Vem aí o Moegão, a obra que revolucionará a operação em Paranaguá


Por Redação JB Litoral Publicado 17/03/2021 às 17h35 Atualizado 15/02/2024 às 20h53

Se os planos mais otimistas se confirmarem, no aniversário de 89 anos, o porto de Paranaguá estará operando de uma forma totalmente diferente da atual, com muito mais capacidade, mais rapidez e também menos transtornos para os moradores da cidade. Está prevista para daqui três anos o início de funcionamento do Moegão, sistema integrado que vai agilizar a descarga e o transporte dentro do porto. A proposta entrou na fase final de ajustes do projeto executivo, que deve ser concluído nos próximos meses, ainda no primeiro semestre de 2021, para aí começarem os trâmites de licenciamento e licitação.

O projeto está sendo doado pela Rumo, que tem interesse direto que a obra saia do papel, e deve ser financiada por terminais privados e públicos. Israel Castro e Souza, diretor da Execução Sul da Rumo, informa que serão três moegas, funcionando em três linhas independentes, cada uma para produtos diferentes, e com capacidade de 60 vagões cada. “Hoje, a nossa capacidade é de 80 vagões na moega, com picos de 100. Com o Moegão, passará para 390 vagões, podendo superar 500 vagões por dia”, comenta.

Ele destaca que, além da quadruplicação da capacidade, também haverá ganhos em tempo e interferências. O número de pontos de passagem ou em que a locomotiva precisa parar e manobrar vai sair de 53 para 12. “E depois que o trem entrou no Cais Leste, tem zero interferência”, acrescenta. O diretor acredita que esse será o principal aspecto percebido pela população, com diminuição de 70% a 80% nos transtornos para os moradores do entorno ou mesmo para os motoristas.

Antecipação

Mesmo antes do Moegão, a Rumo tem feito obras para aumentar a eficiência. O trabalho de otimização no recebimento dos vagões, no KM 5, recebeu R$ 20 milhões em investimentos. A empresa está apostando em tecnologia, a partir de um sistema de gestão portuária, com leitura de tags e automatização, que deve ser entregue ainda neste ano. Outras mudanças operacionais permitiram que a média de 450 vagões que entram no porto por dia – considerando apenas granéis – passasse para 533, em 2020. “O Moegão gera a captura da oportunidade, mas o projeto não é só a moega em si, mas um conjunto funcionando bem”, afirma o diretor.

A combinação de vários fatores – como otimização na chegada, obras na Serra do Mar aliadas à compra de equipamentos mais adequados, e um acordo com a Ferroeste para a integração com as cargas da empresa pública – permitiram que a Rumo aumentasse a proporção do transporte ferroviário no porto de Paranaguá. Em anos recentes, a escala estava em 80 toneladas por caminhão para 20 por trem. Em 2020, a proporção foi de 75 para 25 (das 57 milhões de toneladas, 14 chegaram pela via férrea). Com a perspectiva de renovação do contrato de concessão da Malha Sul, a Rumo projeta que, em cinco anos, a partir do Moegão e de investimentos em equipamentos mais modernos para a descarga, será possível alcançar o patamar de metade das cargas, do porto de Paranaguá, serem transportadas por trem.

Perspectiva pública

O diretor-presidente da empresa pública Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia da Silva, se empolga quando fala do Moegão. “Nós teremos a condição de centralizar vários terminais em um único ponto de descarga, ou seja, além de agregarmos a capacidade, melhoramos essa logística de operação”, define. Além disso, vê uma perspectiva social. “Tem um segundo efeito, que também é importante, que é a diminuição do conflito porto cidade. Porque essas composições ferroviárias são ‘quebradas’ para manobrar em cada um desses terminais, interditam vias, causando transtorno na espera, que por vezes nos trava 15 minutos, até uma hora”, comenta.

“Para o porto crescer, obras precisam acontecer, especificamente o Moegão. Por mais que seja um projeto dedicado ao granel, haverá um efeito multiplicador nos outros segmentos, de forma brutal. Hoje, temos uma mão de chegada e uma mão de saída. Então os setores, por vezes, são afetados pela exploração de outro segmento. Vou te dar um exemplo, atrás da minha sala é o entroncamento de linha ferroviária. Não é raro olhar pela janela e enxergar uma composição ferroviária de contêineres esperando até uma hora uma manobra de uma operação de granel em outro terminal. Essas interferências causam um prejuízo operacional que a gente quer atacar. O Moegão não simplesmente representa uma melhor eficiência para os terminais de granel, mas para todos os segmentos”, declara Luiz Fernando.

A entrega do projeto executivo estava prevista para fevereiro, mas houve a necessidade de ajustes, “porque ele está sendo construído com todos os atores. Não é uma surpresa do porto, que de repente aparecerá, e os terminais, concessionárias e a empresa ferroviária vão ter que adaptar”, destaca. Segundo o diretor-presidente, foi necessário fazer adequações de traçado.

“É uma decisão difícil fixar uma estrutura num lugar em que nunca mais a gente vai poder passar nada. Então, resolvemos alinhar com o projeto da expansão do novo corredor, que está em fase de projeto executivo. Eles são independentes: um é para receber carga e o outro para expedir carga, mas há a necessidade de ter essa compatibilização mais refinada, para que um projeto não tirasse a capacidade do outro. Como o projeto do Moegão estava mais avançado, teve de esperar um pouquinho o avanço do projeto do novo corredor de exportação”, conta

Mais cargas

Hoje o corredor de exportação, considerando entregas por caminhão e trem, representa 20 milhões de toneladas do total movimentado pelo porto de Paranaguá. Quando estiver em execução, o Moegão, sozinho, terá capacidade para esse mesmo volume. “A gente está falando do lado leste do porto, o corredor de exportação atual, mas a nossa ideia é replicar esse modelo para o oeste, onde o porto no futuro, em breve, terá somente dois pontos de descarga ferroviária de granel”, projeta. Ao considerar a possiblidade de construção da nova Ferroeste, trazendo cargas do Mato Grosso do Sul, por exemplo, o porto passará a estar preparado para essas novas demandas.

O secretário estadual de Infraestrutura e Logística, Sandro Alex de Oliveira, também comentou a necessidade da obra. “Hoje temos uma limitação física e de modal ferroviário que nos impede de avançarmos”, resume. Para ele, o Moegão faz parte de um conjunto de intervenções relevantes para o desenvolvimento de toda a cadeia produtiva do Paraná. “Acreditamos que daqui cinco anos vamos ter um novo porto, algo muito à frente do que era dois anos atrás”, profetiza. A Portos do Paraná espera realizar a licitação do Moegão no início do segundo semestre de 2021. Depois vem a fase de recursos. A execução da obra deve durar de 18 a 24 meses e o custo máximo está estimado em R$ 500 milhões.

Intervenção na Serra do Mar permitiu aumento do transporte por trem

A Rumo conseguiu superar a barreira dos 20% de cargas transportadas por trem no porto de Paranaguá graças a uma série de fatores, mas o mais vistoso deles foi, com certeza, a obra em uma das principais curvas da estrada férrea histórica que corta a Serra do Mar. O raio pequeno impedia que as composições tivessem muitos vagões. Israel Castro e Souza, diretor da Execução Sul da Rumo, conta que, antes do ajuste, era possível descer com 48 vagões. Depois da ampliação do raio – que passou de 67 para 80 metros – cada composição passou a ter o limite máximo de 130 vagões.

Foram R$ 124 milhões em investimentos, que permitiram que a capacidade anual de transporte saísse de 13 milhões de toneladas para 30 milhões. Ou seja, hoje, em condições normais, seria possível transportar mais do que o dobro do que passava pela Serra – e também duplicar o que chega a Paranaguá por trem. “A gente precisava mostrar e confirmar que a ferrovia podia mudar de patamar”, comenta.

Para o diretor, trata-se de uma “convergência de oportunidades”, a partir de uma “capacidade adormecida, que permite o aumento da capacidade ferroviária, com eficiência. “Vínhamos crescendo 2% a 3% ao ano, com ajustes operacionais”, destaca. Em alguns meses de 2020, 30% do que chegou a Paranaguá veio por trem. Um número impensável há três anos. Para o diretor, um conjunto de obras disruptivas, como o Moegão, elevarão ainda mais a participação do modal ferroviário no Paraná.