O barreado dos Wicthoffet: uma receita de família com quase 50 anos de história
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Esta é a história de uma receita que já dura 50 anos na família Wicthoffet, que adaptou o tradicional barreado de Morretes, prato típico do Litoral desde o século XVIII. A receita começou com dona Nilva Maria Wicthoffet, de 85 anos.
A senhora, natural do município de Rio Negro, rodou o Sul e Sudeste brasileiro e, por capricho do destino e uma pontinha de influência do marido, Luizito Wicthoffet, acabou parando em Morretes. Posteriormente, ele acabou se tornando vereador da cidade
Quando a família chegou no município, em 1974, o prato já era conhecido na região, mas os cozinheiros guardavam o segredo da receita para os íntimos. Naquela época, havia apenas três restaurantes: o Gatão, fundado pelos Wicthoffet em 1974, na Rua XV, o Madalosso e o Bar do João Felipe.
“Foi por acaso que um senhor me ensinou a receita, assim, por cima. Ele não queria me dar todos os segredos do barreado, então um antigo conhecido meu me ensinou a receita certa”, lembra.
A receita “certa” levava massa de tomate, mas Dona Nilva achava que isso fazia o prato fermentar demais devido ao excesso de temperos, então resolveu adaptar com menos ingredientes: usava apenas cebolinha, cebola e alguns outros, mas nunca alho ou tomate, que iam no prato original. Foi ali que surgiu o barreado dos Wicthoffet, que podia ser congelado devido à mudança na receita.
Além de muito elogiado por parentes e amigos, ele evitava o desperdício de dezenas de quilos de carne por semana. “Quando comecei a preparar barreado em maior quantidade para congelar, só usava esses ingredientes: paleta, lombo, músculo, cominho, cebola, louro e pimenta. Misturava tudo, cortava o toucinho em pedaços pequenos e misturava com a carne crua, sem mexer. Depois, adicionava água e levava ao fogo por até 10h para dar o ponto”, explica Nilva.
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Carro-chefe da casa
Nos 17 anos de história do restaurante, o barreado era o carro-chefe nas sextas-feiras e finais de semana. Seu Luizito era um dos fãs da receita, e fazia questão de prepará-la para os visitantes. “Meu marido era um apaixonado por preparar esse prato aos clientes do restaurante, e minhas filhas também adoravam“, diz a cozinheira.
Para dar conta do serviço, havia uma equipe de oito funcionários e Dona Nilva coordenava a preparação de diversos pratos, incluindo saladas e sopas. Eventualmente, eles contratavam ajuda extra, especialmente quando grupos de turistas apareciam para comer o famoso barreado.
“Alguns preferiam comer com arroz, outros gostavam do caldo, e outros pediam pirão. Tentávamos satisfazer a todos, mas nós, particularmente, gostamos do prato com banana caturra à milanesa frita, salada de cebola e alface e pirão“, afirma.
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Apesar do sucesso do estabelecimento, com o avançar da idade, Dona Nilva não conseguia mais manter o ritmo na cozinha, e resolveu se mudar para Angra dos Reis (RJ), em 1989, embarcando com o marido e a filha Luciane em busca de uma vida mais próspera no município fluminense.
Com a mudança, ela deixou o restaurante sob responsabilidade da filha Liomara, mas, com o estabelecimento definitivo da família no Rio de Janeiro, o Gatão acabou fechando as portas no início dos anos 90. Hoje em dia, o restaurante não existe mais, e o antigo prédio da Rua XV se encontra em ruínas, esperando pela construção de uma loja que abrigará um clube no andar de cima.
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De mãe para filha
Apesar da perda do espaço físico, que marcou a história da família, a tradição de cozinhar para amigos e familiares continuou com a professora aposentada de Filosofia e História, a artesã nas horas vagas, Luiza Maria Wicthoffet Machado, de 59 anos. Quando os pais se mudaram para o Rio de Janeiro, ela ficou em Morretes por mais quatro anos, depois também se mudou para Angra dos Reis, onde conheceu o marido Marco Antônio Mendes Machado e casou-se.
Após uma década no Rio, a família voltou para Morretes, trazendo o filho Guilherme, atual secretário de Infraestrutura do município, que na época tinha apenas um ano. “Meu marido tinha o sonho de criar nossos filhos aqui, por isso voltamos. Mas eu também sempre fui apaixonada por Morretes”, conta.
Desde então, Luiza, junto ao marido e os filhos, passou a morar no bairro Esperança, área rural da cidade, onde continua com a tradição da receita. Hoje, é o filho Guilherme quem mais se envolve na preparação e deve perpetuar o legado dos Wicthoffet.
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“O barreado é uma tradição que temos orgulho de manter viva, e esperamos que as futuras gerações de nossa família continuem a prepará-lo com dedicação e amor, seguindo as técnicas que passamos adiante ao longo desses anos. Meu desejo é que os turistas que experimentam o barreado tenham a chance de provar a versão autêntica do prato para que possam apreciar o sabor único que só um prato bem-feito carrega”, conclui a cozinheira.