aumenta. Desta forma, é fundamental destacar que os municípios possuem uma rede de proteção estabelecida, envolvendo as forças policiais, o Judiciário e o Ministério Público.

Também é importante esclarecer que, apesar de a agressão física ser a mais conhecida, existem também outras formas de violência contra a mulher previstas na Lei Maria da Penha. Neste caso, há cinco formas que se enquadram: violência física – conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; violência psicológica, que cause dano emocional e diminuição da autoestima; violência sexual, que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada; violência patrimonial, que configure a retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos; e violência moral, que configure calúnia, difamação ou injúria.