Sem apoio da Fundação de Esportes, Lineker divulga Paranaguá para o mundo


Por Redação JB Litoral Publicado 29/10/2016 às 16h48 Atualizado 14/02/2024 às 16h47

Sucesso de Lineker no MMA foi construído com sacrifício determinação e muita fé em Deus. Foto: JB

Herói em Paranaguá, idolatrado no Brasil e no mundo pelas suas brilhantes lutas e vitórias no seleto grupo dos superatletas do Ultimate Fighting Championship (UFC), o parnanguara John Lineker, desde que iniciou sua meteórica carreira nos ringues, vive a sina do velho ditado onde “a prata da casa não é valorizada”.

Na semana passada o JB entrevistou com exclusividade o “Mão de Pedra” que, hoje, é o segundo melhor do mundo no ranking dos pesos leves que, por conta da falta de apoio da Fundação Municipal de Esportes (Fundesportes) e da própria prefeitura, fez uma forte declaração em tom de desabafo.

 

“Hoje levo o nome de Paranaguá não pelos órgãos públicos, por que não recebo apoio, mas pelo povo que torce por mim, por que quando subo no octógono, estão todos torcendo e mandando energia positiva. É por isto que ainda levo o nome da cidade, caso contrário não levaria”, disse a estrela parnanguara do TOP 3 do UFC.
 

Em um merecido descanso, após a última vitória contra o americano John Dodson, o JB foi recebido na residência de Lineker e constatou que a mesma mão que pôs muitos fortes lutadores na lona, também é carinhosa com os filhos e a esposa Jackeline.

Na expectativa da próxima luta que ocorrerá somente em 2017, o parnanguara espera que ela seja a disputa pelo cinturão da categoria contra o campeão Dominick Cruz, apesar de que isto dependerá do matchmaker do UFC, Sean Shelby, o qual responde pela categoria de Lineker que é de 57 a 61 quilos. “Mas se não for vou buscar meu objetivo que é ser o campeão, mesmo que precise lutar mais uma vez”, afirma.

Analisando a sua última vitória, Lineker acredita que a estratégia de Dodson, de bater e sair para evitar a trocação, foi usada em excesso depois que ele sentiu o peso da sua mão. Isto irritou o parnanguara que chegou a chamá-lo para a luta no octógono e fez o público vibrar em Portland, nos EUA.

 Na possibilidade de enfrentar o 1º da categoria, o americano TJ Dillashaw para encurtar caminho na disputa pelo cinturão, Lineker fez uma análise dos dois atletas.

“Dillashaw e o Dominick Cruz têm um estilo meio parecido e eu sou mais plantado, mas pego mais pesado e penso que aí é que eles terão dificuldade de segurar minha mão, quer em três ou cinco roundes”.

 

Começo difícil e sem apoio
 

Ao lembrar o início de sua meteórica carreira de sucesso no mundo do MMA, Lineker diz que sua caminhada foi feita à base de muita batalha, suor, sacrifício e o apoio da cidade foi pouco, principalmente dos órgãos públicos. Entretanto, a fé em Deus e a determinação em ser campeão do UFC o motivou a seguir em frente e isto jamais o fez desistir de seu sonho.  “Graças a Deus eu vejo meu sonho realizado, de chegar aonde cheguei e agradeço a Deus por tudo. Vendo minha vida lá atrás e a de hoje que mudou completamente, prova que o esporte muda nossa vida, muda as pessoas e, hoje, posso viver do esporte”.
 

A mágoa do atleta não se restringe apenas ao Poder Público e ele conta que também procurou empresas grandes da cidade e sempre obteve resposta negativa.

Ao tomar conhecimento da implantação na cidade do Programa Bolsa Atleta, por meio da Lei Municipal 438/2011, Lineker conta que foi até a Fundação Municipal de Esportes (Fundesportes) aonde falou com o Presidente Darlan Jones Macedo, para ver se conseguiria fazer parte deste Programa, mas a resposta também foi negativa.

Ele foi informado de que não poderia receber o Bolsa Atleta por não ser um lutador olímpico e o MMA não ser um esporte olímpico. Desanimado, Lineker não procurou outra fonte de recursos à disposição da Fundesportes, a Lei de Incentivo ao Esporte Amador, temendo receber a mesma reposta.O atleta contou ainda que tentou buscar apoio com o Prefeito Edison de Oliveira Kersten (PMDB), por saber que em outras cidades, atletas do MMA recebem apoio financeiro, por meio do Bolsa Atleta fornecida pelas prefeituras, como, por exemplo, na cidade de Manaus. O JB verificou que o patrocínio da Prefeitura de Manaus atende atletas locais como José Aldo, Ronaldo Jacaré, Adriano Martins, Diego Brandão, todos do UFC, além de Ronnys Torres (Shooto), Bibiano Fernandes (ONE FC) e Marcos “Loro” Galvão (Bellator).

 

“Eu não sei por que Paranaguá não me cedeu isso. Talvez achem que estou milionário (risos), o que não é verdade. Estou construindo as minhas coisas agora, mas a gente tem que perseverar”.

 

Bolsa da Fundesportes atendia intervalos de lutas
 

Ao saber que no Bolsa Atleta da Fundesportes, no sistema de Bolsa de Demanda Social para atletas que desempenham na categoria internacional, que seria o caso do parnanguara, Lineker teria direito a um recurso de R$ 1.500,00 ao mês, bem abaixo do Programa em Manaus, que garante um aporte financeiro mensal de R$ 4 mil.

 


Presidente Darlan alegou que MMA não é esporte olímpico para negar o bolsa atleta Foto:PMP

Entretanto, John diz que este valor o ajudaria em diversas situações. Ele ressalta que ainda não ganha milhões no UFC e que existe um intervalo de 4 a 5 meses entre uma luta e outra. Desta forma, o lutador precisa saber como usar este dinheiro, quer com escola das crianças, médico, entre outras necessidades, e que nunca sobra para a próxima luta.

“Um apoio como este, com certeza, ajudaria muito. Eu poderia guardar o dinheiro que ganho na luta para o futuro dos meus filhos e usar dos apoios com estas necessidades do dia”. Todavia, o atleta diz que valoriza, e muito, os poucos amigos que o tem apoiado ao longo de sua carreira, justamente por gostarem do seu trabalho e por divulgarem o nome de Paranaguá no mundo.

“Dou muito valor para empresários como Tabajara do Restaurante A´Bonbonne e o Kinho Possas da Tibagi. Eles me apoiam porque gostam do esporte. Kinho chegou a me dizer que considera isto uma vergonha, uma vez que levo o nome da cidade mundialmente e disse que me apoia justamente por isto e sequer pede que divulgue, mas não posso deixar de reconhecer isto dele. Para mim é gratificante”.
 

Lineker encerrou a entrevista dando uma mensagem para muitos jovens e crianças de todo o mundo que veem nele um ídolo, um herói, uma referência no esporte mundial. “Eu tive um sonho e jamais o deixei morrer. Entreguei meus sonhos nas mãos de Deus, perseverei, insisti, me esforcei, corri atrás e nunca deixei alguém falar que não conseguiria. Então, é nunca desistir do sonho e correr atrás. Não é fácil, o caminho é árduo, mas no final vai valer a pena. Nunca desista dos seus sonhos”, finalizou o parnanguara.

 

Bolsa Atleta nunca beneficiou ninguém

 

A reportagem do JB procurou a prefeitura para falar a respeito da Lei Municipal 438/2011 que criou o Bolsa Atleta e, por meio da Fundesportes tomou conhecimento que, desde sua criação, nenhum atleta foi beneficiado por este Programa. Segundo a Fundação, nesta gestão não teve nenhum processo com este pedido e nenhuma solicitação de bolsa. O que chama a atenção, levando em conta que Lineker procurou o Presidente Darlan, e isto não foi informado pela prefeitura. Entretanto, o que também ficou em evidência foi a resposta da Fundesportes para o JB sobre “quem são os atuais integrantes da Comissão do Bolsa Atleta e qual é o decreto de nomeação de seus membros?”.

A Fundação disse que o decreto ainda é o 2577/2012, assinado em maio de 2012 e admite que esteja desatualizado. Contudo, passou a seguinte composição da Comissão da época, formada por Valmir Martins, Paulo Sérgio dos Santos e Pedro Paulo Pereira. Além da Fundesportes não saber que o atual Diretor Paulo Yoshio Kato fazia parte da Comissão de 2012, durante toda a gestão do Presidente Darlan, que se encerra em dezembro, não foi composta uma nova e atualizada Comissão do Programa Bolsa Atleta.