“Vocês são a poeira do meu chinelo”, diz Zé da Ecler sobre críticas direcionadas à sua gestão


Por Cleverson Teixeira Publicado 23/02/2021 às 18h00 Atualizado 15/02/2024 às 20h00

O prefeito de Matinhos, José Carlos do Espírito Santo (Podemos), conhecido como Zé da Ecler, usou o seu programa “Café com Zé”, veiculado pela internet, para rebater críticas que vem recebendo durante a sua gestão, a qual completa dois meses no fim de fevereiro. Em transmissão feita pelo Facebook, no dia 16 deste mês, ele direcionou o seu discurso, de quase 17 minutos, a um apoiador das administrações anteriores, além de mencionar inúmeras vezes as atitudes tomadas pelos ex-prefeitos do município durante os seus mandatos.

O atual prefeito iniciou o programa matinal falando que a conversa seria breve, ironizando quem não concorda com o seu trabalho. O político, que foi eleito com 42,89%, totalizando 7.987 votos, não citou nomes durante o ao vivo. “A conversa vai ser bem curtinha, sabe por quê? Porque estou indo a Curitiba, para ver tantas e tantas coisas. Para você que critica o Zé da Ecler, tu podes ter até alguns pontos de verdade nas suas críticas destrutivas, pois você ficou 12 anos apoiando uma administração pífia, porca, suja, sem nenhum tipo de comprometimento com a sociedade. Você que apoia, você que está criticando, você não tem noção nenhuma de onde você está”, esbravejou.

Vale salientar que os 12 anos mencionados por Zé da Ecler se referem às gestões dos ex-prefeitos Eduardo Antonio Dalmora, o qual geriu o município em dois mandatos, de 2009 a 2016, e Ruy Hauer Reichert, ambos do PL, que esteve como gestor de 2017 a 2020. Diante disso, ele aproveitou para mencionar que o seu tempo de cadeira no Executivo ainda não é suficiente para o recebimento de críticas. “45 dias não é tempo hábil, nem seis meses é, para criticar algo que você estava lá para ajudar a estragar. Não me venha com conversinha que o Zé da Ecler não sai na rua. É você que não me vê. Eu tenho que ir a Curitiba buscar recurso. Arrumar o que vocês e os incompetentes estragaram. E talvez você se enquadre nisso. Lave a sua boca para falar de mim, tá bom? Olhe o seu passado. Não precisa nem ir muito para trás. Você só vai encontrar sujeira por onde passar”, afirmou.

Zé chama opositores de lixo

Diante das reclamações vindas da população matinhense com relação à pavimentação, Zé da Ecler reforça que o problema está ligado aos últimos anos. Ele estendeu a sua fala dizendo que os materiais utilizados para a manutenção das vias são de qualidade inferior. Para o gestor, as administrações passadas são sinônimos de lixo. “Por que as ruas estão esburacadas? Foi o Zé da Ecler que não fez? Não, foram vocês, nos 12 anos. Para quem está criticando, escrevendo ‘porcariazinha’, ainda bem que vocês são minúsculos e lixos. ‘Lixaiadinha’. Vocês são a poeira do meu chinelo. Sabiam disso? Tanto é que ficaram lá para trás. E nunca mais voltarão. Acham que eu não sei que as ruas estão esburacadas? Não deu para arrumar o mínimo das ruas que vocês estragaram, inclusive, jogando esse ‘asfaltozinho’ de última categoria, sem nenhum tipo de planejamento. Tudo para enganar o povo, seus mentirosos”, complementou.

Antes de encerrar o programa, o prefeito de Matinhos manifestou outras críticas relacionadas aos trabalhos anteriores. Ele falou até em assumir algumas secretarias, concordando com um dos apontamentos feito pela oposição. “Vocês aí, dos 12 anos, conhecem o Centro Comunitário Profissionalizante de Matinhos (CCP)? Conhecem, sim, porque vocês destruíram o Centro do Tabuleiro. Vão lá ver os mais de 30 ônibus que deixaram apodrecendo, a céu aberto. Vejam quantos tratores, maquinários, caminhões e carros estão abandonados. Vão nos colégios, para ver se acham uma sala de aula para o teu filho estudar. Se é que tu tens filho. Teve capacidade para um? Tem algumas secretarias que eu acho que vou ter que assumir. Eu vejo que não anda. Você está certo nisso. Mas vão andar, nem que eu tenha que assumi-las. Quem não tem cachorro, caça com gato”, verbalizou.

Recado aos desafetos

Por fim, Zé deixou um recado aos seus desafetos. Ele falou em dívidas, processos e até mesmo em cadeia. Ainda de acordo com Ecler, quem não estiver contente, que vá realizar os trabalhos no lugar dos servidores. “Ah, está faltando isso?  Pegue uma enxada. Falta médico? Vá lá atender. Tem lixo na rua? Pegue um carrinho de mão e vá catar. Vocês estão falando da Procuradoria? Deixaram mais de 400 mil processos e mais de R$10 milhões escondidos para o novo prefeito pagar. Pensaram que vocês iam estar aqui, não é verdade? Se enganaram, e muito. Nós vamos instituir uma auditoria e descobrir risco por risco, item por item, do que essa cambada fez de mau para o povo de Matinhos. Todos vão responder por isso. E não vai pensar que na penitenciária de Piraquara não tem vaga. Tem, sim. Não está tão lotada. Está menos cheia que o hospital que deixaram fechar”, finalizou.

Diante dessas afirmações, o JB Litoral entrou em contato com o prefeito de Matinhos. Como não foi atendido via ligação, o Departamento de Jornalismo enviou uma mensagem para o gestor, o qual não respondeu até o fechamento desta reportagem.

O que dizem os ex-prefeitos de Matinhos

Dos representantes das duas gestões, apenas Ruy Hauer se manifestou. Em entrevista ao JB, o ex-prefeito se defendeu das acusações. Segundo Reichert, nada do que foi divulgado por Zé da Ecler procede. “Eu deixei a cidade com R$ 38 milhões. Ficaram, também, três caminhões compactadores de lixo e dois carros 0 km. Fizemos um trabalho extremamente sério. Não divulguei as ações que fiz porque o gestor não tem que divulgar, ele tem que trabalhar.  Fiz a transição da melhor forma possível. Passamos todos os dados para eles. Tanto que o Ministério Público fez uma recomendação. Tudo foi feito como deveria ter sido feito”, disse.

Ele também confrontou as informações sobre as escolas, o CCP, hospital e os veículos que, conforme Zé da Ecler, estariam abandonados. “Nas escolas tem tudo. Nós reformamos. Quando saí, já tinha uma licitação pronta, só que não deu tempo de fazer o pastilhamento em todas as escolas. Foi uma licitação de quase R$ 600 mil. O CCP, infelizmente, não deu para fazer, mas a empresa vai ter que dar seguimento. É uma obra que já está paga. Nenhum hospital foi fechado. Nós inauguramos a UPA, abrimos a Unidade de Saúde do Sertãozinho e reformamos a maternidade. Sobre os ônibus, eles também foram reformados. Deixei todos funcionando e comprei três novos que ainda não chegaram.  Mas o melhor é dar tempo ao tempo. Torço para que ele faça um excelente trabalho”, concluiu o ex-prefeito.