Audiência pública para debater uso medicinal da Cannabis repercute em Paranaguá


Por Publicado 15/09/2021 às 08h11 Atualizado 16/02/2024 às 13h24

No início de setembro, uma audiência pública discutiu o uso da planta cânhamo – Cannabis sativa subespécie ruderalis – para fins medicinais em Paranaguá. O assunto, que é discutido em diversas esferas do poder público, inclusive federal, teve como participantes o vereador Thiago Kutz (PP), o advogado Patrick Medeiros, o médico Renan Abdalla, os pacientes que necessitam de medicamentos com base no canabidiol (CBD), Rodrigo Fehmberger e Felipe Xavier, e também Linda Iancheski, que tem uma filha que depende do medicamento à base do CBD, mas que não consegue o produto devido ao valor.

A reunião durou 1h30m e buscou ser didática, explicando desde o conceito básico do CBD até qual a melhor forma para que haja a distribuição pelo Sistema Único de Saúde.

O médico Renan Abdalla ressaltou o conceito histórico da planta Cannabis e como ela já era vista como uma planta com benefícios para a saúde, mas que em 1940 acabou sendo marginalizada até 1960, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) colocou a planta em uma lista de drogas junto com cocaína, ecstasy e LCD, por exemplo. “Essa classificação da ONU foi uma negligência muito grande. Hoje nós sabemos que a Cannabis é uma planta frutífera, e o medicamento nós trazemos do fruto da fêmea da Cannabis”, explicou.

Vereador critica condução do uso no país

O vereador Thiago Kutz aproveitou as perguntas dos usuários das redes sociais para fazer uma crítica à forma com que o país conduz a discussão sobre o tema. “Lá fora eles estão discutindo para o que usar, e aqui discutimos se deve usar”, comentou. Os participantes concordaram com a análise e foram tecendo comentários sobre a importância de entender, de fato, os benefícios da legalização e que tipo de problemas pode ser tratado, como, por exemplo, os estudos que comprovam a eficácia nos tratamentos em pessoas com autismo, na esclerose múltipla, Alzheimer, Parkinson, além de utilizado como paliativo ao câncer.

Com forte interação nas redes, ao longo do debate, diversos comentários foram surgindo e os participantes respondiam à medida em que a pauta era aprofundada. Entre as reações que mais repercutiram, pais relataram como seus filhos, com problemas como microcefalia e autismo, tiveram melhoras comportamentais após iniciar tratamento à base de canabidiol.

Ao final, os participantes ressaltaram a importância de continuar discutindo o tema e de levar mais informações a pessoas que ainda não entenderam a demanda. Além disso, os seis interlocutores concordaram que se houver maior atenção às prerrogativas da planta Cannabis, mais pessoas poderiam se beneficiar e ter uma vida mais digna.

Participante da audiência tratou problemas com CBD
Com resultado terapêutico efetivo, o medicamento pode aliviar sintomas de até 30 tipos de doenças / Imagem: Reprodução

Felipe Xavier foi um dos interlocutores da reunião liderada pelo vereador Thiago Kutz e conversou exclusivamente com o JB Litoral para contar um pouco de sua experiência com medicamentos à base do canabidiol.

Segundo Felipe, alguns de seus problemas como depressão e ansiedade foram tratados por muito tempo com alguns medicamentos diferentes, mas sem sucesso. “Fiz tratamento com alguns remédios e, apesar de existir a eficácia, eles causam dependência e você acaba aumentando drasticamente o uso de acordo com o passar do tempo. Em 2020, comecei a trabalhar com o CBD. Acabei me interessando pelo assunto e, a partir disso, intensifiquei meus estudos na área. Ainda assim, devido a uma questão cultural e ignorância, tinha muito preconceito devido a ser um medicamento à base da Cannabis”, comenta.

Como os outros medicamentos estão com doses elevadas, a vida social e o rendimento diário de Felipe já não eram os mesmos. O jovem resolveu então dar uma chance ao CBD, que teve um resultado quase que imediato. “Infelizmente, todo o processo de aquisição, apesar de não ser burocrático, é um pouco demorado, porque depende de análise da Anvisa, então desde a consulta até o recebimento do CBD leva cerca de 40 a 50 dias. Por incrível que pareça, na primeira noite do tratamento com CBD eu dormi como nunca havia dormido, com uma qualidade incrível e sem ficar me batendo”, ressalta.

O defensor da legalização dos medicamentos também faz uma análise sobre a questão financeira, um dos grandes entraves do canabidiol no Brasil, já que hoje a maior dificuldade dos pacientes que buscam o tratamento está no valor, por isso, algumas pessoas acabam optando por produtos importados com fabricação no Canadá, por exemplo. O jovem conclui ressaltando que os tratamentos seguem crescendo no mundo conforme o preconceito e a ignorância vão se mostrando mais prejudiciais do que a liberação de novos modelos de tratamentos, já que um levantamento feito pela Organização Mundial de Saúde (OMS) mostra que em 2020 eram cerca de 2 milhões de autistas em todo o Brasil. “Temos países que tratam o canabidiol como um produto fitoterápico, como os Estados Unidos que, atualmente, na sua maioria dos estados, tem o canabidiol de livre acesso. Todos os produtos são seguros, sem efeito psicoativo algum. Você entra nessas lojas, pega seu produto paga e vai embora sem maiores problemas”, narra o homem de 29 anos, que garante ter mais qualidade de vida após a inclusão do CBD no seu tratamento de saúde