Trabalho voluntário: Vovó Hortência já doou 460 kits maternidade em Matinhos


Por Luiza Rampelotti Publicado 28/07/2022 Atualizado 17/02/2024

A Câmara Municipal de Matinhos aprovou, na última segunda-feira (18), o Projeto de Lei nº 3/2022, de autoria da vereadora Nívea Gurski (PSD), que concede o Título de Cidadã Honorária do Município a Rosana Ribas Gotti. A homenagem se dá devido ao seu trabalho voluntário realizado desde 2013.

Rosana, mais conhecida como Vovó Hortência, tem 62 anos e mora em Matinhos há 22. Mãe de 2 filhos e avó de 9 netos, iniciou suas costuras em meados de 2013 para doar no hospital municipal e, então, decidiu reunir mais amigas para participarem de seu projeto chamado “Vovó Hortência”, por causa das flores de mesmo nome, que têm o formato de buquês com várias florezinhas, representando a união de todas as participantes.  

Desde 2020, ela passou a tocar o projeto com a ajuda de apenas três amigas e, então, fez uma parceria com a Rede Solidária de Matinhos para a confecção de kits maternidade para gestantes em situação de vulnerabilidade social. Cada kit conta com protetor de berço, fraldas, banheira, manta, naninha, sacola de TNT, travesseiros, toalha de banho, roupinhas, lençóis, sapatinho de lã, touca de lã, toalha de boca, sabonete, lenço umedecido, algodão e mamadeira. Até o momento, já foram doados 460 kits.

Durante a pandemia, vovó Hortência fez mais de 1000 máscaras para doação. Foto: Diogo Monteiro/JB Litoral

Para montar as unidades, Vovó Hortência recebe doações da Rede Solidária, Provopar, Associação da Vila Nova, Associação das Formiguinhas do Sertãozinho, Amigos Solidários do Albatroz e demais pessoas. Por conta da grande quantidade de doações estocadas em sua casa, ela decidiu montar seu próprio ateliê.

Durante a pandemia de coronavírus, ela confeccionou mais de mil máscaras e as deixou disponíveis em seu portão, para que as pessoas que necessitassem pudessem pegar gratuitamente. Além disso, também já produziu 100 mantas térmicas com caixa de leite para doação às pessoas em situação de rua, e cobertores poncho, e, ainda, realiza todos os sábados, junto com a Rede Solidária, um “panelão de sopa”.

A vereadora Nívea Gurski justifica a concessão do Título de Cidadã Honorária à Rosana. “Conheci a senhora Rosana através da Rede Solidária de Matinhos. Ao visitar seu ateliê, me encantei com o trabalho desenvolvido, tanto quanto me surpreendi pelo empenho e dedicação no cuidado de preparar cada kit. Mas o que mais que me chamou atenção foi a questão do anonimato, ela evita se expor. Como ela mesma gosta de falar: ‘o que importa é seu trabalho’”, diz.

Quem é a Vovó Hortência?


O JB Litoral foi conhecer dona Rosana, que conta que desde muito cedo teve espírito de liderança. Formada em pedagogia e especializada em pré-escola, ela também tem especialização em enfermagem e é artesã.

Morou em Curitiba até os 42 anos, mas, após se casar, mudou para Matinhos. “Quando me mudei pra cá senti a necessidade de ajudar alguém, mas como? Por onde? Não tinha influência na cidade e nem com as pessoas. Foi em uma conversa com uma amiga chamada Marli que contei sobre meu desejo de confeccionar kits para nenéns recém-nascidos e foi com ela que iniciei meu trabalho aqui na cidade”, relembra.

Já no começo, as duas montaram 10 kits com toalhas e itens de higiene e foram conversar com o então diretor do Hospital dos Navegantes para realizarem a doação. A partir daí o trabalho voluntário começou.

No início, outras pessoas passaram a participar do projeto Vovó Hortência, mas, com o passar do tempo, Rosana acabou ficando sozinha com a responsabilidade de produzir e planejar a confecção dos kits e do conserto de peças de roupas para doação. Hoje, ela destaca que conta com três amigas importantes: Marli Maria Bunicoski, Carmen Nidia Berthier Machado e Mitzi Lulhi Farias.

No começo queríamos atender os bebês, mas o projeto foi crescendo e evoluindo e começamos a atender a terceira idade, com sapatinhos, mantas e casaquinhos. Foi quando eu percebi que o meu quarto não tinha mais espaço para guardar a nossa produção e precisei transformar um espaço atrás da minha casa para levantar um ateliê”, conta.


Momento difícil


Ela comenta que, nos quase 10 anos de trabalho na cidade, o projeto já recebeu muitas doações e existe a curadoria do que pode ser doado, consertado e/ou reciclado. Nos últimos meses, Rosana revela que a produção dos kits estava a todo vapor, porém, foi pega de surpresa pela morte da mãe.

Estou retomando agora a caminhada. Há 15 dias perdi minha mãe e ela era meu braço direito, mas aos 93 anos ela nos deixou, então, ainda estou meio perdida. Estávamos num ritmo frenético recebendo doações, realizando as entregas e revisando tudo”, diz.

Apesar do momento difícil, Vovó Hortência afirma que continuará fazendo as doações e, para isso, conta com a ajuda de pessoas e instituições. “Quem nos conhece e sabe onde fica a nossa casa, pode trazer sua doação aqui. Se a doação for grande nós vamos buscar, não importa se é em Matinhos, Pontal do Paraná ou Paranaguá. Quem tiver saldo de tecidos, toalhas e outros itens, vamos transformar em algo útil para a população. Um exemplo é que uma toalha de banho podemos transformar em duas toalhas para bebê, então todo o material usado será bem aproveitado”, explica.